O dia é de triteza. Vejo todo vestindo o luto. Olhos enchados de tanto chorar. A chuva me revela algo. Com a morte de Jorge, aquela chuva era sinal forte de que Deus também chorava.
Não me incriminaram pela morte dele, por saber que não fui eu. Jessica e Diego não me olham nos olhos. Abaixam a cabeça quando olho pra eles. Saem de perto de mim quando chego. Sarah e Júnior só dizem " Oi " e acenam de longe. Sônia e Jhon se aproximam pra me abraçar e vão embora. Samuel se aproxima. Já esperava maldade se aproximando. Então pra minha surpresa. Ele me abraça.
- Que o calor desse abraço represente o calor. - Ele se aproxima de minha orelha e sussurra - o mesmo calor que o inferno manda você.
Não posso surtar ali. Não posso empurrar ele no meio de um enterro. Não posso mostrar ódio. Sei que ele está sendo usado.
- Que esse mesmo calor que está entre nós se espalhe por toda a sua família e que os filhos dos seus filhos sinta a presença do mal. A sua presença. - Samuel se cala. O sorriso em sua boca agora se tranforma em lágrimas nos seus olhos.
- Eu estava brincando com você! - ele.diz saindo de perto de mim.
O vejo partir. E logo vejo duas mulheres comentando uma com a outra e olhando pra mim. Fixo meus olhos nelas e elas mudam os olhos pra outro lado. Olho em volta. Percebo que há pessoas me olhando quando não estou vendo. Olhos violetas estão espalhados pelo cemitério.
- É raro tantos anjos se encontrarem. E quando se encontram - ele sussurra - parecem um bando de fofoqueiras de igreja.
- O que faz aqui? - pergunto
- Precisava saber como você está - Ralph diz ao meu lado segurando minha mão - fiquei sabendo de tudo o que aconteceu. Inclusive da sua mãe morta pelo André.
- Como sabe? - pergunto a ele.
Ralph sorri e vira de costas andando pra longe da multidão. Olho em volta e vejo Jessica me olhar. Seus olhos me dão medo. Então ela pisca e o trovão me assusta.
- Por que está todo mundo na chuva? Aposentaram o Guarda-chuvas? - pergunta uma garota loira.
- Não sei não - respondo
- Odeio essas paradas de enterro e defunto - ela ae cobre com a blusa - é tão triste. E odeio tristezas. Gosto de ser alto astral. - Ela pula e faz "uuu"
- Você é como eles? - pergunto
- Como assim?
- Você é um Anjo - afirmo a ela
- Olha. Se for me passar essa cantada de ser Anjo e de se machucar quando caiu do céu. É melhor parar. Senão te dou um chuto nas bolas. - Todos olham pra ela. - Que é? Não me viram não? Olhem pra frente! O defunto é aquele no caixão. Não eu!
- Lívia cala a boca! - diz Jhon se aproximando por trás dela. - Quer causar de novo?
- Qualé Jhonatan me erra - ela o empurra - Vai dizer que você virou Anjinho? Virou santo. Mas todos sabem do seu passado. Todoa sabem da temporada que você passou ajudando Lucifer a encontrar o Portal.
- Cale a boca Lívia - ele grita.
- Ficou nervoso? Só disse a verdade. Do nada você muda pro lado dos "branquinhos". - Ela segura no braço dele - Será mesmo que você é puro e santificado? Será mesmo que você é bom? - ela sussurra - Pra mim você continua sendo o mesmo demônio de antes e só está se preparando pra aprontar.
Ela o solta e vai embora. Todos olham pra Jhon. Ele fixa o olho em mim. Os olhos violeta de Jhon se transformam em Vermelhos e ele fecha os olhos
- Cuide de sua vida. - pede pra mim e vira as costas.
Olho pra todos. Os olhos deles não estão mais em mim. Estão em Jessica que discursa sobre o pai. Ela chora e diz sobre a falta que ele vai fazer. E que não vai conseguir viver sem ele. Lembro de Ralph. Olho pra tràs e vejo ele agaichado sobre um tumulo. Terno azul escuro. Os olhos violeta brilhando.
- É! Ele era um demônio! - ele diz sorrindo
- Não era isso que eu ia perguntar.
- Sim! Ela é um demônio. - Ele diz - Deus a mandou pro inferno. Mas é tão... - ele para e parece procurar a palavra certa - tão.. tão Lívia. Que nem Lucifer a quer por perto.
- Ela irritou Lucifer? - pergunto sorri.do daquela informação
- Sim. Dizem que ele amaldiçoou Deus e o xingou de " Diabo" - Ralph sorria enquanto contava. - Ele nomeou Deus com seu próprio nome - Ralph olha de volta pro túmulo.
- Guihermo Giuvitti Simões - leio - 1876 e morreu em 1943. - me aproximo de Ralph. Ele chora. - Era seu pai!
- Robert matou ele. Robert matou minha mãe. Robert matou meus dois irmãos. Fiquei sozinho no mundo.Então Jorge me acolheu. - Ele limpa os olhos.
- Você não pode sentir ódio. Como você faz pra não " pecar "? - pergunto
- Nada. Só não penso muito nisso. - Ele vira pra mim - gosto de lembrar dos momentos que eu tinha com eles. Nos horários em que estava jantando no meio da floresta ao lado de casa
- Jantar na floresta? - pergunto surpreso
- Sim. É tão bom. - Ele para. - Vem comigo. - Ele pega minha mão e me puxa
- Onde? - pergunto a ele.
- Hoje é meu último dia na terra. Tenho que terminar uma coisa que.comecei.
- O que?
Ralph me puxa pra trás de uma árvore enorme e larga. Me empurra sobre ela. Ele se aproxima de mim. Sinto seu calor. Ele segura meu queixo. Seus lábios tocam os meus. Sinto o gosto de sua boca. Sinto suas mãos em minha perna. A chuva para misteriosamente. Tudo se escuresse.
- Que lindo! Que gay! Que horrivel esse beijo. - Robert diz.
Ralph olha pra ele.
- Seu...
- Ralph! Não vale a pena. - Seguro ele pra não avançar em Robert. - O que você quer?
- Nada. Só queria terminar com essa cena de beijo de amor entre Anjo e Humano. - Ele olha além de mim. - Olha quem está ali!
Camille está deitada nua e toda machucada.
- Camille! - corro até ela. Seu rosto está enchado e cheil de hematomas. - Camille! - ela não responde.
Ralph tira o terno e cobre a parte de cima de seu corpo.
- Bom vou deixar vocês quatro a sós. -Diz Robert saindo da frente de Pedro.
- Seu Filho da puta! Olha o que você fez com a menina.
- Fiz e faço de novo - ele caminha em.minha direção - e faço muitl mais gostoso. Essa vadia merecia apanhar. Parecia uma égua mal domada. Mais agora ela obedece.
- Você é louco? Como pode fazer isso a outro ser humano - diz Ralph
- Deixa pra lá Ralph. Me ajuda a tirar ela daqui. - Peço a ele.
Ralph abraça Camille com um braço e coloca outro braço em minha cintura.
- Vamos nos encontrar outra vez - digo a Pedro - E vai ser sua última vez.
A escuridão aparece. Em seguida a luz do meu quarto aparece.
- Mãe! Corre aqui! - grito da porta.
- Preciso pegar algumas coisas na loja fique aqui eu ja volto - Ralph me da um beijo próximo da boca e desaparece.Segundos antes que minha mãe entra e se assusta com a cena.
- Precisamos de um médico. - Ela diz
- Não! Preciso que você me ajude a limpar ela.
- Ela precisa de cuidados médicos. - Ela diz novamente - minha filha que te fez isso?
- Pedro. Aquele lixo. - Respondo.
- E onde ele está? - ela pergunta
- Em breve vai estar morto.
- Não faça besteira Henry. - Ela pede.
Na porta do quarto aparece Ralph e Sônia.
- Aqui está a médica e os remédios. - Ele diz - ola sennhora Sandra. - Ralph para na porta e Sônia se aproxima de Camille.
- Tadinha dela. - Sônia passa a mão em seus cabelos. - Henry sua mãe precisa saber de tudo.
- Saber o que? - minha mãe pergunta
- Disso - Ralph está na porta
São Brancas. Largas. Fazem um vento no quarto. O cheiro de rosas. O cheiro de Paz que eu sentia. Agora sei de onde vinham. Era de suas asas. Ele sorri. Minha mãe se aproxima dele.
- Você existe. Eu li no caderno do Raul! - ela diz - vocês existem. - Ela.começa a rir. Seus olhos se fecham e então ela cai.
Ralph pega minha mãe no colo. Fecha as asas. Coloca minha mãe na cama dela. Sônia pede para deixar ela.e Camille sozinhas. Saio do quarto e desço com Ralph.
- Hoje o dia começou triste. Ficou feliz. Ficou sexy. Ficou triste de novo - digo descendo as escadas. Ralpha para no degrau debaixo e vira pra mim
- Quer deixar ele sexy e feliz de novo? - ele pergunta
- Só feliz! - digo
- EU AMO VOCÊ!
A tristeza toma conta de mim. As luzes se apagam e acendem. A casa treme. A escada racha. Os olhos dele não são mais violeta. Nem vermelhos.
Seus olhos são azuis. Sua pele branca e pálida. Seus lábios são vermelhos. Seu cabelo preto. Seu corpo magrelo, agora ganha formato de acadêmico.
- Por que fez isso? - pergunto a ele
- Renunciei minha graça.
- Pra que Ralph? Por que você fez isso? - pergunto decepcionado.
- Por que não quero subir pro céu e nunca mais ver você. Não quero ficar em um lugar onde você não esteja. Não quero pertencer à um mundo no qual você não está. Não posso viver sem ter você comigo. E nem consigo ficar sem tocar você. - Ralph mostrou ser totalmente diferente - Henry eu não posso te dar riqueza, luxo e prazeres materiais. - Ele segura minha mão - mas prometo.a você, que todos os momentos da sua.vida. Sendo eles Bons ou Ruins. Quero passar eles junto com você te dando força - sussurrando - beijos - sorrindo - ah fala logo alguma coisa.to ficando sem idéia
- Não sei o que dizer - desco as escadas. - Eu não sou assim. Nunca fiquei com homens. E o primeiro que fico é um Anjo. Não sei o que vão dizer ou pensar de mim.
- Por mim tudo bem. Você e Ralph são fofos juntos. - Diz Camille na ponta da escada
Corro até ela. Quando chego perto dela. A abraço. Choro de emoção, poder tocar, abraçar, sentir ela, beijar ela, bater nela.
- Sua filha da mãe. Esqueça aquele merda.
- Pode deixar. - Ela diz - Agora vejo o que você vê.
- Expliquei tudo a ela enquanto vocês dois se entendiam aqui embaixo. - Sônia olha pra baixo e procura Ralph.
Olho pra sala. Ralph não está.
- Seu último momento como anjo. Ele vai pecar! - diz Sônia.
- Pecar? - pergunta Camille.
- Pedro e Robert. Precisamos impedir que ele mate os dois. - Digo a Sônia.
Sônia me segura pela mão.
- Vamos entrar em uma batalha. E pode ser que muitos não consiga sair. Mas lembre de uma coisa. A guerra vai acabar. Mas os demônios que controlam o Robert, começaram a controlar Pedro e André. Ralph está em processo de transformação. Algumas pessoas vão surgir em seu caminho e mudar sua vida. Virar ela de cabeça pra baixo.
- Não to entendendo nada Sônia - digo a ela.
- Eu quero te prevenir do que está chegando.
- O que está chegando? - pergunto
- O mal!