NÓS | Jikook [CONCLUÍDA] (BET...

De SaikoMente

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[Concluida] No futuro os sentimentos foram exterminados após a extinção quase completa da humanidade. Sem Toq... Mais

PRÓLOGO (parte 1)
Ele (Prólogo parte 3)
Sono
Defeito
Incômodo
Aqui
Terno
Amigo
Abraço
Nublado
Gritos
TRAILER
Singular
Genuíno
Beijo
Tempestade
Luz
Distração
Não
Você
Eles
Vazio - Final
NÓS - Epílogo

Tremor (Prólogo parte 2)

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De SaikoMente


O despertador em meu pulso toca, são cinco da manhã. Abro os olhos, olhando o janelão lá fora.

É estranho, ás vezes espero encontrar aquelas imagens, porque costumo ter sonhos. Não são diários, ou semanais, são como eventos importantes, quase raros. O laboratório diz que é normal, são reflexos de ser um Pintor, ainda carrego boa parte das características ancestrais por conta disso. Pelo menos uma parte maior que os demais.

Coloco os pés para fora da cama, no tapete cinza, me levantando de vez e indo ao banheiro. Em minutos me lavo, me troco, e começo a comer. Certamente a luz deveria atravessar as janelas e aquecer o quarto, mas não é tão útil assim, já que o cômodo possui um climatizador automático.

No Olho as coisas existem por terem alguma utilidade, não para trazer o que chamavam de sensações. Existem porque precisam existir. Tudo é assim, pensando bem.

Vejo a estante, já li todos aqueles livros, e ainda nem é meio de época. Preciso de livros novos, acabo lendo um por dia, enquanto estou no apartamento. Nunca demorei uma hora para banhar, me trocar e comer, além do que, hoje não estou com fome, de novo. Não tenho muito com o que me ocupar. Não tenho uma Televisão.

O muro branco é que vejo da janela, além das árvores de médio porte, padrão em todo o território. Em breve será necessário monitorar o muro, os tremores ás vezes causam problemas.

É o Dia Quatro. Amanhã vou estar disposto o suficiente? Preciso carregar os tijolos. Ás vezes penso demais e fico cansado. Então os pensamentos saem um pouco de órbita.

Tudo possui uma linha, organização, cronograma. E é perfeito assim. Mas me sinto cansado, deveria dormir mais? Não posso, de qualquer forma. São quinze para as seis. O tom cinza claro indica o início do dia. É hora de ir trabalhar. Contagem Um. Minha porta. Meu crachá já está aceso em meu peito. Contagem Dois, a saída do prédio.

_Bom dia.

_Como vai? _É Sunhe. Ela ajuda na limpeza dos ambientes.

_Vou bem. _A resposta automática surge coordenando minha língua para se fazer existir. Eu repito todos os dias, então não preciso pensar para responder. A Espécie é bem educada, porque só assim conseguimos ouvir o Olho e entrar em sintonia, ainda assim mantendo distância do espaço pessoal do outro. Linha reta, curvas perfeitas até chegar ao meu destino. Sem tropeços, esbarrões jamais acontecem. Ordem absoluta.

Porque é natural agora.

Seguro um bocejo, ao chegar ao prédio onde trabalho. Qualquer sinal anormal como esse poderia ser razão para me enviar á checagem. Onde eu seria diagnosticado, medicado até melhorar.

Contagem Três. Pessoas de preto não têm cor, elas não orbitam na mesma linha. Estão deixando seus trabalhos agora. Ninguém pergunta, ninguém comenta. Porque não há com quem comentar.

_Bom dia, Taehyung.

_Bom dia Jungkook.

Entro na sala, observando a tela antes de ligar.

_Dormiu bem? _franzi o cenho ao ouvir essa pergunta. Não era típica. Na realidade, eu nunca tinha ouvido algo assim, falado com essas palavras. Por mais curtas que fosse, era diferente das perguntas generalizadas e respostas mais generalizadas ainda. Há previsão de tremores.

A Espécie não é como os robôs. Não têm nada programado, verdadeiramente, porque ainda assim, é formada por Homo sapiens. Mas certas coisas funcionam como se fossem. A pergunta não é essa.

_Vou bem. _respondo, momentaneamente confuso. Ligo a tela, mas a pergunta dele ainda me incomoda. Talvez ele esteja com problemas no trato respiratório, o tom não me pareceu o de sempre.

Deve ser o cansaço, está me alterando.

_Me parece cansado.

_Vou bem. _asseguro-lhe, me voltando para a tela, agora ligada. Ele sempre trabalhou ao meu lado? Ou era Namjoon?

Namjoon está a minha frente, de repente não tenho certeza de que sempre foi assim.

A tela carregada mostra a palheta de cores. Seguro firme no metal, buscando apoio para tentar focar. Aperto os dedos. Sem bocejos. Posso esperar até a noite para dormir. Pisco algumas vezes, afastando qualquer pensamento, já que precisava focar para construir os arquivos.

Olho de soslaio para Taehyung, por apenas um instante. Os diálogos em geral eram simples, curtos e francos. Ou pelo menos pareciam ser. As pessoas tinham linhas curvas nos lábios, enquanto conversavam educadamente. Sempre cumprimentos, informações vazias. Vou bem. Adoeci, mas melhorei. Pergunta, resposta, sem réplica. Talvez todos fossem mesmo o Olho.

Vigiando todos.

Pego o pincel, começando o desenho. Há tanto a ser criado, aperfeiçoado e mudado... Não se pode parar, principalmente pelos pintores serem tão poucos. Há um mundo vazio lá fora, para ser organizado.

Eu quero ver cores nesse mundo.

Uma vez que começo, o tempo parece correr. Num instante o sinal baixo se faz ser ouvido, e me encaminho para o refeitório. Bebida essencial. Barra essencial. Hoje a barra tem o mesmo gosto dos tijolos de amanhã. Não experimentei os tijolos, mas é. O cansaço. Não sei se quero tudo, mas não importa muito. Porque é a rotina.

Terminando a refeição com algum esforço, deixo o local. Alguns minutos para retornar ao trabalho.

Caminho devagar de volta ao andar do prédio. Tevês ao longo dos corredores estão ligadas. Passam mensagens sobre o Olho, propagandas sobre o território e seu funcionamento. Vislumbres do mundo futuro. Paro ao sentir a cor que pintei dias atrás. Laranja. O céu é laranja.

Indivíduos da Espécie poderiam passar horas vendo imagens como essas. Porque eram hipnotizantes. Eram o acesso inexistente á memória que possuíam.

Por isso a maioria optava por ter uma tevê.

Abro a tela. Ainda há muito que fazer nesse ambiente. São árvores totalmente diferentes de todas as outras, com certeza me levará semanas a fio.

Continuo meu trabalho, tentando firmar as têmporas. Fim do expediente.

Me encaminho para sair da sala, entrando na fila, havia distância entre um indivíduo e outro, ninguém tinha pressa. Eu não leria hoje.

Preciso dormir. Abrir os olhos apenas para a Mensagem. E dormir novamente.

Ler demais talvez esteja me atrapalhando em meu desempenho. Diminuir a leitura é a resposta. Vou pelo corredor, passando antes pelo banheiro. Brancos, com cabines pequenas. Portas cinzas. Espelho retangular, cumprido sem detalhes. Azulejo branco. Piso branco. Eu branco. Estou pálido.

Lavo o rosto, ficando um pouco ali. Só precisaria me apressar na volta, para cruzar o caminho com uma pequena folga de tempo, como sempre.

Seco as mãos, saindo do lavabo. Eles passam. São invisíveis, porque preto não é cor no sistema. Roupas pretas. Um parado.

Passo por ele, mas paro um pouco á frente, sem me virar de volta para a sua figura. Ele está olhando a tela laranja. Me levou mais de uma época para concluir.

Estava na Televisão.

Me viro devagar, para verificar sua aparência. Mas ele já seguiu seu caminho. E eu sigo então o meu, contrário.

Cansaço.

Contagem Três. Aperto o passo. Contagem Dois. Boa noite, Sunhe. Contagem Um. Passo pela minha porta. Deixo os sapatos. Apago as luzes. Me deito.

Estou de branco, indo dormir com a junção de todas as cores.

Eu sou o Olho, e hoje me permito isso.

Eu consigo ouvir a risada, e ela me fez saber em todos os sentidos o que a palavra significa. Porque chega a meus ouvidos, eu procuro sua origem com os olhos, ao me aproximar consigo sentir seu cheiro. É semelhante ao da grama, sob nossos pés. Meus poros estão arrepiados. E algo parecido com o sorriso estampado em seu rosto teima em surgir em meus lábios também. A cor de sua pele. Suas formas. Se eu tocar... Eu poderia memorizar a textura.

Sem toques. O Toque do despertador.

Abro os olhos vendo o janelão de vidro. Aberto, sem privacidade. Talvez drones passem durante a noite para verificar A Espécie. Nunca fiquei acordado para saber. Mas talvez passem.

Foi um sonho. Mas um simples sonho me fez acordar vazio.

Inspiro profundamente, me levanto. O tapete cinza sob meus pés. Lavo o rosto, me encaro no espelho. O som da risada, eu queria gravar em minha mente e repetir o dia inteiro. Seleciono escova de dentes e lavo meu rosto novamente.

O sorriso.

Banho. A água está mais fria do que estaria geralmente. Atenção! Há previsão de tremores. Minha mão está tremendo também, há previsão de tremores para as minhas mãos? Encosto a cabeça na parede.

Eu estou exausto.

Preciso carregar os tijolos no caminho de volta.

Contagem Três?

Não me lembro de responder nenhum Bom dia. Abro a tela. Árvores de vários tipos, vai me levar um bom tempo.

_Bom dia, Jungkook.

É ele. Taehyung.

_Bom dia. _Não olho em seu rosto, Namjoon se vira para trás, mas retorna a seu serviço.

_Você é o sétimo.

Foi Taehyung quem falou, mas não consigo responder. O que ele quis dizer? Preciso pintar porque preciso dormir depois.

É a hora de sair. Barra, líquido essencial. Bocejo. Toco minha testa na mesa, sem comer, meus olhos fecham automaticamente. A risada.

Há previsão de tremores em minhas mãos. Estou tremendo. Preciso ir ao laboratório.

Preciso me levantar e ir.

Depois de alguns minutos parado, consigo comer. Como porque é a rotina.

Volto para a tela. Árvores.

O Olho se despede.

Preciso carregar os tijolos agora. Ir ao laboratório amanhã.

Eles chegam para seus trabalhos, eu vou embora. Órbitas diferentes. Banheiro, preciso lavar meu rosto novamente. Meu reflexo no espelho.

_Atenção, em todas as unidades. Encaminhar para o andar térreo.

Meus olhos parecem normais, porque eu dormi. Meus lábios pálidos. Encaro meu reflexo pelo que parece uma eternidade. Não consigo me mover. Saio finalmente para o corredor, ele está quase vazio. Passo por eles, seguindo os outros. Mas eles precisam ir também, por isso vão atrás de mim.

Deveria ter ido minutos atrás, é perigoso. O tremor já começou, apesar de estar leve.

Me encosto na parede, puxando o ar. Era como se tivessem roubado o oxigênio ao meu redor, apoio a mão na parede. Ninguém. Luzes piscando, não deveriam piscar porque ainda não são nove horas, não é o toque de recolher. Não estou no apartamento. Não consigo respirar.

O tremor me fez ficar assim. Seguro a garganta, tentando focar minha visão já escurecida. Não, minha visão não está escurecida, ele está, porque suas roupas são pretas. Fora de órbita.

Ergo o olhar, notando seus braços cobertos pelas mangas longas de linho preto nos dois lados de meu corpo, próximos ao meu rosto, mãos espalmadas na parede. Me olhando.

Me concentro nele, absolutamente nele, porque está perto demais. Perto demais. Meu espaço, ele não consegue notar que preciso do espaço? Mesmo assim, o ar entra aos poucos para dentro de mim de novo. Porque estou imitando sua respiração. Inspiração, expiração. Lenta. Inspiração. Abre a boca, expulsa o ar que sugou pelo nariz. Eu imito.

Olhos castanhos, mas parecem mais escuros com as luzes falhas. Estou na penumbra com ele. Expiração. Cabelos escuros, sobre a testa, mas levemente separados, não completamente, somente de perto eu conseguiria notar. Inspiração. Eu estou perto. Não há mais ninguém, os tremores continuam. O teto pode desabar sobre minha cabeça. Sobre a cabeça dele.

Expiração. Inspiração. Ele.

Não consigo deixar de olhar em seus olhos, mas sei que as luzes no fim do corredor estão piscando, criando e expulsando as sombras em seu rosto. A luz sobre nós já se apagou. Se houvesse pedras soltas no chão, elas pulariam.

Meu coração é uma pedra no chão. Ele está batendo forte, consigo ouvir em meus ouvidos. A sirene está tocando, mas parece distante, a pressão em meus ouvidos me faz ouvir pouco.

Os braços ao meu redor. Mãos espalmadas. Sem toque. Mas sinto o calor vindo dele. O tremor aumenta, mas ele não se move. Não deixa de me olhar. Não consigo mais encarar seus olhos, desvio para sua têmpora. O nariz é afinalado, achatado e pequeno na ponta. Volto a seus olhos. Atentos a cada movimento meu, e ao mesmo tempo nunca deixando meu olhar. Há quanto tempo estava ali?

Os tremores cessaram. As luzes demoram um pouco a voltar. Vou carregar os tijolos amanhã. Mas não consigo concentrar nesse fato. Ele se afasta devagar, verificando o corredor. Vazio. Eles precisam subir do subterrâneo até este andar. Passar pela contagem. E ele não foi embora.

Não há crachá brilhando em seu peito, nem no meu.

Ele se afasta, devagar. É estranho sem seus braços ao lado do meu corpo. De frente para mim. Se afasta. De costas para mim.

Não tem nenhuma frase na rotina que me oriente para perguntar algo.

Quem é ele.

Agradecer pela proteção.

Mandar que nunca mais se aproximasse assim.

As luzes acendem de novo, aos poucos. Ouço os passos dos outros.

E estou sozinho.

Voltar ao térreo, Contagem Três. Dois. Um. Apartamento. Mensagem. Dormir.

Há previsão de mais tremores.


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[EU DISSE que não seria o padrão kkk mas por enquanto é. Não vai ser pra sempre, e exige atenção para entender certas coisas. perdão qualquer erro <3]

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