Tratado dos Párias- O rei reb...

Da IsabelaAllmeida

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Tiago sempre abominou o tratamento as mulheres no reinado de seu pai. Viu sua mãe virar escrava e suas irmãs... Altro

À primeira vista
Dívida de rua
Novo lar
Reencontro
Preconceito
Convite inesperado
Conselho que não dá conselho
Desconforto
Guia Daniel
Abordagem
Trégua
Uma despedida
Conserto destrutivo
Uma visita
Confraria Anarquista
O espião...
Cascas Vazias
Um encontro nada amistoso
Nada como esperado
Vila dos orfãos
Menina Esperta
Sentimento maduro
Sem tato com o coração
Atitude Ousada
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Confissão inesperada

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Da IsabelaAllmeida

Nova vila... Agora eu estava ainda mais curiosa. Quando entramos, os olhos das pessoas que estavam próximas ao portão se viraram para mim. Me aproximei do braço de Marcos e continuei andando um pouco encolhida.

— Eles não irão te machucar Amélia. — Ele parou e me encarou preocupado. — Se quiser voltar, eu te levo para casa. Esse aqui é o começo, vai ver coisas piores à frente.

Neguei rapidamente, eu estava impressionada era verdade, mas Marcos não poderia entender o que passava pela minha cabeça se eu não tentasse explicar a ele. Limpei a garganta e me afastei um pouquinho.

— Quando eu vivia na Vila do senhor Odair, eu cuidava das crianças e dos doentes. Cheguei a viajar de uma vila a outra para ajudar os que precisavam e eu sempre gostei muito do que fazia. Então quando eu disse ao meu pai que viria para o reino humano deixei claro que também viria unicamente para ajudar os menos favorecidos, porém achei que essas pessoas estavam na vila da Procriação, por isso foi lá o primeiro lugar que pensei em ajudar, mas se tem pessoas em estado pior, eu quero saber.

— E o que fará por eles? Você é uma...

O olhei mordaz já prevendo o que ele ia dizer, já tinha ouvido isso na rua de homens estranhos, até mesmo no Mercado colorido quando fui passear e tentei regatear preços. — Mulher? Por favor, não seja como os outros.

Ele balançou a cabeça me olhando como se eu fosse tola, o que já estava se tornando costumeiro, olhares assim para mim era quase um cumprimento diário.

— Pessoa... Eu ia dizer que você é uma só, não pode ajudá-los sozinha. E não me julgue baseado nos costumes dos homens do reino humano, assim como disse que ajo como um escravo, você achou que eu ia dizer que você é uma mulher, então está agindo com inferioridade ficando na defensiva, e mesmo que eu fosse dizer que você é só uma mulher e por isso não poderia ajudar esse povo, eu não estaria de todo errado, certo?

Apertei os lábios para esconder que estava chateada porque ele estava repleto de razão. Com um meio sorriso ao ver minha cara de aluna mal criada ele continuou.

— Se agir assim não conseguirá ajudar ninguém, não esqueça que você veio do mundo sombrio, mas todos aqui cresceram pelas leis do reino Humanis, então não ajudará nada você impor os seus costumes. Tudo leva tempo, até mesmo o tratamento e o respeito que espera.

Assenti derrotada, ele tinha razão. — Me desculpe. A pior coisa para mim aqui é a maneira como tratam as mulheres. Mas você tem razão, por fim acho que devo desculpas a meu pai também.

Ele assentiu. — Acho que deve.

Seguimos em silêncio depois disso, pude então olhar com atenção aquele lugar.

A floresta tão densa era perto, o lugar na verdade mais parecia uma clareira de chão muito batido e cercado por imensas muralhas. Algumas árvores próximas tinham sido cortadas e vários troncos estavam empilhados, me pareceu um plano futuro de alguma construção. Algumas partes perto das árvores que dominavam quase toda a visão a frente, também haviam sido limpas recentemente, e algumas ferramentas velhas jaziam largadas naquele lugar cheio de terra revirada.

— Pensam em construir algo? — Apontei com o queixo e Marcos seguiu meu olhar, por fim balançou a cabeça.

— É um plano, mas está sendo um trabalho demorado, o pouco dinheiro que conseguimos é necessário reverter em comida, então não sobra para comprarmos ferramentas.

Estamos revezando entre um machado e uma enxada que conseguimos em troca de alguns trabalhos. Também fizemos algumas ferramentas com coisas encontradas no lixo, mas não é tão eficaz e o progresso é lento. E não podemos contar com doações já que todos que vem pra cá, trazem sempre a mesma coisa, apenas as roupas do corpo e a barriga vazia.

Balancei a cabeça ficando sentida pela precariedade, apesar do metal não ser tão abundante, depois da batalha sombria e com a paz entre as raças restaurada, muitas armas foram destruídas e transformadas em ferramentas. Sem contar as fazendas externas que proviam essas necessidades constantemente. Então era um produto simples e vendido a preço relativamente em conta no mercado colorido ou mesmo nas pequenas ferrarias e o povo desse novo bairro não conseguia comprar.

Não era justo que eles não tivessem nem mesmo as ferramentas para tentar se erguer, assim não iam conseguir concretizar nada.

Fiz uma nota mental de usar a mesada que meu pai havia me prometido para minhas coisas particulares e comprar algumas ferramentas para Marcos no lugar de subterfúgios. Talvez alguns pregos e martelos, quem sabe também alguns tecidos e sementes, algumas enxadas descentes e alguns machados...

Parei de devanear por um momento quando vi um grupinho de crianças à frente acocoradas em volta de algo. Sorri com ternura, pelo menos estavam brincando e esquecendo um pouco a gastura da pobreza. Quando nos aproximamos um pouco mais o sorriso morreu em meus lábios e tomei um susto.

Eles mastigavam carne crua e era de um gato morto. A bílis subiu por meu estômago. Tanto pelo animal quanto pela cena em si.

— Não pode ser.

Marcos olhou para eles e levantou os ombros. — Pelo menos estão comendo alguma coisa. As crianças tem a personalidade bela e livre, diferentemente da avareza dos adultos. E as que vivem aqui são unidas, elas dividem entre elas o que conseguem sem ficarem receosas sobre o dia seguinte e sem pensar se vão sentir fome depois.

Sorri vacilante, entendendo a união das crianças, porém não muito certa sobre a beleza na divisão de um gato morto. Marcos soltou um suspiro parecendo cansado.

— O problema na verdade são as mulheres que vieram do harém. Com elas é o inferno na terra.

Estranhei esse comentário. — O que elas fazem de tão ruim?

Enquanto caminhávamos não conseguia parar de olhar para trás e mesmo sem querer aumentei a lista mental que estava fazendo.

Algumas sementes para plantio, algumas sacas de trigo e aveia, quem sabe tendo pelo menos um pão garantido por dia eles deixassem os gatos vivos, por fim... Me esqueci dos primeiros itens.

Definitivamente teria que anotar tudo em um papel, nota mental não ia dar certo. Estava realmente ficando grande a lista e meu dinheiro que eu nem sabia quanto ia ser agora parecia curto, não ia dar para tanta coisa.

Marcos, inocente da pequena luz de esperança que brotava dentro de mim e dos pequenos planos que minha mente inquieta começava a criar, continuou falando distraído.

— Elas brigam demais, tomam dos outros, se engalfinham, batem nas crianças, judiam dos velhos. — Ele suspirou. — São insuportáveis.

Assenti pensativa. — Entendo. Muitas delas vieram da pobreza, porém conheceram o luxo, acho que isso as mudou um pouco.

— Verdade. — Ele revirou os olhos. — Ainda assim são uns demônios. Não as suporto.

Não consegui evitar a risada. — E as grávidas?

— Não são muitas, tentamos as deixar confortáveis, mas também não ajudam muito. Reclamam demais e acham que por estarem grávidas merecem mais privilégios que os outros, mesmo vendo o sofrimento das crianças e dos idosos ainda pensam somente nelas mesmas. Entendo que elas precisam de algumas atenções extras, mas um idoso e uma criança precisam da mesma atenção porque são frágeis também. Enfim... Elas são egoístas e sinceramente não dá para ficar mimando mulheres fúteis em um lugar como esse.

Fiquei revoltada com o abandono deles, largados ali como animais com uma doença contagiosa. — Porque não fazem nada por vocês Marcos?

Ele me olhou de viés. — Não culpe seu rei, antes que o faça, já digo que deve culpar é o conselho. André me disse que em várias reuniões ele falou sobre o abandono dos mais pobres. E a resposta que teve do conselho foi o pedido de um prazo para pensar em projetos que beneficiem os órfãos do tratado, é assim que eles nos chamam.

O rei está cansado do conselho porque eles só querem falar sobre a revolta dos ricos. A única ideia sobre nós veio de um completo desconhecido, se fosse colocado mesmo em prática poderia mesmo ajudar muitos, mas...

Acreditei que não era sobre a horta que ele estava falando, parecia uma ação mais importante, algo mais substancial.

— Sabe o que seria?

— Algo sobre usar as fazendas abandonadas pela baixa na batalha sombria.

— Ah! Era sobre a horta comunitária. A minha ideia reformulada e maravilhosamente aprimorada por meu pai e Tiago.

— Desconhecido?

Marcos levantou os ombros. — Foi o que disseram, que a ideia veio de uma pessoa que sequer viveu aqui, mas que deu um pontapé para eles pensarem nas fazendas externas como uma boa maneira de fazer prosperar mais gente.

Disfarcei meu sorriso. Não importava que não soubessem que eu era a autora do projeto inicial. Para mim o mais importante era ver o reino que meu pai estava lutando tanto ao lado de Tiago para salvar, finalmente conseguindo diminuir a desigualdade gritante das massas. Porém era estranho que Marcos ali tão distante de tudo, estivesse tão bem informado.

— Como você sabe de tudo isso?

Ele olhou para mim e sorriu. — Seu pai não veio aqui todos esses meses somente para tomar chá, claro que se fosse para isso ele ia sair daqui triste porque não temos chá.

Rimos, eu estava completamente descontraída, Marcos não era tão brusco quanto pensei. Na verdade ele tinha um sorriso agradável e até mesmo uma conversa fácil.

Então porque será que ele se irritava com meu pai sempre socando o olho dele em resposta as ofertas que ele trazia? Essa parte eu não conseguia entender. Mas como boa menina eu não ia atiçar o rapaz, não quando a conversa estava agradável e quando ele parecia disposto a falar.

— Você fala bem Marcos, parece letrado.

Ele assentiu. — Quando eu era escravo seu pai sempre me entregava livros, trazia alguns para meu pai também. Como os dois eram criados do príncipe e eu servia cortando lenha para o funcionamento da cozinha e do aquecimento interno, nós tínhamos contato, então André me ensinou o básico, o resto aprendi sozinho. Você sabe que ele não foi escravo a vida toda, né?

Balancei a cabeça assentindo. — A última lembrança que tive por anos foi de meu pai ainda fardado nos tirando daquela carroça. Ele lutou com os soldados, os matou e nos colocou na garupa do cavalo. Usou a espada para libertar o cavalo da carroça e o montou em pelo. Me lembro dele gritando para as mulheres encontrarem ajuda e saírem da estrada. Não olhou para trás, não as ajudou. Na época eu chorei muito ao vê-las sendo deixadas para trás.

A última coisa que ele me disse antes de partir foi para eu ser uma boa pessoa, disse que o mundo poderia estar porco, mas eu tinha que absorver o que era bom e que eu esquecesse as mulheres, pois não havia outro jeito de nos salvar naquela estrada senão as deixando por conta própria.

Quando cresci, me lembrava da cena e comecei a refletir o que eu teria feito no lugar dele, então passei a entender que ele não podia ajudar todas elas, o foco dele era minha mãe e eu. Até hoje imagino o que aconteceu com elas. E nunca esqueci a fúria que vi em seus olhos quando nos encontrou na estrada. Nunca o vi tão imenso e tão forte, jamais esqueci aquela imagem dele.

Marcos assentiu olhando a frente, o semblante sério.

— Por isso Amélia, André não merece que desconfie dele.

— Mas vendo tanta miséria, minha preocupação é por causa da política, entende? Ele é conselheiro do rei, é natural que eu tenha receio.

Marcos assentiu como se me entendesse melhor do que demonstrava.

— Nem mesmo o rei tem culpa do que está acontecendo Amélia, pois querendo ou não ele fez o que achava certo. Você chegou agora e por isso não sabe como tudo funciona, mas vou lhe adiantar que todo o mal desse reino vem das duas castas mais altas. Toda a riqueza está concentrada nela e toda a ambição também, e isso nos torna fracos e eles fortes. Simplificando para você, é difícil seguir a vida quando não temos nada e eles, os ricos, continuam a tentar nos deixar com menos ainda.

Era verdade, não pude deixar de concordar com ele. — Meu pai havia dito que as mudanças também beneficiaram a coroa já que todas as castas deviam pagar impostos.

Marcos me corrigiu. — Não todas. Essa regra isenta os escravos por dois anos.

Não respondi. Ainda assim não era justo ver as crianças comendo animais mortos e crus.

— Chegamos à sede dos órfãos do tratado.

Marcos sorriu apontando a entrada de uma caverna natural e eu levei a mão à boca dramaticamente fingindo deslumbre para a paupérrima abertura.

— Oh!

Ele riu. — Sim, pode ficar estupefata. Também temos uma mansão, está pensando o quê! Somos ricos!

Eu ri com gosto, algo dentro de mim começava a gritar desesperado para ter minha atenção. Um sentimento morno por aquelas pessoas, para aquela alegria despretensiosa de Marcos que mostrava um prelúdio do que seria para esse povo obter um pouco mais para viver. A pequena luz virando um facho tão luminoso que estava difícil de ser ignorado. Meu lado aventureiro, sonhador e humano estava me dominando completamente.

Quase todo o tempo eu fui como uma curandeira das vilas sombrias, cumpri minha tarefa por amor, por agradecimento aos ensinamentos do senhor Odair, porém foi depois de muito tempo que eu soube que ele dedicou a mim uma educação especial porque eu era filha de André, o filho adotivo do senhor Dimitri. Mas me valeu muito seus ensinamentos a educação e valores que ele me ensinou.

Porque eu aprendi a empatia pelo sofrimento dos meus pacientes. E agora vendo tantos rostos sofridos era como ver pessoas doentes precisando de cuidados e com isso as possibilidades se projetavam a minha frente. Cada vez que via a alegria nos olhos de Marcos, o sorriso fácil mesmo com tantas intempéries, uma gana por ajudar a mudar aquele lugar crescia dentro de mim, uma necessidade de usar meus braços finos para lutar por eles.

Não poderia ser tão difícil, só precisava de organização e colaboração de todos. Só precisava de uma pessoa com contatos e coragem para pedir coisas a quem tinha de sobra para dividir, e esse alguém era eu.

E nem precisava de muito para começar algo. Talvez algumas sementes e algumas ferramentas para cultivar o básico. E o principal, angariar patrocinadores. Pessoas dispostas a dispor de um pouquinho de sua riqueza para ajudar aquele povo sem nada, qualquer pouquinho seria muito. Quem sabe... Quando se tem somente nada, qualquer coisa é possível porque se torna uma evolução sentida por todos.

Olhei para Marcos com a ideia grudada em minha alma, agitando uma felicidade plena de um sonho que iniciou com uma pequena lista mental e agora estava se tornando apoteótico em minha mente. Segurei sua mão e o levei para a saída da caverna, olhei mais uma vez para aquele lugar consolidando minha euforia.

— Você é quem lida com eles? Você é o líder?

Ele negou. — Eles me escutam. Apenas isso.

— Sim, mas então você é o mais perto de um líder que eles têm. Certo?

Ele ficou um pouco sem graça. — Digamos que sim.

Meu coração se encheu de expectativa. — Me aceita como nova inquilina? Quero morar aqui.

Ele me olhou assustado e gaguejou. — O... O que está dizendo? Não pode ficar aqui Amélia. Você tem condições de ter uma boa vida. André agora é general e o rendimento mensal desse cargo é alto. Você pode ter a melhor casa que quiser, também tem o apoio do rei.

Eu não mudei meu olhar de certeza, e agora ele suspirou quase desesperado com meu pedido e eu segurei meu sorriso, pelo menos ele não negou logo de cara, ele esperou eu falar algo, mantive meu olhar de certeza e ele revirou os olhos.

— André me disse que você ia montar uma escola e o rei lhe deu carta branca e até mandou preparar alguns móveis, você vai largar tudo isso?

Balancei a cabeça. — Me escute...

Ele parou de falar e eu escolhi as palavras com cuidado para fazê-lo me entender, talvez existisse uma pessoa nesse mundo que conseguisse me entender e quem sabe seria ele.

— Porque você não quer sair daqui? Você também não precisa viver aqui, seu pai morreu como herói na guerra sombria. Meu pai me disse que você tem direito a uma casta bem mais alta e assim poderia conseguir até mesmo uma fazenda somente para você. Até mesmo pode ter um cargo militar se quiser. Ainda assim, negou todas às vezes. Por quê?

Ele olhou pensativo para os lados, depois seus olhos foram para mais longe e fixaram no amontoado de crianças que se aqueciam em volta de uma fogueira fraca e fumarenta.

— Não posso levar todos comigo, eles não caberiam em uma fazenda por maior que ela fosse. Aqui é maior, muito maior na verdade. Se você pudesse andar por toda essa prisão como eu andei, veria que ela é imensa, apesar de parecer pequena já que podemos ver apenas o pedaço limpo, mas eu vasculhei tudo e posso afirmar sem titubear que o território dos Leviatãs seguramente dá quase um terço do reino Humanis. Aqui pode ser o recomeço para todos sem a necessidade de escolher um punhado para privilegiar, por isso que não saio daqui, porque essa prisão que um dia foi o território de criaturas medonhas, agora pode ser considerado uma terra de esperanças para todos os miseráveis. Tem lugar para todos aqui.

A surpresa com a informação me deixou muda. Ele continuou falando compreendendo que eu não esperava por aquilo.

— Mais pessoas irão vir Amélia, eu sei que sim, pois o reino Humanis está recomeçando. O número de miseráveis é esmagador em relação aos mais abastados, entende? Diariamente os ricos reduzem os gastos diminuindo a mão de obra doméstica. Não há emprego para todos da casta dois e não vai demorar para que muitos deles precisem sair de suas casas alugadas. Ou mesmo alguns pais irão abandonar mais de seus filhos e com certeza aqui será o refúgio deles.

A corrupção e egoísmo ainda são dominantes nesse reino, não é por conta de umas leis recentes que as pessoas deixarão de ser cruéis. Pense que até alguns meses atrás eles vendiam seus filhos sem pensar duas vezes. Acha mesmo que irão pensar melhor antes de abandoná-los a toda sorte na rua já que agora não darão mais lucros?

Marcos soltou um suspiro e eu reconheci aquele olhar sonhador.

— Quero ajuda-los, Amélia. Sofri com eles como escravo. Vou estar aqui com eles como um homem livre, e se para isso eu precisar enfrentar a miséria o farei ao lado deles. Nenhum cargo ou mesmo benefícios que eu viesse a receber em honra ao meu pai, seria suficiente para fazer algo por eles, então ficarei e pensarei em meios para levantar esse lugar e melhorar a vida deles e a minha também.

Falei com a voz embargada, ele tinha o mesmo sentimento que eu... As mesmas crenças, ele poderia me entender sem me julgar.

— Tem quantos anos, Marcos?

—Vinte e cinco, por quê?

Sorri amistosa com mais aquela coincidência. — Temos quase a mesma idade. E para combinar, temos as mesmas ideias e pensamentos. Nunca fui escrava, nunca fui submetida a torturas porque tive sorte de ter um pai protetor que sacrificou a própria liberdade para assegurar a minha e da minha mãe. Mas ouvi muitas histórias das famílias no reino sombrio, lá eu pude conhecer o significado da bondade. Recebi ajuda para cuidar de minha mãe dos vizinhos na vila do senhor Odair. Vivi sem luxos, porém não passei fome, nem frio e tive humanos bons como vizinhos então sei que a bondade vem com atitude e exemplos e um pouco de regras, simples, mas eficazes.

Ele me ouvia com atenção e isso me deu esperanças, acabei pedindo cheia de expectativas. — Me deixe ajudar. Eu preciso encontrar meu lugar aqui nesse reino e não é entre os mais abastados, senão tudo o que minha família passou terá sido em vão, meu pai foi escravo e minha mãe morreu sem conhecer o respeito dos de sua própria raça e eu preciso disso para saber que valeu a pena tanto sacrifício, preciso honrar isso de alguma forma. Se eu tenho tanta influência com o rei como você diz, serei útil à causa.

Ele apertou os olhos para mim. — Vai extorquir o rei?

Cerrei os olhos e levantei os ombros sem me importar com o julgamento.

— Não preciso extorquir, posso pedir com a maior cara de pau. Se ele me deu carta branca para a escola pode me apoiar patrocinando mesmo que seja com pouco recurso aqui, não é mesmo? E ele me deu aquele lugar, de todo modo se não me ajudar, eu encontro um jeito, como eu disse... Sou bem cara de pau quando quero.

Marcos negou veemente. — Você não entende? Ele pode achar que é uma afronta, que aqui somos um bando de rebeldes, que de alguma forma iremos nos levantar contra a segurança do reino se ganharmos força.

Fiquei chateada com o que ele disse. — Marcos, eu posso julgar Tiago, você não pode, entendeu? Tiago vai entender que a força aliada está entre os mais humildes, pois são maioria e consequentemente mais fortes, mas eles precisam sentir a gratidão de receber apoio primeiro.

Marcos me olhou de viés, mas não objetou sobre minha defesa ao rei, continuou seu argumento sobre minha ideia. — Isso não quer dizer que ele vá colaborar com algo Amélia, quem garante que ele não vá punir vários de nós antes de ver isso que você está vendo?

Neguei com a cabeça, ele não o conhecia como eu. — Ele é bom, não irá castigar esses coitados. Ele tem um gênio impossível, faz as coisas sem analisar primeiro, age feito idiota, mas não é cruel.

Marcos riu e me olhou cheio de compreensão. — Como pode ter tanta certeza?

Fiquei com raiva de ele ainda desconfiar de Tiago. — Porque eu o amo. E eu não amaria um maldito tirano!

**************

( Gente esse saiu enorme u.u) Perdoem o tamanho viu, não consegui encontrar lugar para dividir o cap. 

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