Amizade, Amor e Você - Degust...

Por LKWiatrow

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Com 28 anos, formada em medicina e sem nunca ter tido um namorado, Rebecca, está cansada de todos os seus amo... Más

Amizade, Amor e Você
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Bônus Aninha
Capítulo 14
Comunicado

Capítulo 1

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Por LKWiatrow

Os raios de sol invadem meu quarto e percebo que o dia amanheceu lindo, um sol radiante brilha em um azul anil sem nuvens.

Me permito ficar na cama por mais cinco minutinhos imaginando o que eu poderia fazer hoje. Eu poderia colocar um tênis e ir caminhar no calçadão, depois tomar sorvete em uma das sorveterias que têm ao longo da avenida com vista para o rio. Perto do almoço posso trocar o tênis por uma sandália leve com um vestido floreado, fazer compras no shopping enquanto admiro as vitrinas de mãos dadas com meu namorado lindo, moreno, alto, olhos cor de mel, não, olhos cor de mel não.

Meu celular apita novamente e meu tempo para sonhar acordada chega ao fim.

Tomo um banho rápido, coloco uma roupa qualquer, elas vão ficar por baixo do meu jaleco mesmo, pego uma maçã e vou, mais uma vez, para o mesmo lugar que vou há mais de sete anos, o hospital.

Amo meu trabalho. Nunca imaginei ter outra profissão que não fosse ligada a área da saúde.

Na minha vida, o curso de medicina em uma universidade federal, sempre veio em primeiro lugar. Estudava por horas e horas interminável, após o horário do colégio, e meu final de semana se resumia em biblioteca e grupos de estudos. Não que isso tenha mudado muito, hoje se resume em biblioteca e hospital.

Antes de entrar no hospital vejo um casal fazendo um pequeno escândalo, na verdade a mulher está fazendo um escândalo, o homem parece aflito e mudo.

Trabalho aqui faz um bom tempo, comecei ainda quando estava na universidade e sou muito grata por ter sido aceita no quadro de funcionários após a formatura, então, sempre que posso ajudar, faço o possível e o impossível para o bom funcionamento da instituição.

– Bom dia, seu João. Posso ajudar?

Pergunto me dirigindo ao guarda do hospital que parece pronto para chamar o restante da segurança.

– Essa senhora está aflita, ela quer um médico preparado esperando a amiga que está chegando. Alguma coisa a ver com um assalto.

A moça me olha e começa a falar sem parar e segura meu braço.

– Pelo amor de Deus, nos precisamos de ajuda. Você pode nos ajudar? Por favor, chama alguém que possa vir receber a Lili... eles devem estar chegando... ele tinha uma arma... ela é desastrada...

É normal familiares e amigos chegarem ao hospital mais em pânico do que os próprios pacientes. A mulher, de cabelos encaracolados e olhos verdes, continua segurando o meu braço e falando sem parar. Não consigo entender a metade.

– Eu posso ajudar. Você pode se acalmar agora, estou aqui para ajudar vocês. – Vou falando e dirigindo eles à recepção, tentando descobrir mais alguma coisa. O homem que está com ela não fala nada e parece em choque. – Quem precisa de ajuda? O que aconteceu?

– A Alice estava na farmácia e o bandido armado atirou!

Olho para o balcão de recepção e faço um sinal que provavelmente vou precisar de ajuda. Ferimentos à bala provenientes de assaltos normalmente atingem os lugares mais diversos.

– Ela está vindo com alguma ambulância? Ela está consciente? Perdeu muito sangue?

– O Cléo está trazendo ela.

– Você sabe onde ela foi atingida?

– ELA FOI ATINGIDA?

O homem que estava mudo até agora, resolve se manifestar. Uma das recepcionistas chega para me ajudar a contornar a situação. Estamos em um hospital particular muito bem conceituado. Não temos permissão para deixar os pacientes, ou acompanhantes, fazerem escândalos e barracos.

Deixo a recepcionista cuidando dos dois e vou verificar o meu consultório, ainda não tinha entrado nele hoje, preciso saber se tenho o básico para fazer o atendimento ou se vou precisar encaminhá-la direto à emergência.

Antes de conseguir verificar, dois homens entram escoltando uma mulher. Ela me parece bem, consciente, caminhando e sem sangramento. O homem que estava aguardando a pega no colo e vem em minha direção. Faço sinal mostrando a porta do meu consultório e todos entram sem cerimônia.

– Meu nome é Rebecca, sou médica e gostaria de examinar a paciente a sós. Vocês poderiam aguardar lá fora? – Recebo um sonoro, não. Chego me assustar. – Não é permitido pessoas que não são da família ficarem na consulta.

– Nós somos da família.

Todos respondem juntos. Isso vai ser mais difícil do que eu imaginava.

– Doutora, por favor, olha se a Alice está bem logo. Nunca a vi assim, ela está pálida, tremendo e quieta demais.

O moreno de cabelo curto e com várias tatuagens fala parecendo o mais calmo.

Como acredito ser apenas o pânico de ter presenciado uma cena violenta começo a verificar os sinais vitais, aferir a pressão e fazer o questionário de praxe.

– Então, Alice, me conte o que aconteceu? Você está sentindo alguma dor?

Enquanto ela me conta sobre o assalto que presenciou e que, realmente, apenas ficou um pouco nervosa, mas que está bem, deixo meus olhos se perderem no terceiro homem que ainda não falou nada.

Ele caminha de um lado para o outro com a cabeça baixa e tenho a impressão que algo está errado. Todos estão nervosos e em pânico, mas ele parece estar, não sei, com medo.

Olho mais uma vez e o azul dos seus olhos me fazem lembrar do dia lindo que está lá fora. Me perco por alguns segundos, quando ele sustenta o olhar no meu, percebo que passei dos limites. Estou trabalhando, atendendo uma paciente, não posso ficar flertando com acompanhantes. Isso nunca aconteceu e não vai ser agora que vou deixar me levar.

Mas tenho que admitir, ele é lindo.

Abaixo meu olhar para a Alice que está sentada na cadeira, em frente a minha mesa, começando a recuperar a cor e voltando do estado de choque.

– Não é melhor fazer uma tomografia? Ou um encefalograma?

– Cléo! Eu estou bem!

Faço um esforço para não rir. Os acompanhantes da minha paciente querem fazer um chek-up completo por causa de um susto. Continuo explicando que não é necessário, que ela está bem.

– Doutora, se for por causa de dinheiro a senhora não se preocupe. Eu vou pagar o que for necessário.

– Cléo, acredito que vocês estavam cientes, quando vieram para cá, que o hospital é particular. Não se preocupe, sei que você pagaria, mas realmente não é necessário. – Falo mais uma vez tentando tranquilizá-los. – Vamos fazer o seguinte, vamos agendar uma consulta para a semana que vem para a Alice vir me contar como está, assim vocês ficam mais tranquilos. Também vou deixar o número do meu celular com a Alice, se ela precisar de alguma coisa, pode me ligar.

Falo torcendo para que todos peçam para ter o número do meu celular, eles são tão unidos, não custa tentar. Ainda bem que eles não podem ouvir meus pensamentos, como consigo ser tão patética?

Em que mundo eu acho que estou vivendo? Quando um homem lindo e com um corpo perfeito como esse, iria querer o número do meu celular?

Não chega eu ser apaixonada pelo Adam Levine, ter um caso secreto com o Keanu Reeves desde Matrix e já ter planejado todo o meu casamento com o Rodrigo Santoro, agora vou ficar fantasiando com ligações apaixonadas no meio da noite de acompanhantes das minhas pacientes?

Imaginei que todos esses sonhos e fantasias iriam diminuir com a idade, não se agravar.

– Não preenchemos nenhum formulário ou ficha, ou sei lá como vocês chamam, temos que fazer isso agora?

Mordo a língua para não dizer que eles deveriam ter feito isso antes, mas como sou muito legal, deixei passar todo o procedimento normal do hospital e provavelmente vou levar uma bronca.

– Vou encaminhar a Alice e o Lucas, que é o namorado, à recepção para fazerem o procedimento padrão. Os outros estão liberados depois de passarem apenas o nome e o número do telefone.

Deus, de onde tirei isso? Minha mão começa a tremer com o medo de eles descobrirem a maior mentira do dia.

– Cássio, você tem um cartão teu aí? – A mulher de cabelos encaracolados e olhos verdes fala virando para a minha mais nova obsessão. – Desculpa, doutora, nem nos apresentamos. Sou Letícia, amiga da Alice e do Lucas. Esse é o Cléo e esse é o Cássio.

Ela aponta primeiro para o cara que não saiu do lado dela e depois para a visão do paraíso.

Cássio.Cássio.

Alguém pode se apaixonar apenas sabendo o nome de um pessoa?

Ele ergue o rosto e consigo admirar um pouco melhor a sua beleza. O loiro escuro do seu cabelo contrasta com os olhos azuis, mais azuis e profundos que já vi, lábios perfeitos e um sorriso encantador.

– Não tenho. Anota meu número no teu cartão mesmo.

A Letícia faz o que ele pediu, e me entrega o cartão dela e um do Cléo.

Me despeço deles, fecho a porta e sento de volta na minha cadeira.

Fico imaginando eu correndo até o estacionamento e chamando o Cássio. Ele virando, abrindo um sorriso lindo e vindo correndo ao meu encontro, me abraçando com carinho e tirando meus pés do chão enquanto rodopiamos juntos.

Toc, toc, toc.

Será que é ele?

Antes de eu levantar abrir a porta do meu consultório, meu colega de profissão e única pessoa que considero meu amigo, entra com um sorriso radiante.

Apenas nas minhas fantasias o Cássio iria retornar e falar que não pode viver sem mim.

– Bom dia, Becca! Você viu o dia lindo que está lá fora? Uma pena a gente poder aproveitar somente o horário do jantar para nos divertirmos.

– Horário do jantar? Temos algum compromisso hoje? – Não lembro de ter recebido convite do hospital para nenhum evento. Penso mais um pouco, não, com certeza não recebi. – O hospital não me enviou nenhum convite, acredito que não preciso ir.

– Quem disse que é evento do hospital? – Mordo mais uma vez minha língua para não dizer que o hospital é o único que me envia convites. – Você esqueceu que prometeu jantar comigo?

Ai não, eu apenas falei que iria olhar minha agenda para essa semana. Em momento algum falei que iria jantar com ele.

– Precisa mesmo ser hoje? Tenho um monte de coisas para fazer.

– Sim, precisa. Não se preocupe, a biblioteca estará no mesmo lugar amanhã, você pode ir lá qualquer outro dia. – Ele vem até minha mesa, deixa um beijo na minha bochecha e pisca todo sorridente. – Passo te pegar às oito, não se atrase.

Juro, se o Vladimir não fosse tão legal comigo, com certeza absoluta não iria nem até a esquina com ele. Respiro fundo e começo a trabalhar, se vou sair antes das oito, preciso começar o quanto antes.

.

– Isso não é um restaurante, Vladi.

– Eu falei que nós iríamos jantar, não falei que iríamos a um restaurante.

Respiro fundo pela milésima vez tentando me acalmar. Não costumo sair para bares, ou melhor, não costumo sair.

Gosto muito de ficar em casa lendo ou ir à biblioteca. Amo bibliotecas!

O cheiro de livros, o silêncio absoluto e a imensidão de conhecimento que podemos adquirir são o sonho de consumo de qualquer mulher como eu.

– Então, o que você vai querer beber? Martini, vinho, tequila?

– Água. – Não bebo, nunca. – Você sabe que não bebo nada com álcool.

– Preciso que você beba hoje, preciso da tua ajuda com um problema e apenas uma amiga bêbada vai poder me ajudar.

Eu sabia que tinha segundas intenções por trás desse convite. O Vladimir, mesmo sendo legal comigo, parou de me convidar para sair faz pelo menos uns quatro anos.

– Doutora Rebecca? – Olha em direção a voz que me chama para dar de cara com a mulher louca e descontrolada de hoje de manhã. Como era mesmo o nome dela? – Que bom ver alguém conhecido por aqui! Posso sentar?

Olho para o Vladi e ele está todo sorridente.

– Claro.

– Tudo bem? Sou a Letícia. – Ela fala sentando e estendendo a mão para o Vladimir. – Não estou atrapalhando, não é?

– Vladimir. Claro que não. Acabei de falar para a Becca que preciso de uma opinião sobre relacionamentos, quanto mais gente para opinar, melhor.

Enquanto eles engatam um papo animado, fico torcendo para que os amigos dela entrem pela porta. Olho para todos os lados e nem sinal de qualquer um deles.

– ... o Cléo e o Cássio estão em Vegas, então sai sozinha. – Vegas? Ela está dizendo que o Cássio está em Vegas? – Precisava beber e esquecer algumas coisas. E você Rebecca?

– A Becca não gosta muito de sair, é a primeira vez que ela vem aqui.

– Sério? O Cássio adora aqui. Fica perto da academia que eles estão montando e o happy hour da segunda-feira é ótimo! Eu e a Alice viemos aqui esses dias e ...

Ela continua falando sem parar e fico tentando juntar as pequenas coisas que descubro sobre o Cássio. Ele está em Vegas, vem para esse bar nas segundas, está montando uma academia perto daqui, é treinador de MMA do tatuado que estava com ele no hospital hoje de manhã e, o mais importante, é solteiro.

Somente perto da uma da manhã consigo ir para casa. A Letícia e o Vladimir pareciam dois velhos amigos, admiro pessoas que conseguem fazer amizade tão rápido. Às vezes sinto um pouco de ciúmes de pessoas assim.

Deito na cama e fico imaginando o que o Cássio poderia estar fazendo. Seria tão bom poder ouvir a voz dele. Seguro meu celular e fico fantasiando em ligar para ele, em convidá-lo para sair, em combinar um encontro no bar que a Letícia falou que ele adora. Sem querer, disco o número dele que havia salvo.

Que porcaria! Desligo rápido. Quem sabe não chegou a tocar. Quem sabe ele nem vai se importar com uma ligação não atendida.

Meu celular toca.

Olho para o visor e não sei se atendo ou não.

– Alô?

– Quem é?

E agora, minto que não sou eu?

– Cássio, é a Rebecca. Queria saber se a Alice melhorou.

Eu e meu problema de não ser criativa.

– Rebecca? Quem é Rebecca?

Consigo ouvir o barulho do meu coração se quebrando e as lágrimas que rolam pelo meu rosto parecem me afogar, pois a dificuldade de respirar é enorme. Ele nem lembra de mim. Faz menos de vinte e quatro horas que nos conhecemos e ele nem lembra de mim.

Encerro a chamada e desligo o telefone.

Preciso aprender que nem todo mundo é patético como eu.

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