𝐃𝐞𝐬𝐞𝐧𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨𝐬 | 𝙱...

By aPandora02

33.2K 3.7K 3.5K

Conseguir um emprego como faxineira no maior centro executivo de direção da S.H.I.E.L.D. foi a luz no fim do... More

❗Importante❗
~ Personagens ~
1 - Alpine
2 - Socializar
3 - Traidor Entre Nós
4 - Invasão
5 - Socorro
6 - Confia Em Mim?
7 - Rodovia (Parte 1)
8 - Rodovia (Parte 2)
9 - Companheiro Caído
10 - Lado Errado
11 - Eu Sou Daiana...
(Parte 2) 1 - O Pacto
2 - Passado E Futuro
3 - Suspeitos
4 - O que aconteceu?
5 - Sujeito Mascarado
6 - Sacrifícios
7 - Dallas
8 - Visita Ao Pesadelo
9 - Ruínas De Um Homem
10 - Viva Por Mim
(Parte 3) 1 - O Que Acontece Depois
2 - Seguir Ou Não Seguir?
3 - Em Frente
4 - O Que Você Omite?
5 - O Passado Sempre Volta
6 - Bons Amigos
7 - Um Novo Capitão América
8 - Digno
9 - Um Símbolo Ou Um Objeto?
11 - Super-Soldados
12 - Convite
13 - Jantar
14 - Ameaça
15 - Ordens
16 - Zemo
17 - Madripoor
18 - Princess Bar
19 - Respira, Expira
20 - Brownie
21 - Certo ou Errado?
22 - Abra Os Olhos
23 - Dog Tag
24 - Crianças
25 - Pessoas Confusas
26 - Ponto Fraco
27 - Não
28 - Sem Fôlego
29 - Medo
30 - Silêncio
31 - Dor
32 - Liberdade
33 - Planos

10 - Um Quase

351 36 49
By aPandora02


"Difícil carregar todo esse fardo

Tento seguir livre com minha vida

Mas carrego dores lá do meu passado"

(Hiosaki feat. VMZ – Máquina do Tempo)

Durante toda aquela tarde, Daiana não entrou em contato com o marido, apesar de ele, mesmo chateado, ter cedido à preocupação e lhe enviado diversas mensagens pedindo para que conversassem com mais calma e lhe retornasse as ligações. Com o apoio de Melinda, acabou aceitando e retornou para casa.

A conversa foi longa e obviamente teve choro de ambas as partes, mas estavam resolvidos. Daiana deixou claro que levaria algum tempo para se adaptar e aceitar totalmente o novo posto que John ocupava, porque era seu marido e o apoiaria sempre que possível se isso o fizesse feliz. A conversa com a mãe de Melinda foi eficiente, pois lhe abriu os olhos para o homem em sua frente que sorria amoroso ao ouvir as palavras de aceitação, mesmo que parcial, da mulher da sua vida.

Conhecia John há tempo suficiente para saber que ele era tudo aquilo que a mãe de Melinda dissera que agradaria a Steve se alguém um dia precisasse ocupar o seu lugar. Era sim um bom homem. Exemplo de marido carinhoso, tinha um bom coração, era honesto e ela nunca teria se casado com ele se não fosse. Apesar de uma parte sua, uma bastante resistente, ainda insistisse que ficaria muito mais contente se fosse de Sam aquele lugar, como o próprio Steve escolhera.

Steve chegou a conhecer John e se encontraram algumas vezes, o que só aumentou a admiração do Walker pelo Rogers nas noites que Daiana o convidava para jantar com eles, e por vezes o amigo, apesar de expressar que sua maior vontade era de ver seus dois melhores amigos juntos, Daiana e James, estava satisfeito por ter a oportunidade de ver que ao menos um deles estava muito bem estabelecido e com a vida tranquila.

Ele próprio também dissera que John era um bom homem e em um dia, em meio a uma conversa agradável, ele brincou de que quebraria o braço do Walker se ele a machucasse, e este o respondeu que estava contente por nenhum deles precisarem se preocupar com tal destino. Quanto a Daiana, sempre se sentia a mais alegre das mulheres ao ver dois dos melhores homens da sua vida bebendo cerveja no sofá da sua sala enquanto assistem o futebol.

É por isso que decidiu suportar algumas coisas e adentrar aquele vestiário de um estádio que fora inteiramente decorado para a primeira entrevista do novo Capitão América para o mundo. Encontrou-o sentado em um dos bancos de madeira, pensativo com os cotovelos sobre os joelhos e a cabeça baixa.

— Muito nervoso? — Perguntou, anunciando a sua chegada.

O loiro sorriu assim que a viu.

— Quem? Eu? — Ela assentiu. — Nunca — disse com firmeza.

— Não mente 'pra mim — escorou-se em um dos armários, cruzando os braços.

— 'Tá bem — deu de ombros. — Um pouco — confessou num suspiro pesado. — Tem muita gente lá fora, e eu sei que o mundo inteiro estará me assistindo.

— É uma grande responsabilidade — enfatizou mordendo os lábios, pensativa.

— E eu sei que todo mundo que estiver me vendo vai esperar que eu seja... especial — deixou os ombros caírem, se permitindo mostrar a ela o seu lado mais frágil, o qual sempre esconde de todo mundo. Mas não havia razão para esconder ele mesmo de Daiana. — E eu não quero decepcionar ninguém — abaixou os olhos, visivelmente tenso e ansioso. — Não quero decepcionar você — completou mais baixo, como se a mera possibilidade o ferisse e aquilo agitou algo dentro de Daiana, que a fez se aproximar em passos lentos, até que estivesse em sua frente.

Abaixou-se na altura de seu rosto e o tomou com delicadeza entre as mãos, fazendo aquele par de olhos azuis preocupados encontrarem os seus.

— Você nunca me decepciona — tentou tranquilizá-lo. — Me deixa com raiva, furiosa, confusa, triste as vezes, ansiosa... — começou a citar num tom brincalhão para aliviar o clima pesado que se formou, e funcionou quando o viu rir balançando fracamente a cabeça para os lados. — Mas nunca me decepcionou — dessa vez disse séria, com sinceridade. — Nunca.

E John, com emoção, sentiu isso. Pôs a mão por cima da dela e lhe beijou a palma com os olhos fechados, demorando-se com um pouco com o gesto carinhoso.

— Eu não quero ser o Steve. Sabe disso, não sabe? — Precisava ouvir a sua confirmação, pois ela o ter acusado daquilo uma vez ainda martelava dolorosamente em sua cabeça.

— Eu sei agora — murmurou, tocando sua testa com a dela. — Você vai se sair bem. O Steve gostava de você.

O homem sorriu com aquela afirmação e ergueu o queixo para beijar-lhe a testa.

— Eu também sinto falta dele — confessou. — Era um bom parceiro para assistir aos jogos — eles riram. Então ele desmanchou o sorriso e afastou-se minimamente, o suficiente para que pudesse encarar aquela profundidade castanha dos olhos da amada. — Eu poderia suportar a rejeição do mundo inteiro, menos a sua — sussurrou de maneira tão sofrida, que Daiana sentiu uma pontada no peito, ressentida pela discussão que tivera naquela madrugada.

— Eu sei. Me perdoa — pediu em mesmo tom.

— Como eu não poderia? — O canto de seus lábios subiu um pouco num sorriso ladino.

Então, sem um aviso prévio, John aproximou o seu rosto do dela e selou seus lábios em um beijo lento em que apenas apreciavam o momento e transmitiam seus sentimentos um para o outro, ou deveria ter sido apenas isso antes de enterrar seus dedos nos cabelos soltos da esposa e puxá-la para mais perto, aprofundando o gesto. Sem se lembrarem de onde estavam, Daiana estava prestes e sentar-se no colo do marido e levar aquilo adiante se não fosse por um limpar de garganta bem atrás deles, que os fez sobressaltar com o susto e constrangimento, mas pouco se afastaram.

— Espero não estar interrompendo nada — sarcástico, Lemar subiu os olhos para o teto, admirando-o como se fosse a coisa mais fascinante do mundo.

O casal riu um pouco envergonhados por terem sido pegos em flagrante em um ambiente público em que qualquer pessoa poderia entrar, como acontecera, e assistir aquele show. Por sorte, era o velho amigo deles que chegara antes que qualquer coisa a mais tivesse acontecido.

— Eu só vim... — Daiana se recompôs em pé, ajeitando os cabelos. — Desejar boa sorte.

— Eu queria que a Melinda me desejasse boa sorte assim — brincou e dos outros dois recebeu um olhar repreensor por não desviar do assunto, fazendo-o rir. — Então vocês se acertaram? A Mel me contou o que rolou.

— Ela não resiste ao meu charme — John piscou para ele e Daiana revirou os olhos para a risada dos dois que ganhava tonalidade.

— Se isso for um desafio, você não vai gostar do resultado — ela cruzou os braços e se escorou nos armários atrás de si.

— Estou brincando — a puxou pela cintura para mais perto outra vez, abraçando-a ainda sentado, apreciando a caricia que recebia em seus cabelos sedosos.

— Bom... — disse ela de repente, após alguns segundos de silencio mutuo que não chegava a ser desconfortável a ninguém. — Vou deixar vocês conversarem — beijou-lhe o topo da cabeça antes de se afastar, trocando um rápido sorriso com Lemar ao passar pelo amigo.

Enquanto isso, em sua casa de luminosidade baixa devido a todas as lâmpadas estarem apagadas, mas as luzes dos letreiros da rua naquela noite, como em todas as outras, iluminavam pouco os cômodos ao atravessarem as janelas sem cortinas do pequeno apartamento, Bucky se encontrava sentado no chão com os olhos fechados. Sentia-os arderem sob as pálpebras após ter acordado em um sobressalto e encharcado de suor devido a outro pesadelo perturbador. Era uma situação rotineira, mas não conseguia se acostumar. Apenas tolerava porque não havia outra opção.

Já era ruim o bastante ter por todas essas noites ido dormir pensando em uma mulher que durante todas essas mesmas noites se deitava ao lado de outro. Imaginar isso era torturante, mas suportava o melhor possível, pois pensar em Daiana antes de dormir afastava de sua mente imagens terríveis que ele gostaria de esquecer. Infelizmente, não impedia seus pesadelos quando adormecia.

Piorou, porém, depois que finalmente a reencontrou pessoalmente. Não parava de pensar em seu rosto, que não mudara nada, até sua voz e risadas eram as mesmas das quais se lembrava. Depois daquele encontro, aceitar a realidade se tornou ainda mais difícil.

Daiana sempre fora o seu porto seguro, mesmo quando na HYDRA o faziam se esquecer dela, então logicamente supôs que pensar nela antes de dormir faria com que tivesse uma boa noite de sono. Estava errado. Ele sempre era assombrado por alguma lembrança de sua época como Soldado Invernal. Já não tinha mais esperanças de alguma vez conseguir dormir uma noite inteira com tranquilidade.

Então ligou a televisão na esperança de afastar aquele mal estar e sonolência, pois nem se quisesse conseguiria adormecer ou cochilar com o som de buzinas no lado de fora, cachorros latindo e um casal discutindo no apartamento ao lado do seu. A noite estava fria, então a suave brisa que entrava pelas frestas das janelas mal feitas e tocavam sua pele aquecida, tornava o suor gélido e o fazia estremecer. Mas pouco se importava. Apenas puxou o cobertor e cobriu as pernas, buscando por algum canal que pudesse distraí-lo.

A mão que segurava o controle remoto abruptamente parou de clicar para os próximos canais quando reconheceu, em completo repudio, o rosto do engomadinho loiro que era todo sorrisos para a câmera, como da vez que assistiu o presidente anuncia-lo para o mundo. Observou que ao redor do estádio que fora decorado com as cores da bandeira para recebe-lo, haviam muitas pessoas, uma plateia, com cartazes repletos de mensagens positivas e encorajadoras para o novo Capitão América. Aquilo o enfurecia.

Todos aqueles dançarinos e até mesmo uma banda. A porra de uma banda! Aquilo era o que? Um show de circo?

Eram desprezíveis. Em nenhum lugar, e ele procurou pelo o que a câmera mostrava na tv, encontrou qualquer coisa referente a Steve. Eles estavam mesmo querendo substituir seu amigo e isso só lhe dava mais vontade ir até a casa de Sam e socar a sua cara, e depois ir até aquele estádio e socar o queridíssimo Capitão América falsificado.

E que droga de traje era aquele? Enrugou o nariz ao analisar de cima a baixo o que o homem vestia. As letras no canto inferior da tela tinham os dizeres:

John Walker é nomeado o novo Capitão América.

Para contribuir com o completo tédio e mau humor de James, a entrevistadora começou a citar todas as conquistas e missões muito bem sucedidas que constavam no currículo daquele homem com quem Bucky nunca trocara uma palavra, mas o odiara no primeiro momento que soube de sua existência. Isso foi quando ele descobriu, há alguns meses, que era o sobrenome dele que sua mulher carregava.

Fechou os olhos e respirou fundo para corrigir aquele pensamento possessivo e errôneo. Daiana não era dele e oficialmente nunca foi. Mesmo que a verdade fosse dolorosa, era apenas a verdade. Tudo o que eles tiveram foram planos e um quase que quase deu certo. Mas a guerra destrói muitas coisas, mesmo depois que acaba.

— O governo fez um estudo do seu corpo — dizia a repórter enquanto imagens do treinamento intensivo de John passavam na tela para os telespectadores — e você ultrapassou os padrões em cada categoria mensurável. Velocidade, resistência, inteligência... — continuou citando e a imagem da câmera voltou para a entrevista, onde o homem, aparentando estar tímido, sorria e mexia-se em sua cadeira.

— Olha, é o seguinte — a cortou educado. — Eu não sou o Tony Stark, não sou o dr. Banner, 'tá bom? Eu não tenho equipamento que brilha, não tenho superforça. Mas o que eu tenho é coragem — dizia com uma determinação que fez Bucky revirar os olhos e se conter muito para não desligar a tv. — Uma coisa que o Capitão América sempre teve, sempre precisou ter e eu vou precisar dela, porque... eu tenho alguém por quem estar à altura — ele olhou para um canto, algo ou alguém no canto da tela e atrás da câmera, e algo em Bucky lhe dizia que muito possivelmente poderia Daiana estar alí.

E honestamente, não soube ao certo como se sentir em relação a isso.

— Você conheceu o Steve Rogers? — Finalmente mencionaram o verdadeiro, pensou Bucky, mais concentrado do que pensou que ficaria.

— Sim, desde sempre — sorriu e James franziu o cenho, pois não sabia daquilo. — Inclusive, como todos sabem, o Steve e a minha querida esposa, Daiana, eram grandes amigos. Eles lutaram juntos por muito tempo e o Steve costumava frequentar a nossa casa e parabenizou a nossa união.

Sendo aquilo verdade ou não, foi como se o homem tivesse acabado de ser apunhalado no peito sem piedade alguma. Tinha o direito de se sentir traído quando Steve dissera a ele que gostaria de vê-lo junto com a Daiana? Cogitou a possibilidade daquele mauricinho metido estar mentindo para conseguir mais fama, admiração e atenção. De sua pessoa, Bucky definitivamente tinha as piores imagens.

— Oh, e eu vi que a senhora Walker também está presente, não é? — A apresentadora começou a olhar em volta, buscando a figura entre tantas.

— Sim, é claro — o sorriso do homem aumentou, olhando diretamente para uma direção atrás das câmeras, a mesma que olhara antes, confirmando a suspeita de James. — Vem cá, amor — estendeu a mão para alguém.

— Por favor, senhora Walker — insistiu a outra mulher, com um microfone em mãos. — É também uma heroína, não precisa ser tímida.

Houve alguma insistência por parte dos dois, pois aparentemente Daiana parecia resistir com firmeza. Bucky sabia o quanto a mulher detestava ser o centro das atenções, principalmente depois da HYDRA, então assistir ao vivo aquela cena o deixou inquieto. Por fim, quando a plateia começou a gritar para que ela subisse no palco no centro do campo de futebol, ela finalmente cedeu com visível desconforto.

A viu em um terno feminino escuro, subir de salto alto os poucos degraus e acomodar-se na cadeira posta para ela ao lado de John, que sorria grandioso como se ela fosse a coisa mais incrível que já pisara na terra, e Barnes sabia que era. A presença dela alí, em seu campo de visão outra vez, mesmo que através de uma tela pequena, o distraiu um pouco da raiva que direcionava ao homem, mas esta voltou para ele quando o viu estender a mão e entrelaçar seus dedos. Piorou quando a viu sorrir meio tímida, os ombros encolhidos claramente diziam a todos o quanto estava desconfortável.

E ainda assim ele sorri e insiste para que ela se ponha em uma posição que lhe desagrada, apenas para que apareça bem na televisão. Respirou fundo para tentar se acalmar. Ela não é mais problema seu, James. Dizia a si mesmo.

— Então, sra. Walker — a mulher passou sua atenção para a morena. — Qual foi a sua reação quando descobriu que o seu marido assumiria o legado de Steve Rogers, seu melhor amigo?

Aquela pergunta fez com que Barnes desviasse um pouco de sua raiva, e curioso se focasse em sua resposta.

O sorriso nervoso em seus lábios poderia ser interpretado como timidez, ao invés do extremo desconforto por aquela ser apenas a primeira pergunta dirigida a ela e que a levou de volta para todas as emoções ruins que sentiu quando descobrira. Não poderia, obviamente, dizer a público que odiou e que pediu ao marido para abdicar disso. Então respirou fundo e ainda mantendo com dificuldades o sorriso nos lábios, respondeu:

— Em choque — riu fracamente e todos a acompanharam.

Ela e John sabiam muito bem que não foi no bom sentido como terceiros pareceram imaginar.

— Eu imagino. Não é todo dia que se recebe a notícia de que seu marido se tornou o novo Capitão América — como esperado, o comentário apenas confirmou a suspeita dos dois que disfarçaram muito bem se mantendo sorridentes. — E como você descobriu?

— Pela tv — respondeu. — Ele manteve segredo.

— Mesmo? — Intercalou o olhar curioso e empolgado entre os dois. — E o que a senhora fez quando ele chegou em casa?

— Eu estava furiosa por ele ter me escondido algo assim — apesar de Daiana se esforçar para se manter em tom leve para não levantar suspeitas do que realmente aconteceu, ela sentia a tensão do marido ao seu lado, certamente com medo de que ela falasse algo que poderia manchar sua imagem. Não seria bom se viesse a público que a própria esposa, figura mais próxima de Steve Rogers, rejeitara a ideia de ele ocupar aquele espaço. — Detesto surpresas, principalmente se forem coisas tão importantes como foi o caso. Esperei ele acordada para que pudesse cobrar isso. Sorte do John que eu não tinha a minha vassoura por perto — brincou para descontrair qualquer clima que pudesse se formar, como parecia ser o caminho ao qual estavam indo.

— E por falar em vassouras... — a entrevistadora fez um mistério. — A senhora pretende em algum momento voltar a ativa agora que seu marido é um herói?

— O John sempre foi um herói — ela corrigiu e deu de ombros, se recostando na cadeira. — Ele sempre salvou vidas, a diferença é que agora carregará um escudo que representa muita coisa para muitas pessoas, principalmente para mim — ajeitou-se em seu assento, inquieta. — E eu nunca tive treinamento militar ou qualquer coisa apropriada, tampouco fui uma agente como já ouvi algumas pessoas comentarem. Eu era apenas uma faxineira que conheceu alguém disposto a me ensinar autodefesa, e quando fui ver, eu acidentalmente estava envolvida em alguns problemas e não podia mais fugir — riu fraco. — O que eu não sabia, tive que aprender ou improvisar. Era uma sobrevivência e a minha única arma era um cabo de vassoura.

Ouvindo-a, Bucky soube que ela se referia a ele. Quando se conheceram, Daiana era terrível em qualquer confronto físico. Ele a ensinou muito pouco pelas poucas vezes que puderam se encontrar antes de ele ir em uma missão do exército, e outras muitas vezes quando ela conseguia conquistar outra e outra vez a sua confiança quando ele estava preso na HYDRA e tinha a memória apagada. Mesmo exausta da repetição, ela nunca quis que ele se esquecesse dela, mas principalmente de si mesmo. Em troca, por não querer que ela em algum momento fosse ferida como ele, aproveitava os momentos que tinham a sós para lhe dar algumas dicas de ataque e defesa, pois eram ainda menores as vezes que podiam de fato treinar um com o outro sem serem vigiados pelos guardas ou cientistas. Temia que se descobrissem a aproximação dos dois, ela fosse executada.

— Então devemos agradecer o seu professor de autodefesa?

Daina hesitou por um momento, desviando o olhar para baixo e aquilo deixou James confuso ao mesmo tempo que algo se agitava em seu peito, sem saber se era bom ou ruim. Ela estava pensando nele naquele momento? O que pensava?

— É por causa dele que eu ainda estou viva...

Haviam tantas formas de interpretar aquela frase, dita de maneira lenta e repleta de emoções que conseguiram atingi-lo em cheio mesmo com tamanha distância. Ela não olhou para ninguém quando a disse, como se estivesse falando para si própria.

Terceiros poderiam entender aquilo, como foi o que pareceu, como um "se essa pessoa não tivesse me ensinado autodefesa, eu não teria conseguido me livrar de situações difíceis e teria sido morta há muito tempo". Mas dizia mais. Dizia muito mais e os dois sabiam disso. E apenas eles.

Por algum motivo, do qual não soube descrever, aquela frase parecia dizer a Barnes mais do que ele realmente imaginava, e não parecia bom.

....

Sam, carregando uma bolsa pesada, descia as escadas com os pensamentos bagunçados, o que também não ajudava no seu humor eram os cartazes por todos os lados dizendo "O Capitão está de volta". Era estressante para ele também.

Pensando que seu dia não poderia piorar após a entrevista dada no dia anterior apresentando oficialmente ao mundo o novo Capitão América, respirou fundo pedindo a si mesmo para ter paciência. Como se para testar o seu autocontrole, em seu campo de visão surgiu um James totalmente vestido de preto e a típica cara emburrada vindo em sua direção com passos pesados e olhar que lhe dizia que se pudesse, o estrangularia alí mesmo.

Era de se esperar que o homem só viesse ao seu encontro quando algo o incomodasse, visto que todas as suas anteriores tentativas de entrar em contato com Barnes foram falhas. Bucky não era alguém que se poderia encontrar quando quisesse. Era ele quem te encontraria.

— Não devia ter desistido do escudo — foi a primeira coisa que disse em alto e bom som antes mesmo que estivessem próximos o suficiente para que ninguém ao redor os ouvisse.

— É bom saber que continua vivo, Bucky — murmurou passando por ele e seguindo seu caminho.

Barnes pensou em repreendê-lo por chamá-lo daquela forma, mas irritado demais com outra coisa, deixou passar desta vez.

— Isso 'tá errado — sem disfarçar sua raiva, murmurou mais baixo acompanhando seus passos.

— Olha só — usou do tom de aviso ao perceber que em seu estado um pouco mais alterado, o homem seria capaz de criar uma confusão por nunca ter sido um exemplo de paciência e calmaria. — Eu estou trabalhando — o lembrou, não querendo que por culpa dele acabasse se metendo em algum problema com seus colegas ou fosse prejudicado no trabalho, principalmente quando financeiramente as coisas não estavam muito boas. — Então essa raivinha toda, que com certeza não é só por causa do escudo, vai ter que esperar.

Bucky bufou e respirou fundo.

— Não imaginou o que iria acontecer? — Entendendo o seu lado, tentou conter um pouco a voz, por mais difícil que fosse.

— Não, claro que eu não imaginei o que iria acontecer — expressou sua revolta também. — Acha que eu não fico arrasado vendo eles chamando esse cara de novo Capitão América?

— Não era o que o Steve queria — disse o que os dois já sabiam. — E ela sabe disso — balançou a cabeça para os lados em completa descrença, ainda um pouco ressentido por Daiana se mostrar a favor daquela palhaçada. — E você não deveria ter entregado o escudo — voltou a elevar um pouco a voz.

— Aí, pode parar com isso — impaciente, parou de andar e o encarou de frente. — Toda essa merda poderia ter sido evitada, então também é culpa sua — acusou-o, batendo o indicador no peito de Barnes.

— Minha culpa? — Franziu o cenho apontando para si próprio com confusão, pois não via aonde havia sua influência para aquela desgraça.

— Se não fosse tão covarde teria ido atrás dela no primeiro momento que saiu de Wakanda...

— Foi isso que eu fiz — o interrompeu cerrando as mãos em punhos, não gostando de tocar naquele assunto. — E a encontrei casada.

— Que se dane. Se intrometesse no casamento deles — revirou os olhos e James o olhou boquiaberto.

— Como é? — Estava incrédulo com as palavras do outro.

— Só há uma pessoa que poderia evitar toda essa situação quando começou ficar ruim, e é a Daiana. As pessoas admiravam os Steve e se agarravam a ele com esperança, e quando ele se foi, se agarraram a Daiana por ela ser a pessoa mais próxima dele. A confiança que tinham nele, passaram para ela. Muitas pessoas a veem como uma segunda voz do Steve, portanto a opinião dela é vista como a dele — Bucky tentava entender aonde Sam queria chegar com tudo aquilo. — Então se a Daiana, em qualquer momento, vir a público e falar que a desagrada ver outra pessoa ocupando o lugar do Capitão América, o mundo vai apoiar as palavras dela e vão sofrer tanta pressão que o John seria obrigado a abdicar do posto ou ser expulso.

— E onde exatamente eu tenho alguma culpa nisso tudo? — Cruzou os braços.

— Que se você tivesse sido um destruidor de lares e agarrado aquela mulher, ela estaria do nosso lado e não apoiando aquele projeto de herói que deu errado — com pronuncia rápida, respondeu revoltado apontando o dedo para a cara fechada do outro. — Mas nãão — com sarcasmo, arrastou a última palavra. — Ficou com essa porcaria de "ela está melhor se mim" e blá, blá, blá e agora o carinha de Up - Altas Aventuras 'tá brincando de ser super-herói. Muito obrigado pelo seu cavalheirismo — foi irônico. — O marido dela não é você, então é claro que ela não vai ficar contra ele.

— Ela está melhor sem mim — se defendeu e Sam revirou os olhos outra vez para aquela baboseira que o deixava entediado de tão brega.

— Vai continuar com a babaquice — esfregou a testa.

— A gente pode conversar com ela — sugeriu ignorando-o. — É só você ligar — apontou para o bolso da calça do outro, onde podia ver o contorno do celular.

— Ah claro, porque ela é tão comunicativa e acessível quanto você.

— Odeio a sua ironia — disse com seriedade, controlando-se muito para não perder a paciência com ele, afim de não trazer mais problemas aos dois.

Sam balançou a cabeça.

— Ela não vai nos ouvir. Acabou, Barnes — deu um passo para trás, desanimado e decidido. — E eu tenho problemas maiores para resolver — olhou para o avião na pista que apenas o aguardava para decolar.

— E o que pode ser maior que isso? — Sua raiva parecia aumentar a cada palavra trocada com o velho companheiro de batalha.

Então Sam puxou o celular do bolso, mas não para o proposito que Bucky desejava. Mexeu em algo e lhe mostro a tela, onde havia uma fotografia de uma pessoa, um homem, mascarado e de cabelos longos que tocavam os ombros com alguns cachos. Nada mais era visível além dos olhos escuros.

— Esse cara. As conexões dele com organizações rebeldes por toda a Europa oriental e central. Ele é forte — enfatizou enquanto Bucky ainda analisava a fotografia com tédio. — Muito forte.

— E? — Sam quis socá-lo por tanto desinteresse quando o assunto era claramente muito sério e preocupante.

— Parece que ele está conectado com esse grupo online chamado Apátridas — Bucky suspirou pesadamente, esfregando as pálpebras que começaram a latejar pelo estresse. — O Asa Vermelha rastreou eles até um prédio em algum lugar fora de Munique, então é para lá que eu estou indo — dando a conversa por encerrada, e a raiva mais atiçada pelo tédio estampado na cara de James, saiu andando na direção do avião sem se despedir.

— Eu não confio no Asa Vermelha. Nem um pouco — rebateu Bucky o seguindo outra vez para o total desagrado do Wilson.

— Você não tem que confiar no Asa Vermelha, mas eu vou ver se ele está certo porque eu acho que isso faz parte dos grandes três — justificou impaciente.

— Que grandes três? — Bucky franziu o cenho e parou de andar quando Sam também parou, olhando-o com uma sobrancelha erguida como se ele fosse estúpido por perguntar aquilo.

— Os grandes três — repetiu como se fosse algo que literalmente todo mundo sabia, e Barnes seria um estranho por não saber algo sobre aquilo.

— Que grandes três? — Insistiu confuso.

— Androides, aliens e magos — começou a listar erguendo um dedo para cada um.

— Isso não existe — James semicerrou os olhos, e agora era ele quem olhava para o outro como se Sam fosse um estúpido.

— É claro que existe.

— Não existe, não — insistiu com firmeza.

— Sempre que lutamos, enfrentamos um desses três — rebateu.

— Quem você 'tá enfrentando agora? O Gandalf? — Zombou indignado com sua insistência em algo tão idiota.

— Olha... — Sam apertou os olhos, desconfiado. — Como é que você sabe sobre o Gandalf?

— Eu li O Hobbit — informou-o. — Em 1937, assim que foi lançado — ergueu um pouco o queixo com arrogância por aquela informação, como se por aquilo fosse de alguma forma superior.

— Então você me entendeu — apontou Sam, com um pouco de esperança no semblante.

— Não! — Respondeu mais alto. — Eu não entendo. E se apontar esse dedo 'pra mim de novo, eu vou quebrar — empurrou sem delicadeza alguma a mão do Wilson para longe do seu peito. — Não existem magos.

— Doutor Estranho — Sam rebateu rapidamente com confiança.

— Ele é um feiticeiro.

Então Sam riu alto, voltando a erguer o dedo e apontar para ele com coragem ou muita burrice.

— Um feiticeiro é um mago sem chapéu.

Tudo o que James fez foi olhá-lo como se fosse a pessoa mais idiota que ele já tivera o desprazer de conhecer, e perguntou-se como Steve conseguia tolerá-lo com tanta facilidade. Não o surpreendia que Daiana também o estivesse evitando.

— Pensa nisso — reforçou sorridente, de forma que não estivera até minutos atrás, mas recebeu como resposta do de braço de metal um revirar de olhos tedioso. — Mas olha só, essa não é a questão, esses caras não são mágicos — voltou a ser mais sério e profissional, deixando as brincadeiras a parte de lado. — Eles usaram força bruta, assim como você — apontou para ele outra vez, olhando-o de cima a baixo. — Um maluco incrivelmente chato na minha frente que adora me encarar feio como se fosse arrancar o meu pescoço — saiu andando outra vez, dando a conversa por encerrada.

— Vontade não me falta, eu garanto — persistente, James voltou a segui-lo para o desagrado do outro. — E eu vou com você — tomou sua decisão, pois duvidava que Sam poderia lidar sozinho com pessoas tão habilidosas e fortes como ele dizia.

— Não vai, não.

Oieee. Capítulo ficou um pouquinho mais longo que o normal, mas é que eu tava empolgada com a volta do Sam 😅

John: a

  Bucky: 🙄🙄

Que saudade que eu tava da interação dessa dupla aaaaaaaaaaaaaa

O Sam joga na cara mesmo. Fala tudo o que a gente tem vontade kkkkkkkkkkkkk

Pra ficar completo, só falta a Daiana com o Sam e o Bucky de novo 🥺🥺

No próximo capítulo vamos ter a primeira interação do Bucky com o John e os pensamentos deles sobre um do outro hihihi

• ✨ Espero que estejam gostando ✨ 


Continue Reading

You'll Also Like

93.2K 8.3K 77
Graziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apega...
13.8M 849K 69
Mais uma história de amor, ou dor.
57.2K 5.8K 57
Adolescência pode ser a fase mais divertida da vida, mas, quando algo sai fora do programado, ela se transforma em algo bem difícil. Julia não sabia...
863K 42.9K 117
"Não deixe que as pessoas te façam desistir daquilo que você mais quer na vida. Acredite. Lute. Conquiste. E acima de tudo, seja feliz!" PLÁGIO É CRI...