Capítulo 1 ❁ Maçãs e dúvidas

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Ele almejava viver um amor. Seria capaz de amar alguém?

ㅡ Querido, eu tenho que ir à cidade amanhã. Posso não estar aqui quando acordar. O café estará pronto, cuide-se, está bem? ㅡ assentiu. ㅡ Precisa de algo de lá? ㅡ Comeu o último pedaço de sua batata.

ㅡ Eu queria mais telas de pinturas, e aquela tinta... Qual o nome dela?

ㅡ Aquarela? ㅡ Dorothy riu fraco ao notar a expressão pensativa de JungKook.

ㅡ Isso... aquarela ㅡ Ele sorriu assim que Dorothy disse que traria suas duas coisas pedidas, agradecendo-a e desejando uma boa noite.

Correu até o banheiro para escovar os dentes e, por fim, ouvir música até dormir. Notou a presença de Ariel ao seu lado, dentro da banheira vazia.

ㅡ Ainda bem que está sem água ㅡ Disse, rindo fraco.

Pegou-a no colo assim que terminou, fechando a porta e seguindo caminho para o quarto de seus pais.

O aparelho de CD sempre ficava em um baú dentro do armário, misturado com fitas de músicas antigas de seu pai, que nunca se desfez do walkman antigo, e outras tralhas. Contudo, havia algo diferente. Um diário antigo embaixo do aparelho amarelo e rosado. Ele de fato adorava aquelas duas cores, talvez por influência de sua mãe, ou talvez por achar aquela combinação bonita.

Um caderninho desconhecido, com uma capa marrom e o desenho de um chapéu em dourado, a mesma cor da cordinha fina que o fechava. Não lembrava de ter visto aquele diário anteriormente. Como ele poderia ter parado ali? Seu pai estava longe há quatro dias, e sua mãe não saiu de casa.

Além de curiosidade, sua cabeça contava com uma enorme interrogação. Não perderia a chance de ler o que está escrito ali, perderia? Pegou o aparelho, o pequeno caderno e Ariel, trancando o baú com o pé depois. Correu para o seu quarto, fechando a porta e abrindo a janela.

ㅡ Você está aqui, Pandora ㅡ Sorriu, animado por ver o animalzinho saindo debaixo do travesseiro, espreguiçando em cima do lençol e deitando em seu colo ㅡ Sua folgada.

Ariel acomodou-se na grade da janela, pondo-se a apreciar o céu estrelado e os vagalumes que flutuavam entre as árvores.

ㅡ O diário não é da Dorothy, eu conheço a letra dela. É bonita demais para ser do meu pai. É estranho não ter uma assinatura ㅡ folheava o diário com cuidado, procurando por uma identificação, mas realmente não havia nada ㅡ Olha, Pandora, parece uma história inventada ㅡ JungKook dizia enquanto lia de relance algumas páginas aleatórias.

Aquilo nunca poderia ser real.

Cogitou ser uma história para dormir, inventada para contar para bebês pegarem no sono. Era tudo doidinho demais, um verdadeiro conto de fadas. Seu pai era um escritor secreto? Será que Dorothy escreveu quando ele era pequeno?

Será mesmo que foi algum deles? Aquela letra bonita e o caderno enfeitado, algumas páginas pintadas aleatoriamente, com desenhos muito coloridos e diferentes da arte que costumava ver. Monet, Goya e Leonardo Da Vinci, obras desses pintores eram fascinantes para o garoto, porque ele sempre tinha uma interpretação nova cada vez que se deparava com elas. A mesma arte o deixava com milhões de ideias na cabeça.

Entretanto, as pinturas do diário pareciam um caos, deixavam-o confuso, eram muitas cores misturadas em desenhos estranhos.

Lebres que pareciam estar piradas. Castelos que aparentavam ser de época. Cavalos brancos de guerra. Gêmeos não idênticos usando jardineiras azuis escuro. Gatos com sorrisos enormes. Cogumelos de dois metros de altura. Cartas de baralho que falam. Buracos em árvores que passam elefantes. Fadas e elfos. Magia, muita magia. Florestas assustadoras durante a noite e mágicas durante o dia. Uma chuva de cor sem ligação com a realidade, seria aquilo um retrato da cidade que nunca conheceu?

Ouvia as músicas mais calmas possíveis, acústicas, e em sua maioria do One Direction. O som do violão o relaxava e o deixava com sono.

Ariel miou, subindo em sua cama e deitando por cima dos lençóis finos que se encontravam na ponta. Logo estaria ronronando com o carinho suave que JungKook fazia com o pé em seu pelo branquinho.

ㅡ Boa noite, Ariel. Olha essa história, é de um chapeleiro. Ele mora em um lugar magnífico, onde tudo é possível e o inimaginável é real. Diz que sua única garantia de vida são os relógios, e quando o tempo parar ele saberá que está morto. A hora do chá é a mais importante, é quando a floresta fica colorida e o gato os visita, para contar acontecimentos e histórias novas. Ele escreve apenas para si, e diz que se um dia outro alguém ler, é porque ele precisa de ajuda. Será que o chapeleiro está bem?

O coração de JungKook apertou. Sentia-se um tolo, como ele pediria ajuda por um caderno? Teria que estar sob efeito de um pó mágico, como o da sininho do filme do Peter Pan. Coisas mágicas não existem, não no mundo real. JungKook pegou sua caneta preta favorita, que usava para escrever cartas para sua avó que morava longe.

ㅡ É impossível ele me responder, não é? Um caderno não é como um computador. Ele nunca vai ver isso, Pandora.

Mal sabia JungKook que existe um lugar onde o "nunca" se torna opção. A fantasia existe, os passarinhos falam, gatos são a sua bússola e todos são loucos.

ㅡ Querido chapeleiro, você está bem? Desculpe, eu li o seu diário, e estou preocupado agora. O tempo parou? ㅡ Sussurrava as palavras à medida que escrevia nas folhas em branco do diário ㅡ Você pode ler isso? Eu posso ajudá-lo? ㅡ Fechou, amarrando o pequeno fio dourado que prendia o diário.

Deixou que Pandora e Ariel dormissem consigo naquela noite. Estava tão frio e o garoto tinha medo da chuva e das trovoadas ㅡ que de fato foram iniciadas em um momento repentino, afinal, não imaginaria que poderia chover, o dia foi todo ensolarado.

Finalmente deitou em sua cama, abraçando o travesseiro e pegando no sono. Terminar seu livro estava em seus planos para a manhã seguinte, precisaria estar descansado para isso.

JungKook, um garoto sonhador e perdido na grandeza do mundo. Durante o dia, gostaria de viver em uma distopia qualquer, mas no fim queria apenas ser ele mesmo, ele de verdade. Sempre sonhara com o impossível. Sua fantasia favorita poderia se tornar realidade?

Sendo assim, quem seria mais perigoso: o dragão que cospe fogo ou o homem armado montado em um cavalo branco?

Coelho de Tarpe • [taekook]Onde histórias criam vida. Descubra agora