Annie e Jonah

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- Obrigado a todos pela presença, prometo que serão breves momentos que passaremos aqui, estamos todos cansados, afinal. – Disse Jonah com seu sorriso sempre presente. – Temos praticamente o mesmo pessoal de sempre, e alguns membros novos na família.

Katherine observou a todos. Estava há tantos anos com aquele grupo que os considerava realmente uma segunda família, principalmente agora que não tinha nenhuma. Quando começou a trabalhar no camping, Annie e Jonah eram recém-casados, e Annie tinha herdado do pai aquela área. Como passara toda sua infância acampada ali, nada mais justo que dar continuidade ao negócio que o pai amava e pelo qual se dedicou por toda sua vida. Annie... Uma vez a amiga lhe contara sua história:

O senhor Johnson namorava a mãe de Annie há dois anos quando ela engravidou e o deixou radiante com a notícia, ele sempre sonhara em ser pai. No mesmo dia em que a menina nasceu, discretamente, a moça deixou o hospital escondida e nunca mais foi vista. Annie foi criada pelo pai e pelos avós paternos com todo amor e carinho. Seu pai nunca mais se envolveu seriamente com alguém, dedicara-se apenas e totalmente para sua filha pequena e para seu empreendimento. Jonah, dois anos mais velho que Annie, era um dos campistas, e por seis anos, esteve curtindo o verão com seus amigos. Ele amava demais aquele lugar, tanto que assim que completou 16 anos, pediu trabalho para o pai da ruiva. Após dois anos trabalhando na administração do camping, começou a namorar a filha do patrão. Casaram-se três anos mais tarde e poucos meses após o casamento, o pai de Annie veio a falecer. Problemas no coração, disseram os médicos. Annie estava desolada, faltavam poucos dias para abrirem as portas do acampamento. Foi naquele ano que Katherine chegou lá, com seu sorriso amável, um amor inocente pelas crianças, um olhar crítico para algumas coisas e uma seriedade vista em poucas pessoas da mesma idade. Ela e Annie se deram bem imediatamente, a ruiva apesar de triste era uma ótima companhia. Doidinha, piadista e com um senso de responsabilidade que não era visto em muitas moças tão jovens. Ela e Jonah tinham muito orgulho de estarem à frente de algo que fora tão importante para o pai da moça.

Annie, a ruiva destrambelhada, sua grande amiga. Com olhos castanhos, pele muito branca e algumas poucas sardas no nariz, e Jonah, seu esposo lindamente bronzeado, com um sorriso arrebatador e olhos verdes eram o que ela tinha de mais precioso em sua vida no momento. Foi para Annie que ela correu quando seu melhor amigo Tom resolveu jogar em sua cara que não poderia mais andar com ela, pois pertenciam a classes sociais diferentes; foi para Jonah que ela ligou desesperada quando sua mãe faleceu. Foi para ambos que ela contou em primeira mão que iria para São Paulo. E agora, enquanto não prestava atenção nas palavras de Jonah, pensava em como sentiria falta daqueles dois. Estavam juntos ali naquele acampamento há nove anos, era a funcionária mais antiga da casa além do próprio Jonah. Em toda última noite do acampamento, após colocarem as crianças para dormir, Kath, Jonah e Annie se deitavam no telhado do prédio da administração e ficavam observando as estrelas e conversando sobre o verão, os pontos altos e baixos, o que poderiam melhorar e o que deveria ser descartado, erros que não precisavam ser cometidos novamente e acertos que deveriam ser mantidos. Colocavam Kath no meio para ambos mexerem em seus longos e encaracolados cabelos castanhos. Para Kath, Annie e Jonah eram como irmãos. Para o casal, Kath também era uma irmã. Equipe melhor que aquela não existia.

Disfarçadamente, Kath secou suas lágrimas. Ela não costumava chorar em público, mas, ela realmente, sentiria muito a falta daqueles dois.

- Você não está bem, Kath! – Aquilo não foi uma pergunta, ela notou.

- Estou sentindo falta da minha mãe, Annie – Ela não quis contar que já estava sofrendo por antecipação, só deixaria Annie animada para tentar dissuadi-la. – Muita falta mesmo!

Annie passou o braço nos ombros da amiga, e Katherine colocou a cabeça no ombro da moça. Não era mentira, ela realmente, sentia falta da mãe o tempo todo. Quando voltou a olhar para frente e tentar prestar um pouco de atenção no que Jonah falava, viu que ele estava chamando alguém.

- ...E após todo esse tempo tendo me desdobrado com Annie e com a Kath, que sempre dedicou suas noites de descanso para ficar horas na administração descascando abacaxis que não estavam previstos, esse ano, teremos um novo gerente. – A pessoa que o rapaz chamou parou ao seu lado – Esse é o Hugh, nosso novo braço direito. – Disse abrindo seu sorriso mais lindo e passou o braço no ombro do rapaz.

- Esse carinha não era campista ano passado? – Perguntou Katherine para Annie.

- Ano passado não, mas, há dois anos ele era campista aqui, sim.

- Então, ele tem o que, dezenove anos? E o Jonah contratou um cara novo para a administração? O ideal não seria ele trabalhar como monitor, assim como todos nós? – Perguntou uma indignada Katherine.

- Quando você veio trabalhar aqui era mais nova que ele, Katherine, deixa de ser chata! E ele está na administração, pois faz faculdade de administração, então, será de grande utilidade. E ele é um gatinho!

- Seu marido ainda é o cara mais lindo desse camping, Annie – a ruiva deu uma cotovelada no braço da amiga – mas, realmente, esse cara é um gatinho. E ele me parece familiar... – Nesse momento, a voz do marido de Annie se sobressaltou.

- Hugh é o irmão caçula de Louie, nosso monitor há uns anos, e foi ele quem me chamou a atenção para o currículo de Hugh. Nosso gerente aqui foi campista, queria ser monitor, mas, devido ao curso que faz na faculdade, achei que seria bom tê-lo aqui na gerência. Seja bem vindo, Hugh!

Todos aplaudiram Hugh, e Kath sorriu maliciosamente. Pensou nos sobrinhos trigêmeos do Pato Donald, Huey, Louie e Dewey. "Onde estará o outro pato?" pensou ela. Riu novamente, dessa vez com menos discrição, enquanto analisava Hugh. Ele realmente era lindo. Um tom de pele mais clara que a sua, provavelmente filho mestiço de negro com branco, com olhos castanhos e puxadinhos, possuía um largo e brincalhão sorriso no rosto, em sua boca dentes muito brancos e perfeitamente alinhados, provavelmente fruto de aparelho de correção ortodôntica. Impossível um sorriso tão perfeito assim! Cabelos pretos caiam em cachinhos por suas orelhas e testa, uma charmosa e pequena cicatriz na bochecha, e grossas sobrancelhas completavam o rosto dele. Realmente, belo! O oposto de Louie, que tinha os cabelos louros e olhos verdes. Com certeza, filhos de negro com branco. "Apesar de serem completamente diferentes, eles também são completamente parecidos" pensou novamente. Foi quando notou que estava encarando o garoto há um tempo, e isso não passou despercebido por Annie.

- Estou vendo seus olhares. Pode deixar que vou sondar ele para você! – Disse Annie com um sorriso maldoso nos lábios.

- Deixa de ser besta, Annie. Ele realmente é gatinho, mas, além de ser menino de tudo, ele não é o mais lindo daqui. Já disse que esse posto é de Jonah! – Respondeu sorrindo.

- Mas, Jonah já tem dona há anos, e está na hora de você...

- Papo bravo esse, Annie, papo bravo! – Cortou a amiga. Ela viu o esposo da amiga pedir silêncio. – Jonah vai falar mais alguma coisa.

- Só pra encerrar: Katherine, obrigado por todos esses anos nos ajudando na administração. E agora temos o Hugh, é verdade, mas, não dispenso sua ajuda, minha amiga. Você ainda será muito bem vinda após seu turno no nosso escritório, ok? – Disse sorrindo e fazendo toda a galera sorrir também.

Katherine não teve como não sorrir. Fato comprovado: ela sentiria muita falta deles mesmo!


Amor Pra RecomeçarOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz