Capítulo 4

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- Pronto, te contei tudo. Agora eu vou embora- já ia me levantando, mas eu senti ele segurando meu braço e me colocando sentado na cama novamente.
- Espera aí mocinho! Eu quero te fazer umas perguntas, e depois você vai tomar um banho e vamos tomar café da manhã e ai  eu te levo para casa- eu ia reclamar,mas pensando bem eu deveria aceitar já que não sei quando irei comer novamente ou até mesmo tomar um banho, então comecei a dar corda na conversa.
- O que você quer saber?
- Primeiro de tudo você está se sentindo melhor?- assenti que sim- ótimo, agora me diz, você foi no hospital para ver as facadas e o estupro?
Sabia que ele iria querer saber sobre as facadas, mas não achei que seria assim tão rápido, eu tentei não contar nada, mas eu queria muito sair da casa dele, vou vencer esse "medo" que estou sentido de contar e ele me achar louco.
- Não fui no hospital, primeiro que já apareci lá várias vezes então se eu aparecesse lá novamente, e ainda mais com cortes de faca, eles iriam chamar a polícia, e isso era a última coisa que eu queria. Antes que me pergunte, eu já fui no hospital por várias razões, uma delas é que meu pai me batia constantemente, só que toda vez que ficava mais sério eu tinha que ir no hospital e justo o hospital Andrade é o mais perto de minha casa e é lá onde eles trabalham, minha mãe é secretaria e meu pai é um cirurgião cardíaco.- suspiro tão fundo que quase me afoguei, lembrar de tudo é de certa forma horrível, lembrar de cada dor, de cada lavagem cerebral que sofri quando era menor me deixa cansado e destruído - depois que aconteceu tudo eu fiquei jogado no meio do lixo por uns 15 minutos, eu já tinha perdido muito sangue então tive que tomar providências rápidas, por sorte eu coloquei um casaco na mochila, vesti com muita dificuldade, e fui até uma farmácia, comprei todo um quite de sutura, e como estou na faculdade de medicina eu já sabia o que precisava, assim que comprei eu corri para um banheiro químico e me costurei sozinho, sim eu morri de dor, quase , quase tive uma infecção por estar fazendo num local como aquele, mas eram as circunstâncias que eu me encontrava, não tenho amigos, e nem família de verdade então pra onde eu iria sangrando? Certo, lugar nenhum. Depois de tudo eu fiquei meio traumatizado com todo o fato de eu ter que me auto suturar depois de ter sido estuprado. Enfim já te contei bastante coisa, não costumo fazer isso com uma pessoa que eu acabei de conhecer, mas eu quero ir embora, não posso ficar aqui e ser um peso, então eu vou tomar um banho porque eu estou nojento e vou embora, tenho muita coisa pra fazer. E qual é o seu nome?
-Me chamo Fernando Costa
Narrado por Fernando:
Eu não consegui falar nada, fiquei completamente paralisado com toda essa confissão. Nossa, foi tanta coisa, quando eu começo a pensar ele levanta e vai rumo ao banheiro. Levanto também o deixando à vontade e vou para a cozinha por nosso café na mesa.
Enquanto faço café finalmente consigo pensar em algo sobre Luíz.
Eu não consigo sentir nada, nadica de nada, a única coisa é pena, muita pena por sinal, eu tenho tudo, 3 irmãos que me amam e fariam tudo por mim, 2 pais maravilhosos que sempre me apoiaram em qualquer decisão, e ele? Não tinha ninguém, tinha acabado de ser expulso de casa renegado pelos pais desde de novo, estuprado e espancado, além de sofrer agressões verbais todos os dias, como ele consegue? Como? Se fosse eu já estaria em extrema depressão, ele foi tão maltratado, eu queria muito que ele viesse morar comigo, longe de mim querer me aproveitar dele, eu quero ajudar, ele está sem ninguém nesse mundo. Percebo que ele está demorando para vir tomar café, e resolvo ir atrás dele para ver o motivo da demora. E começo a escutar barulhos de choro e alguém falando algo:
- Você vai conse...conseguir sair dessa, você sempre sai! Você é forte e consegue! Se não conseguir você já sabe o que fazer.
Estava pensando em entrar, mas quando ouço ele falar que já sabe o que fazer nesses casos. Meu deus não pensei duas vezes, mas quando fui entrar no quarto escuto mais uma choradeira:
- Que merda! E-eu nã..não consigo, meu deus eu sou um merda, como que eu pude nascer nojento desse jeito, se eu fosse heterossexual seria diferente, por que seu merda? Por que sou assim nojento, sujo, repugnante? Nossa como eu odeio a mim mesmo!
Não dava mais, e tive que entrar:
- Ei! O que você está falando Luíz é muito forte, você só está se machucando dizendo isso a si mesmo - digo em um tom sério
-Por quê esta parado aí? Desde quando você está aí? E por quê ficou escutando algo particular?

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