Alexander tinha conseguido fazer seu milagre, ele não tinha só me disciplinado, como tinha equilibrado tudo dentro de mim. Em pouco tempo eu tinha me tornado o braço esquerdo dele, aquele que ficava ao lado oposto de Nathan, ainda que com a mesma intensidade de confiança. O homem, que agora eu chamava de mestre, ao ponto de quase esquecer seu nome, tinha me graduado a faixa roxa, em um tempo bem menor do que o de costume. Todo mundo comentava sobre a minha evolução, especulando os motivos que fazia Alexander gostar tanto de mim, e principalmente, achar que eu era capaz de ser graduada tão rapidamente. Claro, que as pessoas já imaginavam besteiras, como se eu tivesse coragem de um dia enfrentar Pam, ou até olhar para Alexander de outra forma que não fosse como uma filha.

Ele tinha acreditado em mim quando ninguém mais acreditou. Foi ideia dele, deixar a faculdade um semestre, para que eu pudesse fugir da confusão que tinha tornado a minha vida, assim como tinha sido ideia dele me inscrever no primeiro campeonato que participei. Ele via potencial em mim, sem que eu mesma visse, e graças a ele eu tinha me tornado uma pessoa melhor.

Eu ainda era intolerante, só que agora eu guardava meus pensamentos só para mim. Nem tudo que pensamos deve ser dito, e demorei a entender que tem que ser muito adulto para pensar dessa forma, bem ao contrario do que imaginava. Provocar uma briga não te torna forte, e sim evitar aquelas que você sabe que pode vencer facilmente.
Sim, estava bem mais madura e equilibrada.
Eu continuava uma fera selvagem, só que ninguém mais sabia disso.

Já estava vestida, com minhas roupas normais, aquelas que raramente usava, quando Nathan entrou na academia, com a sua faixa marrom pendurada no pescoço. Ele não olhou para mim, nem falou com ninguém que estivesse no tatame. O que era normal, vindo dele, nos últimos tempos.

Assim como eu, ele também tinha mudado muito. Depois que seu namoro de um ano e meio, com Mag terminou definitivamente, ele se tornou uma pessoa mais quieta. Eu já não conseguia ver o mesmo sorriso brincalhão nos olhos dele, assim como eram raras as vezes que ele falava com alguém, além do mestre.

Ele havia perdido o seu maior patrocinador, quando deixou Mag, mas aquilo não o prejudicou em nada. O que só provava o quanto eu estava certa.
Nathan tinha ganho o campeonato mundial junto comigo, tinha subido ao pódio ao meu lado, para tirar foto com a equipe, e ainda sim não pronunciou nem uma palavra em minha direção.
Tudo tinha mudado entre nós, definitivamente.

Mas quanto mais eu vivia naquele mundo, e mais gostava do que tinha me tornado, mais me atraia por ele. Nathan não era mais o garoto que eu conheci, ele tinha crescido muito, se é que aquilo era possível, já que o garoto era enorme.
Seu corpo estava mais definido, os olhos mais focados, o semblante mais carregado, assim como sua postura que agora parecia insuperável. Ele não era como a maioria em cima daquele tatame, não, ele tinha se desenvolvido mais até que alguns faixas pretas. Tinha ganho respeito de todos, com a mesma velocidade, que lotou a parede do seu quarto improvisado com medalhas.
O que só encheu o mestre, ainda mais, de orgulho do seu aluno prodígio.

Mas a mudança de Nathan não assustava só a mim, Alexander já começava a notar o quanto ele tinha se transformado, quando ele não fez questão de voltar para casa no Natal, dando preferencia pelos colegas de treino em uma festa improvisada. Parecia que ele tinha perdido o apreço que tinha pelas coisas simples, tinha se tornado mais obscuro, o que devo confessar, me atraiu ainda mais que as inúmeras tatuagens que ele fez ao longo do corpo.

-Estou indo embora Mestre.- gritei para que o homem pudesse me ouvir.

Nathan olhou na minha direção, com as sobrancelhas unidas, de forma bastante contrariada. Como se ouvir a minha voz danificasse seu sistema auditivo. Os olhares furiosos, e a irritação em suas feições, eram cada vez mais frequentes na minha direção.

Quase, sem quererOnde histórias criam vida. Descubra agora