Capítulo II

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Angélica

Angélica era uma bela mulher, alta, magra, de olhos e longos cabelos negros, a caçula de cinco irmãos e a única mulher entre eles. Seus avós eram imigrantes romenos. Ela fora mimada desde que nasceu. Sua mãe acreditava estar prestes a dar à luz outro menino, quando a parteira anunciou se tratar de uma "bela menina" ela não cabia em si de tanta felicidade e disse que a menina era um presente de Deus, um anjo, por isso chamou-a de Angélica.

Todos na casa a paparicavam demais. E assim ela cresceu, tornando-se uma moça insuportavelmente arrogante. Seus pais a deixavam mandar e desmandar, seus irmãos cediam a todos os seus caprichos, exceto o mais velho, Grigori, que não gostava do jeito como a irmã tratava as pessoas. Era desdenhosa e debochada com os desfavorecidos, porém ela conscientemente ignorava um detalhe, sua família tinha muitas posses sim, mas somente os homens tinham o direito à herança da família, ela, a única filha teria de arrumar um bom casamento para garantir seu futuro, ou terminaria solteira e pobre.

O tempo foi passando, os três irmãos mais velhos, Grigori, Lion e George já haviam se casado só restando solteiros Nicolai que era um ano e meio mais velho que Angélica, e ela própria, porém para Nicolai não havia pressa, já para Angélica o tempo era inimigo. A família já começava a dar sinais de impaciência e as cobranças haviam começado. Vez ou outra surgia algum rapaz interessado, mas ela tratava logo de lhe arrumar algum defeito, e o pobre rapaz desistia.

A mãe de Angélica, Maria Liana, era a mais preocupada com o futuro da filha e embora tivesse contribuído muito na formação de seu caráter, sabia que o mau gênio da filha a prejudicaria muito na vida, inclusive a arrumar um marido. Que homem aceitaria uma mulher como ela? Mimada, caprichosa, cheia de vontades. Maria Liana se culpava por não ter sido mais rigorosa na educação da filha, para seu próprio bem. Mas era tarde e o mal estava feito, agora só restava a ela tentar aconselhar a filha e abrir seus olhos para o futuro que a aguardava caso não conseguisse um marido.

Certo dia, Victor Aaronson, pai de Angélica, anunciou que teriam convidados para o almoço do dia seguinte, tratava-se de um fazendeiro da cidade vizinha, Theodor Schinaider e seu jovem filho, Antony Schinaider. Pelo olhar que Victor lançou a Maria Liana, quando falou o nome do filho do visitante, a mulher entendeu quais eram as intenções do marido.

À noite, quando estavam a sós no quarto, Victor que não era de dizer o que pensava, era homem de poucas palavras, quebrou o silêncio, virou-se para a mulher e disse:

- Maria, quero que prepare sua filha para o que acontecerá amanhã!

Ela conhecia o marido e sabia que teria de perguntar para que ele prosseguisse.

- E o que acontecerá amanhã, senhor Aaronson? - Ela perguntou meio zombeteira, apesar da rudeza de seu marido, ele tinha um bom coração, e ela sempre achou graça de sua falta de jeito.

- O filho de Theodor, virá amanhã para conhecer Angélica, e se ela o agradar ele lhe fará a corte.

- Meu marido, nossa filha não vai gostar nada dessa história, ela já disse que escolherá seu próprio marido, sabe como ela é.

- Pois diga-lhe que se ela recusar a corte desse rapaz eu a mandarei morar com Grigori e Petra! - Victor falou com os dentes cerrados.

Grigori, o filho mais velho dos Aaronson era casado com Petra, eles já tinham cinco filhos e estavam à espera do sexto, tinham um filho por ano. Angélica tinha horror à casa do irmão, com todas aquelas crianças correndo, gritando e chorando por todo lado. E quanto a aparência de Petra, dizia que nunca viu beleza mais desperdiçada.

Petra era linda quando se casara com Grigori, Angélica tentava não demonstrar, mas na ocasião sentia inveja da beleza da cunhada, mas agora seis anos e quase seis filhos depois, sua aparência já não era mais a mesma. Petra já não tinha tempo de cuidar dos cabelos, engordara alguns quilos, vivia correndo atrás dos filhos, sempre com um ou dois enganchado dos lados.

Livro 1 - Entre a Fronteira e o ValeWhere stories live. Discover now