Capítulo III - Esfriando a cabeça

107 25 11
                                    

Havia perdido completamente a fome, decidiu voltar para o dormitório, no caminho pôde perceber que estavam todos abatidos, o diretor estava um pouco desconfiado, como se achasse que seria apedrejado a qualquer momento. Dina sentia raiva dele.Oras, ele não devia ter dito aquilo, pelo menos não no primeiro dia, mas no fundo ela sentia pena. Esse é o seu trabalho, dar notícias, boas ou ruins.
Quando Dina chegou ao dormitório, sentou-se na cama, abriu uma de suas malas, e depois de procurar um pouco achou uma foto: ela, sua mãe, seu pai ( desaparecido a 8 anos), e seu irmão. Dina tinha nove anos, era de dia, e ela estava com os cabelos presos, algumas presilhas azuis nele, seu irmão estava com uma fantasia de marinheiro ( era seu aniversário), a mãe dela estava com uma pintura no rosto, uma borboleta e por fim seu pai, estava fantasiado de marinheiro também. Era uma bela família, dessas que passam na TV, mas naquele mesmo ano o pai dela viajou a negócios e nunca mais ninguém falar nele, a polícia não se importou tanto com o caso .
Dina passou a mão na foto, sentia falta daqueles momentos, deitou-se na cama agarrada com a foto, quando já ia adormecendo, escutou passos, curtos, e rápidos, no começo pensou que era sua mãe, mas não tinha como, Dina viu ela entrando no carro, então era Cristy. Três batidas de leve na porta:
-Posso entrar Dina?- era seu irmão, a pessoa que ela menos esperava ver.
- Júnior ? -diz ela sentando-se da cama -Entra.
-Como você está?
-Como alguém que só vai ver a mãe duas vezes no ano.Isso era realmente necessário? Tirá-los de nós? -Ela pergunta isso com a voz trêmula.
-Talvez seja - ele diz isso pegando a foto das mãos de Dina -quer dizer, é como o diretor falou, temos de ter prioridades, e o que podemos fazer? Mamãe aceitou vir para ilha, assim como todos os outros, estão a trabalho.
-No outro trabalho não ficávamos vendo ela só duas vezes no ano.
-No outro trabalho morreríamos de fome.
-Ela pediu para eu cuidar de você- fala Dina apontando para sua mãe na foto.
-Falou com ela?
-É uma longa e cansativa história que eu não quero contar hoje
- Certo, mas agora acho melhor você descansar, vai precisar de pelo menos umas quinze horas de sono para tirar essa cara inchada de choro.
Os dois se despediram e Dina imaginou-se na sua antiga casa, uma hora dessas ela estaria colocando em ordem . Dina pôs a foto na mala e deitou-se novamente, eram tantas lembranças, tantas saudades, toda essa bomba num único dia, no seu primeiro dia. Estava sentindo tanta falta daquele tempo, dos seus nove anos, da sua família junta.Dina adormeceu perdida em tantas lembranças.

***

Ela acordou com Cristy chamando-a, eram por volta das cinco horas da manhã, Dina acordou meio tonta, não estava acostumada com aquele horário.
-Ei, Bela Adormecida acorde! Temos que ajudar na limpeza do domicílio. - Fala Cristy puxando o lençol de Dina.
-Além de tudo isso temos que ser empregados.
Dina estava com raiva, não tinha dormido quase nada e ainda tinha que arrumar o lugar que foi o palco da sua despedida com a mãe.


Sobre VoarKde žijí příběhy. Začni objevovat