A CULPA

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[Número Desconhecido]
Estou no Rio.
É o Fernando.

Relendo pela terceira vez a breve mensagem, Danilo não percebeu, mas deixou estampado em seu rosto o quanto estava chocado. Ele apertou o próprio celular na mão quando Paulo o puxou, não queria soltar, mas o fez depois de olhar sério do mais alto.

— Você 'tá falando sério?! – Pedro, de olhos arregalados, leu a mensagem quando Paulo lhe mostrou o celular. – Por que ele fez isso assim do nada?!

— O que aconteceu? Por que essa tensão? – Erick, sorrindo, abraçou Pedro pela cintura e o apertou enquanto recebia um beijinho no topo do cabelo. – Tenho novidades sobre aquele quadro que você me pediu pra verificar.

— Erick, o Fernando mandou uma mensagem pro Danilo. – avisou baixinho. Imediatamente, Erick ficou sério e encarou o empresário, cliente e grande amigo.

— Mensagem?! Cadê? O que ele disse? – Paulo também mostrou a ele o celular alheio. – Eu não acredito nisso. Como ele pode ser tão-

— Cínico? Dissimulado? Filho da puta? – Danilo disse depois do silêncio que ajudou a digerir aquela situação. – Ele sempre foi assim, mas demorei tempo demais pra perceber. – tomou o celular para guardar no bolso. – Eu não sei porque fiquei surpreso, pessoas cretinas não têm a mínima noção.

— A irmã mais nova dele nos procurou. – Erick suspirou antes de explicar um pouco mais a situação a Pedro e Paulo. – Aconteceu um acidente e já devem estar falando sobre isso na TV. O Fabrício morreu num acidente de avião e o seu Leonardo se feriu, está em coma. A Flávia nos procurou porque querem vender parte da construtora.

— E de todas as empresas de investimentos na porra desse país eles precisavam procurar a do Danilo?! – Paulo, mais nervoso que o normal, gesticulou – É muita cara de pau!

— O conglomerado da Fagundes é o melhor do mercado atualmente, mas eles procuraram outras opções, acho que ir até o Danilo foi a última justamente por tudo o que aconteceu. – o advogado encarou Danilo com carinho, conseguia perceber o olhar sempre tão doce tornar-se duro e distante. – Danilo, conversamos sobre isso hoje, você sabe que deve dizer não e esquecer isso. É o melhor.

— Não quero falar sobre isso agora. A Júlia tá aqui e eu não passo um tempo com ela há dias, não quero pensar em nada além da minha filha. – dando as costas, se afastou em direção a cozinha.

— Você sabe que isso vai empurrar para fora dele toda a merda que a gente levou anos pra guardar, não sabe? – Pedro, num suspiro cansado, foi retórico. – Vou fazer alguma coisa.

— Lá vai você e sua capa de super-herói. – Paulo rolou os olhos.

— Não sei. – Erick ergueu a mão e tocou o lábio inferior com as pontas dos dedos, um gesto familiar, ele sempre o fazia quando pensava em busca de uma conclusão. – Tem coisa que simplesmente precisa acontecer.

— Você tem o contato dos Borges Brasil, Erick? – ele assentiu para a pergunta de Pedro. – Por favor, me passa. Eu vou procurar o Fernando.

Paulo, irritado com o posicionamento apaziguador de seu irmão mais velho, rolou os olhos outra vez e sorriu de forma debochada.

— Faz isso, manda aquele cuzão do caralho esquecer a existência do Danilo! – disse entredentes. – Porque se esse filho da puta se atrever a chegar perto, juro que dou nele a surra que devo há anos!

Então, ele também se afastou.

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— Painho, o que é divórcio? – a voz manhosa de Lucas junto da pergunta curiosa, fez Caetano parar de organizar os colchões para encarar o filho mais velho.

RELICÁRIO - How Do You SleepWhere stories live. Discover now