- Você faria isso? - perguntou e eu vi esperança em seus olhos.

E como resposta eu me lancei em um abraço. Nunca imaginei que um abraço tão apertado pudesse me libertar do sufoco que eu sentia estar. Foi como se todas as lembranças ruins, brigas, discussões estivessem sido apagadas. Eu só conseguia me lembrar da mãe que estava sempre do meu lado, apesar de eu pensar que ela desaparecera. Mas não, ela estava ali.

- Eu te amo... Mãe. - Senti ela soluçar e sorri, incapaz de fazer outra coisa.

Perdi a noção do tempo em que ficamos ali abraçadas, ainda assim desejei que se prolongasse; Talvez o tempo equivalente aqueles três anos fosse suficiente.

Quando nos afastamos, ela disse: - Estava com saudades disso.

Eu ri.

- Eu também. - lhe disse. Então, saímos do quarto. Ao descermos as escadas, olhei para trás e vi que havia alguém no quarto ao lado do meu; no quarto que eu já considerava de Vicky e Miguel.

- Eu já estou descendo - disse à Alessandra. Voltei e entrei no quarto estranhamente vazio. Miguel, deitado na cama, descansava com os olhos fechados. Abaixei-me ao seu lado e observei-o sem me mostrar. Não parecia ter participado da noite anterior de tão sereno que estava. Lindo como sempre fora e me passando aquela conhecida sensação de tranquilidade. Me dei conta do quanto eu o amava.

Ao alisar seus cabelos devagar, me deparei com aqueles olhos negros me encarando. Sobressaltei-me.

- Te assustei? - ele perguntou com um riso contido.

- Podia ter falado que estava acordado. - reclamei.

- Não tinha percebido que você estava aqui. - disse ele. Ele se sentou e eu me sentei a sua frente. Era hora de saber o que estava tanto me incomodava.

- Miguel, lembra que antes daquele carro nos levar, quando você veio buscar Victória, você me disse algo? - falei sem perder tempo.

- Claro, mas...

- Era verdade? Estou me referindo ao que sua mãe falou. Sobre nós sermos irmãos. - fui direta.

Miguel ficou atônito e eu agonizei naquele segundo em que ficou calado.

- Claro que não Eliza! Eu não acredito que você ficou pensando nisso até agora. - ele parecia nervoso consigo mesmo.

- Eu não tive oportunidade de perguntar... - me desculpei.

- Eu devia ter esclarecido isso logo... - ele suspirou pesadamente, em seguida sorriu. - Não, Eliza. Não somos.

Fiquei inteiramente aliviada em saber que não era uma completa amoral por estar apaixonada por meu próprio irmão.

Retribui seu sorriso enorme.

- Mas o que aconteceu? Como sua mãe...? - comecei tentando formular as perguntas que ainda estavam confusas estavam em minha mente. - Se não éramos, porque ela disse que sim?

- Ela me contou o que aconteceu - disse ele. Em seguida, começou a narrar a conversa que tivera com sua mãe dias antes.


"'As evidências pareciam óbvias, eu tinha certeza.' Minha mãe disse.

'E as evidências se tornaram óbvias logo agora? Mesmo tendo 17 anos para você perceber as evidências?' eu lhe disse. Ela continuou.

'Só agora que tudo veio á tona, eu mal recordava dessa história com Igor, foi quando contei a Victória que eu sabia ser filha dele. Eu já tinha a suspeita antes, mas nunca precisei de uma confirmação. Não quando nós quatro... (ela se referia a mim, Vicky, ela e meu pai.) vivíamos tão felizes. Não quando eu via a semelhança entre você e o Marcos'.

'Mas porque, mãe?' eu lhe perguntei 'Porque você se precipitou assim?'

'Entenda, Miguel. A Victória me contou sobre você e a Eliza. Eu não poderia permitir. Se vocês fossem realmente irmãos, até sair a confirmação de verdade, seria tarde'.


- Essa foi sua explicação - disse Miguel. - Eu ainda não acredito que o que ela disse quase me deixou longe você. Não sabe a dor, a angustia que eu sentia Liza. E a raiva dela por ter agido assim. - Miguel tremia e eu via nos seu olhos a fúria.

- Não! Não. - eu balancei a cabeça quase desesperada. - não culpe sua mãe. Não brigue. Não fale, faça nada..! Não deixe... Mãe, não..

Ele me olhava sem compreender, mas o fez num instante. Ele balançou a cabeça como para espantar pensamentos.

- Tem razão. Mesmo tendo sido quase desastroso o que ela fez, não foi culpa dela. Ela só pensava em meu bem - Ele disse e vi que estava sendo sincero. Relaxei.

- Então, esquecer é o melhor, não é? - falei, embora ainda me assustasse com a possibilidade de parentesco, ainda que falsa, entre mim e o homem que eu amava. Miguel me puxou para o seu lado, ajeitando meu braço engessado com cuidado sob si, onde me aconcheguei.

- Mas porque você não me contou o que estava acontecendo? Porque resolveu se afastar e só? - eu disse, depois de algum tempo.

Senti ele respirar pesado.

- Eu acho que fui um burro. Eu sei que deveria ter lhe contado, mas guardar aquilo só para mim pareceu ser a melhor solução. Não queria que você ficasse do estado em que eu fiquei quando eu soube.

- Foi pior pensar que eu lhe causava algum tipo de repulsa. - falei baixo. - Mas espere aí... Aquele dia em que você voltou, hum, diferente, eu não tinha lhe dito sobre hum, te gostar profundamente.

Ele riu de leve e eu me senti patética.

- Eu supunha, para falar a verdade. Sabe quando eu lhe dei esta pulseirinha? - ele brincou com ela em meu braço. - E você estava sonolenta...

- Hum.. Que bobagem eu disse? - perguntei apreensiva.

- Você resmungou - ele sorriu - meu nome. Em seguida disse: "quero ficar com ele".

- Que discrição a minha. - disse, envergonhada.

- Devia ver o quanto fiquei presunçoso naquela noite. - ele rolou os olhos.

- E... - iniciei incerta. - aquilo o que você disse é verdade?

- Sobre o quê?

- Sobre você não me odiar intensamente. - disse.

Ele balançou a cabeça com um riso nos lábios.

- Como poderia? - ele alisou meus cabelos. - Eu te amo, de verdade, Liza. Você não sabe quanto tempo estou querendo lhe dizer isso. - Escondi o rosto em seu ombro deleitando-me com o momento. Nada poderia apagar a alegria que sentia.

- Esse fim de semana não foi o melhor presente de aniversário que você poderia ter, não é? - perguntou, afagando meu braço.

- Na verdade, acho que tudo isso serviu para algo. Eu fiz as pazes com a Alessandra. - disse.

- Isso é maravilhoso.

- E vi o quanto estou cercada de pessoas que me amam. E o quanto eu as amo também.

- Mas só de imaginar... - ele olhou para meu braço engessado.

- Esquece isso também. Estamos aqui e isso é o que importa. - interrompi.

- Importa mais que tudo. - disse e em uma segunda vez, ele se aproximou seu rosto do meu. Nossos lábios se juntaram em um beijo gentil, que fez meu coração bater mais que dolorosamente contra o peito. Naquele segundo, eu estava imensamente feliz; nada mais no mundo importava.







O irmão de minha irmãNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ