Epílogo

147 30 2
                                    


E há uma névoa deslumbrante
Um jeito misterioso seu, querido
Eu te conheço há 20 segundos ou há 20 anos?

— Taylor Swift.

— Anta! — gritou minha mãe, do outro lado do telefone. — Você foi uma anta, Heloísa.

— Mãe, não fala assim comigo!

— Ele vai se casar! Está em todos os jornais de Liechtenstein.

— Como raios a senhora sabe o que tem nos jornais do reino?

— Eu acompanho pela internet. Não acredito que perdi a chance de ser a mãe de uma princesa.

— A senhora não está ajudando.

— Desculpe filha. — ela suspirou, do outro lado da ligação. — Se você saiu de lá é porque não gostava dele tanto assim. Eu entendo. Ignore as minhas brincadeiras, eu vou superar o fato de que nunca tomarei um café da tarde como uma nobre. — imaginei que ela estaria revirando os olhos. — Irei tirar o bolo do forno. Pegue um ônibus e venha para cá no fim do mês, é perigoso que você fique sozinha nessa casa.

— Eu estou lotada de trabalhos na faculdade mãe, mas irei tentar. Eu te amo.

— Eu te amo. — ela desligou. Coloquei uma playlist aleatória no celular e a música Lover da Taylor Swift começou a tocar.

Quatro meses se passaram. Quatro meses em que a minha vida tinha voltado ao normal e o normal começara a parecer insuportável. O pior de tudo era que a minha mãe estava errada. Se eu tivesse saído de lá porque não gostava dele seria mais fácil, mas não era o caso.

Eu gostei tanto dele que tinha medo de que, se me apaixonasse, despencaria tão rápido e tão intensamente que jamais poderia me recuperar de tal sentimento.

Como era possível que eu pensasse nele todos os dias? Eu o conheci por míseros cinco dias, não vinte anos! A cada dia que passava parecia que havia sido apenas um sonho. Um sonho muito maluco em que eu virei refém, atirei em um bandido, viajei para outro continente e entrei em um palácio de verdade.

O pior de tudo é que não havíamos nem trocado número de telefone. Eu não sabia como se comunicar com ele e sabia que, mesmo se tentasse, ele provavelmente era um homem inalcançável.

Abri a conta do banco. Agora eu tinha pix. Um milhão em pix. Eu nem sabia ainda o que faria com todo esse dinheiro. Parecia errado estar com tanta grana que não era minha. Era do povo de Lichtenstein. Mesmo que o euro estivesse muito mais caro que o real, eu sentia a necessidade de devolver, mas para onde? Nem isso eu podia.

— De casa?! — alguém gritou, batendo no portão. Me levantei do sofá, que havia se tornado estranhamente o móvel que eu mais ficava desde que eu havia voltado, e abri a porta.

— Não estou esperando nenhuma encomenda.

— Heloísa Rodrigues Souza? — ele conferiu no envelope.

— Sim, sou eu mas...

— É uma carta. — ele estendeu o elegante envelope de papel cartão branco com detalhes em dourado e selo de cera com brasão. Meu coração se acelerou. — Pode assinar aqui?

Nunca assinei nada tão rápido em toda a minha vida. Agradeci o carteiro e corri para dentro, tentando abrir o envelope sem que o estragasse. Peguei uma faca pequena que facilitou o processo. Quando abri, só havia uma única frase no meio do enorme papel em branco.

"Eu não vou me casar".

Roí minhas unhas por uma semana

К сожалению, это изображение не соответствует нашим правилам. Чтобы продолжить публикацию, пожалуйста, удалите изображение или загрузите другое.


Roí minhas unhas por uma semana. Quem ele pensava que era me mandando uma carta escrita com apenas: eu não vou me casar! O que isso significava? Que um dia eu o veria de novo? Que ele não se casaria e me desejava boa sorte para que eu também nunca me casasse? Era uma espécie de praga? Eu o odiava.

Me deitei no sofá enquanto Bacon descansava ao chão ao meu lado. Eu sabia que já estava tarde, mas eu não conseguia dormir. Ficava imaginando como teria sido dá-lo pelo menos um beijinho. Ele parecia saber como fazer bem isso. Esmaguei meu ursinho de pelúcia em meu rosto enquanto me auto julgava por sentir saudade.

O pior de tudo era que eu nem podia contar a história para alguém. Quem acreditaria que um príncipe havia invadido a minha casa? Isso sem falar na minha participação na preservação da paz mundial. A minha própria mãe só acreditou quando eu mostrei o castelo. Eu seria internada em um hospício.

Um barulho de alguém tentando abrir a janela me fez saltar de medo do sofá. Eu tinha colocado trancas agora. Peguei uma faca afiada e comecei a ligar para a polícia quando a trinca da janela quebrou com o esforço do ladrão e um homem entrou.

— Nem latir você late agora? — olhei para Bacon, que permaneceu confortavelmente deitado em seu tapete. Ele praticamente dizia: se defenda sozinha, humana!

— Alô, qual é a ocorrência?

— Tem alguém invadindo a minha casa. Venham rápido, por favor, eu moro na rua...

Então eu o vi. Era ele. Com um buquê de rosas vermelhas na mão.

O meu ladrão.

— Qual a rua? Senhora?

— Foi trote, me desculpe.

— Afe, outra adolescente idiota que... — desliguei a ligação, com o coração prestes a explodir.

— Essa trinca não é das melhores, mas eu estou feliz que tenha aprendido a ficar mais segura, Liebe.

Deixei a faca cair ao chão. Quando ele me olhou, foi como se todos os girassóis se abrissem ao meu redor.

— O que faz aqui?

— Não recebeu a minha carta? Pensei que entenderia que eu viria. Meu pai espalhou boatos errados na esperança de que eu voltasse atrás, mas eu não menti para você Isa nem cogitei novamente o casamento.

— Você só disse que não iria se casar. Não explicou o resto.

Ele estendeu o buquê.

— São para você. Não sabia se gostava de rosas, se não gostar eu posso comprar outras...

— Gael! Você não pode abandonar seu próprio país de novo. Vai sair nos noticiários que você cancelou o casamento... — porque mesmo eu estava discutindo isso? Eu não queria que ele se casasse!

— Eu não poderia me casar, não sem saber se tem alguma chance de eu ser seu pretendente. Você é verdadeira Isa, me acolheu sem saber se eu era um bandido ou um marginal e me ajudou mesmo sem me conhecer. — ele se aproximou, colocando o buquê no balcão na cozinha. — Por favor, me diga se foi apenas coisa da minha cabeça. Você sentiu algo a mais por mim? Se eu estiver agindo como um louco me avise...

— Você agiu como louco no dia em que invadiu a minha casa! — o interrompi, vendo sua expressão se entristecer. Percebi que tinha que continuar a frase. — Você tinha razão. Eu sei muito bem o que quero, só tenho medo de realizar.

Gael voltou a me olhar, tão profundamente quanto um predador.

— O que você quer, Isa?

Andei até ele, envolvendo meus braços ao redor do seu pescoço. Nos beijamos ao mesmo tempo. Como eu havia imaginado, ele realmente sabia como fazer aquilo.

— O que significa Liebe? — perguntei, depois do terceiro beijo.

— Amor. — ele acariciou o meu rosto.

— E onde você pretende ficar?

— Sabe, eu estou correndo grande perigo e preciso de ajuda... — ele me pegou no colo.

— Gael!

— Eu estou hospedado em um hotel. Temos um encontro marcado amanhã. Vamos comer aquele acarajé que você me pediu.

— Tudo bem. Uma dúvida. Se um dia você me pedir em casamento, eu terei aquele anel perigoso? — perguntei, gostando da sensação de ter um namorado príncipe. Decidi não devolver o dinheiro. Iria doar para alguma instituição. Se eu virasse princesa, não precisaria mais ser rica.

Gael sorriu.
Como eu senti falta daquele sorriso.

— Ele está guardado para você.

Gael e IsaМесто, где живут истории. Откройте их для себя