1 - SAMMY - PARTE 2

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E só quando observo meu reflexo molhado e assustado no espelho é que me dou conta: ele me chamou de moça?

"Moça, você está bem?" sua voz ecoa em meus ouvidos.

— Moça? Quem ele pensa que é para fingir que não me reconheceu? Esse babaca! Ou será que ele realmente demorou tanto para me reconhecer? Será que já não se lembrava de mim?

E assim o filho de uma boa puta usou em mim o que planejei usar contra ele. Sinto uma raiva tão grande dentro de mim, que nem sinto mais o frio da água gelada ou do vento de inverno que sopra agora.


Brenda espera por mim recostada à parede quando deixo o banheiro. Seu sorriso é muito mal contido, é fácil perceber a fúria em seu olhar.

— Você provavelmente quer ir embora, mas não pode. Se caiu na piscina a culpa não foi minha, espero que não seja incompetente e veja ao menos o salão onde vai acontecer o casamento, como veio fazer.

— Claro! Vamos em frente.

Ela sorri satisfeita e a sigo até o tal salão. O lugar é realmente esplêndido. É amplo e sofisticado, possui detalhes arquitetônicos impressionantes e design elegante. O espaço é bem-iluminado, com janelas amplas que permitem a entrada de luz natural, as paredes são revestidas com papel de parede texturizado, painéis de madeira trabalhada e até mesmo pinturas de artistas renomados. Espero que ela me diga como gostaria dos arranjos, quais flores gosta, quais cores predominarão em seu casamento, mas ela não o faz. Observo tudo lamentando pensar apenas em cravo-de-defunto e orquídea Tacca Negra, a flor-morcego. Por que suas aparências combinam tanto com a personalidade dos noivos se não posso ser sincera e oferecê-las a eles? Dois funcionários me passam as medidas completas do salão e Brenda fica de me enviar fotos do lugar, assim como todas as informações que ainda não decidiu para que eu possa começar a planejar sua decoração.

E quando penso que estou livre da presença dela, ela me arrasta até onde estão, de verdade, suas amigas, na área social da luxuosa mansão. De repente estou diante de três mulheres da alta sociedade, três cópias de Brenda, por assim dizer, enquanto uso jeans e tênis que pingam conforme me movo. O vento frio incomoda agora, soprando a pele e me fazendo estremecer. Eu não queria conhecer potenciais clientes como estou agora, nem sequer tentarei encontrar meus cartões, não adianta nada distribui-los a elas quando tudo o que estão fazendo é rir de mim, olhando-me da mesma forma que Brenda olha. De cima.

E isso nem me importa, na verdade. Eu poderia me irritar e colocar Brenda em seu lugar diante de suas amigas, mas não tenho forças para isso agora. Éder está aqui, há alguns metros de distância, em algum cômodo próximo fingindo que não me reconheceu. E mais do que ter sido eu a fingir isso diante dele, eu queria de verdade, ter sido indiferente a reencontrá-lo. Não queria que meu coração estivesse assim acelerado, nem que cada batida dele pesasse, como agora.

— Essa é sua decoradora? Você tem certeza disso, Brenda? — Uma de suas amigas pergunta.

— Claro! Éder fez questão de ajudar a ex-mulher — ela dispara e cerro as mãos em punhos quando os olhares de suas amigas se tornam mais escrutinadores e seus sorrisos mais maldosos.

Como se dissessem a ela silenciosamente com esses sorrisinhos afetados que ela não tem que se preocupar comigo. Eu poderia responder a isso de tantas formas, mas não o faço. Não consigo dizer nada, apenas permito que elas riam de mim. De repente, um tecido quente e macio é colocado sobre meus ombros. Olho para o lado e há um homem alto, os cabelos são castanhos claros e os olhos parecem possuir o mesmo tom caloroso. Ele sorri exibindo covinhas e me estende a mão.

— Prazer, sou Oliver.

Toco sua mão agradecendo pelo sobretudo que ele colocou sobre meus ombros, as amigas de Brenda estão agora em silêncio observando-o atônitas.

— Se vocês já acabaram, e acredito que sim, irei levar a Srta. Sammy para casa agora — ele comunica, mas Brenda emite um som semelhante a um grunhido estridente.

— De maneira alguma! Era só o que me faltava! Ela veio sozinha, não vai se importar por voltar sozinha.

— Não seja infantil, irmãzinha — ele provoca e então percebo a semelhança entre eles. — Vai cair uma chuva em breve, não custa nada levá-la.

Brenda cruza os braços e diz em um tom firme e baixo:

— Você não irá levá-la em casa, Oliver. Ela vai embora sozinha, como veio. Você não levou nenhum dos outros empregados, por que a levaria?

Ele me observa com pesar, acatando as ordens da irmã e me canso disso, me canso dos olhares debochados, de Brenda se divertindo ressaltando que sou uma funcionária aqui e a ex-mulher de seu noivo. Tiro o sobretudo quente lamentando assim que o frio toca minha pele e o estendo de novo ao belo irmão dessa vaca.

— Agradeço sua gentileza, mas não preciso de carona. Seu sobretudo molhou, sinto muito.

— Você pode ficar com ele, nos veremos mais vezes, eu pego na próxima — ele oferece e praticamente empurro a peça de roupa em seu peito com uma recusa educada, espero.

Então me viro em direção a Brenda e preciso respirar fundo antes de falar com ela. Dessa vez o faço na sua frente, mesmo que assim ela saiba que me afetou. Bem, tudo esta noite deu errado, mas foi a última. Daqui para frente quem dará as cartas serei eu. Nunca mais Éder Castello vai me desestabilizar assim. Abro a boca para me despedir, quando escuto a voz dele, desestabilizando-me completamente de novo. Praguejo por ele conseguir isso sem que eu nem mesmo o esteja vendo, apenas por saber que está tão perto de mim.

— Eu vou levá-la em casa, Sammy — ele diz.

— Éder, você não precisa... — Brenda começa, mas ele a corta.

— Estou indo levá-la — ele diz firmemente. — Nos falamos depois! Vamos, Sammy? — Insiste estendendo a mão em minha direção.

Agora ele se lembra de mim. Eu adoraria segurar sua mão estendida e acabar com a noite divertida de Brenda saindo com o noivo dela, mas não estou pronta para lidar com Éder neste momento. Por isso, dou um passo na direção dela e digo com um sorriso:

— Espero que tenha se divertido bastante esta noite, querida.

— O que quer dizer com isso?

— Que enquanto eu estiver trabalhando para você não será assim, tão divertido. Ao menos não para você.

— Eu não estou te pagando por diversão — ela retruca.

— Não? — pergunto olhando para a mão estendida de Éder, seu olhar acompanha o meu e ela tem uma expressão engraçada, como se estivesse gritando por dentro. — Não quero sua carona — respondo passando por ele, indo em direção a saída, refazendo todo o caminho que fizemos pelo lugar enorme até encontrar o portão por onde entrei.

É, no final das contas acho que sou sim madura e nada vingativa, afinal, recusei uma oferta irrecusável de sair por cima da carne seca, de mãos dadas com o noivo da mulher que me contratou com o intuito de me humilhar. Pelo menos encerrarei esta noite ensopada e não presa. E assim terei tempo de organizar meus pensamentos até chegar em casa, para olhar minha filha e não o enxergar nela.

DEGUSTAÇÃO - UMA MENTIRA PARA O CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora