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Sarah Bantley

As semanas foram passando mais rápidas do que eu imaginava. Faltava apenas uma semana para as férias acabarem e voltarmos para casa.

Agora eu estava indo para a sala de artes. Eu andava lentamente, sem o mínimo ânimo para fazer nada. Eu estava exausta e nem sabia ao certo o motivo disso.

As coisas entre mim e Kyan ficaram estranhas depois daquela nossa conversa. Ele finalmente parou de me encher o saco, mas a sensação de não o ter por perto não foi tão agradável como eu achei que seria. Não posso mentir e dizer que não senti nem um pouco de saudades das piadinhas sem graça. Mas foi melhor assim.

Abri devagar a porta de vidro da sala de artes, e entrei fazendo de tudo para a professora não notar que eu cheguei atrasada. Todos já estavam lá dentro, e provavelmente as atividades que a professora passou já começou, pois estavam todos de pé e em duplas.

— Posso saber o motivo do atraso? — escutei a professora me perguntar, fazendo os olhares de todos da sala parar em mim.

— Eu fui ao banheiro antes de vir para cá. — eu disse claramente mentindo.

A professora respirou fundo e concordou com a cabeça.

— As atividades já começaram e como chegou atrasada e não estava aqui para escolher sua dupla, vai ficar com Kyan que sobrou. — disse apontando com a cabeça para o garoto sentado em umas das cadeiras.

Ele me olhou com desgosto, e eu não fiz esforço para esconder minha infelicidade.

— Não tem nenhuma outra pessoa? — perguntei esperançosa.

— Não. Agora, Kyan vem aqui. — ela disse chamando ele, que levantou do lugar que estava sentado e veio ao meu lado.

A professora foi para perto da prateleira que tinha na sala, e voltou de lá com um rádio em mãos. Arqueei uma sombrancelha tentando adivinhar o que ela queria com aquilo.

— Hoje vamos dançar. — disse animada e colocou o rádio em cima de uma das mesas da sala.

Fiz uma careta e olhei com nojo para Kyan ao meu lado. Ele claramente não estava feliz com isso. Eu estava estranhando estar ao lado dele e não escutar uma coisa idiota, ou ele tentando me tirar do sério.

Uma música começou a tocar e eu reconheci ela. Era a música do Shrek. Que legal, a professora de artes do acampamento é fã do Shrek. Mas eu já deveria saber disso pela camiseta com o gato de botas estampado e por alguns grafites nas paredes do Burro.

Comecei a escutar a voz do cantor, me fazendo sentir a maravilhosa sensação de nostalgia ao me lembrar de mim pequena assistindo Shrek.

"So she said what's the problem baby"
Então ela disse qual é o problema baby

"What's the problem I don't know"
Qual é o problema eu não sei

"Well maybe I'm in love"
Bem, talvez eu esteja apaixonado

— Vamos pessoal, agitem aí. — disse a professora, que já estava dançando com o seu par.

Essa música nem ao menos é de se dançar em par.

Senti Kyan se aproximar de mim, me fazendo olhar para o mesmo. Começamos a dançar -contra nossa vontade- enquanto a música tocava.

Senti as mãos de Kyan em minha cintura. Mas como eu disse, essa música nem é de se dançar em par. Não entendo o porquê estava se aproximando tanto.

Eu deveria o afastar, mas não fiz isso. Só deixei meu corpo dançar devagar, assim como o de Kyan. Estávamos mais nos mexendo para um lado e para o outro. Eu não sabia dançar, e ele muito menos.

"Come on, come on"
Venha, venha

"We were once"
Era uma vez

"Upon a time in love"
Nós apaixonados

Em algum momento, meus olhos se prenderam nos olhos de Kyan, e eu não consegui desviar. Seus olhos me encaravam como se pudessem me ler.

Eu não deveria estar próxima a ele. Eu deveria ignorar sua existência, ainda mais depois que me chamou de apenas uma diversão. Mas eu não consegui ficar longe por muito tempo, e eu jogo a culpa toda no Kyan.

"We're accidentally in love"
Nos apaixonamos sem querer

"Accidentally in love"
Apaixonamos sem querer

Meu olhar sem querer desceu em direção aos lábios de Kyan, e ele umedeceu seus lábios. Não sei nem porque caralhos meu coração estava acelerado nesse momento.

Engoli em seco, quando vi ele aproximar mais seu corpo do meu. Para minha felicidade, a música terminou, e Kyan se afastou de mim.

Não sei porque, mas meu corpo reclamou disso.

— Muito bem pessoal. — exclamou a professora.

Kyan Stoker

Sai da sala de artes balançando a cabeça. Eu tinha que tirar a ruivinha da minha cabeça.

Eu não gostava do fato dela estar ocupando boa parte dos meus pensamentos diários. E por algum motivo, isso aumentou gradativamente quando nos afastamos.

Eu queria continuar o que tínhamos antes, nada sério. Mas ela não queria.

Isso se é que tínhamos algo.

Eu sei que fui um babaca ao dizer que era só diversão, mas é a verdade e não tinha como dizer isso de uma forma menos "agressiva"

Eu não quero nada sério, nem com ela e nem com ninguém. Mas minha mente é uma confusão, e ao mesmo tempo que eu não quero nada com ninguém, as vezes eu penso em como seria ter algo com ela.

Passei minha mão direita nos meus cabelos, bagunçando os fios e tentando parar de pensar na ruivinha. Se eu continuar a pensar nela tão frequentemente eu vou enlouquecer.

— Kyan. — escutei a voz doce da garota que tento fingir para todos e até para mim mesmo, que não é ninguém importante.

Me virei, vendo Sarah correr um pouco para me alcançar. Seus cabelos ruivos balançavam conforme ela corria.

— Esqueceu isso. — disse estendendo sua mão que segurava meu celular.

— Obrigado. — respondi pegando de sua mão meu celular.

Quando ia voltar a andar escutei sua voz me impedindo de continuar.

— Escuta. Não que eu goste de você, ou que sinta falta de algo... — me virei novamente para ela e a olhei atentamente enquanto ela falava. — Mas não precisa me tratar como uma estranha todas as vezes que me ver.

— Sarah, eu não quero ser seu amigo e acho que isso já estava claro. — eu disse estranhando a chamar de Sarah e não de "ruivinha" — O que eu queria com você, você já deixou claro que não quer comigo, então não vou ficar insistindo.

— Não fale como se você quisesse um relacionamento sério comigo e eu tivesse jogado seus sonhos no lixo. — ela disse tudo rápido, e vi suas bochechas começarem a ficar vermelhas. — Eu não sou obrigada a ficar com você e servir só de "diversão"

— Nunca te disse que era obrigada a nada. Mas ao mesmo tempo que você não é obrigada a isso, eu muito menos sou obrigado a falar com você se não quer ser minha "diversão". — eu disse fazendo aspas com meus dedos na palavra "diversão".

Ela abriu a boca para falar alguma coisa, mas não disse nada. Eu respirei fundo, e voltei a andar na direção que estava indo antes dela me barrar.

— Você é um idiota, sabia? — escutei sua voz gritar quando eu já estava um pouco longe.

Virei um pouco a cabeça, vendo ela com as bochechas coradas e uma expressão irritada.

— Você já me disse isso tantas vezes que parei de contar. — eu disse e vi ela bufar.

Ah, ruivinha. Você me deixa tão confuso.

I Hate YouWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu