Capítulo 5

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- Madame!? O que houve?- Perguntou uma das empregadas quando viu a jovem chegar toda molhada na residência, com os olhos inchados e o corpo tremendo.

Selene disse nada, apenas pediu para prepararem seu banho. 

A água estava bem quente, ela gostava daquele jeito. Selene pensou em algumas coisas, uma delas era se queria ser uma solteirona para sempre.

Os dias se passaram, numa quinta feira o quadro de Richard se agravou. Pediram para Christopher ir se despedir, ele não queria, mas foi. 

- Eu amei a sua mãe, mesmo depois de tudo que ela me fez. Eu amei você também garoto, mesmo você sendo estupido. Não siga o meu exemplo, seja uma pessoa boa, seja feliz. Aquela mocinha de cabelos escuros sempre amou você, não seja estupido com ela também.

Christopher não conseguiu passar da porta, não ouve despedidas. Seu pai faleceu naquele mesmo dia.

Selene tentou ignorar tudo que viveu com Christopher,  ele nunca mais seria o mesmo. A partir daquele dia, ele havia morrido pra ela. 

Christopher era covarde, rancoroso e egoísta. Não perdoou seu pai e também não se perdoou, ele não estava bem, ele estava morto por dentro e ele não queria fazer infeliz a única mulher que ele já amou em toda sua vida. Ela estava bem, e ele precisava seguir em frente.

Dois anos se passaram. Christopher viajou o mundo inteirou, conheceu muitas mulheres e tentou por diversas vezes substituir Selene, também tentou desenhar os olhos dela, mas faltava alegria e cor. Pensou em escrever uma carta, falando que ia para Londres, talvez os dois pudessem almoçar, mas provavelmente ela estava casada. 

Christopher chegou á Londres,  numa primavera. As folhas caíam no chão com leveza, ele até lembrou de um momento com Selene... Era primavera e eles ainda eram jovens, eles se jogaram num amontoado de folhas secas no meio da rua, foi o assunto da semana. Ele tinha trinta e um anos, e amava uma garota chamada Selene, e ele se arrependia cruelmente por não ter pedido perdão por toda dor que á causou, e também, por não ter pedido ela em casamento quando pode.

Christopher decidiu mudar, estava se esforçando para perdoar seu pai e se perdoar também.

Numa bela manhã recebeu um convite, era para um baile e o melhor, o convite era do duque. Os olhos do rapaz brilharam ao imaginar que poderia ver Selene novamente... Ah, ela havia virado uma lembrança para ele, a melhor de todas.

O dia do baile havia chegado, após uma semana de espera. Todos da alta sociedade estariam lá, todos queriam ir, mas isso não importava para Christopher, ele queria ver uma única pessoa. Mesmo que ela estivesse casada ou algo do tipo, ele só queria ver o sorriso dela novamente e aqueles cabelos rebeldes.

O castelo do duque estava lotado, havia pessoas de todos os cantos. A música estava alta, as bebidas estavam boas, mas ela não aparecia. Já fazia uma hora, Christopher percebeu os olhares de preocupação dos pais e irmãos de Selene.

As luzes se apagaram.

Os convidados ficaram inquietos.

Esse certamente seria o assunto do ano.

Christopher tentou se movimentar no meio da multidão, ele conseguiu ouvir a voz dela... Será que estava enlouquecendo? Ele continuou  a se movimentar.

As luzes se ascenderam.

Selene estava com um vestido branco, parada no topo da escada. Seus cabelos não estavam bagunçados, com toda certeza a duquesa havia escolhido o penteado.

Ouve um silêncio.

Christopher foi na direção da moça de cabelos escuros, que ele amava a mais de dez anos. 

Selene deu um passo e caiu, rolou pela escada.

Todos se desesperaram, Christopher foi até ela. Ajoelhado no chão do salão, ele a segurava enquanto buscavam socorros. As costas dela estavam ensanguentadas, ela estava partindo, mal tinha forças para dizer qualquer coisa.

- Eu sempre te amei. Nunca quis me casar porque, eu sempre soube que você era o amor da minha vida, mas eu não te merecia e ainda não mereço.

As lágrimas escorreram dos olhos perigosos de Seline, ela passou sua mão no rosto dele e ele segurou a mão dela enquanto ela o tocava pela última vez.

- Acho que não posso mais te esperar, eu...

Os olhos dela não piscaram mais. Ele a beijou pela primeira vez, a beijou com todo seu amor, ele a beijou pela última vez. 

Ele a amou, mas deixou o remorso e seu passado tomarem proporções grandes em sua vida. Ela o amou e nunca colocou nada nem ninguém acima dele, ela faleceu com vinte oito anos, ela não se casou, pois o que seria um casamento sem amor?

 Ela escreveu mais de 365 cartas pra ele ao decorrer de sua vida e nunca teve resposta.

Não sabiam ao certo a causa da morte, havia boatos de que o pai dela estava traindo o rei. Outros diziam que a mataram por vingança. Mas  não importava, ela estava morta.

Uma semana depois, Christopher carregou uma arma e foi até o cemitério. Ele havia comprado rosas brancas pra ela, eram as favoritas dela.

 Estava nublado, as folhas das árvores caiam pela grama. Ele sentou ao lado da sepultura dela, deixou as rosas lá, carregou a arma...

- Christopher.- Era a voz de selena, o rapaz olhou para trás e lá estava ela, como um anjo, caminhando pelas flores.

Ele se levantou, se aproximou... Estavam cara a cara, mas ele não conseguia tocá-la.

- Ainda sinto seu cheiro pela minha casa, eu não vou conseguir, eu não quero conseguir.- As lágrimas escorreram pelos olhos verdes do rapaz.

Selene sorriu.

- Eu esperei você chegar e você voltou para mim. O que aconteceu não foi sua culpa, não tente sempre colocar a culpa em alguém. A sua vida não acabou ainda.

- Ah, Selene. Eu amo tanto você, nem sei se é possivel amar alguém assim.- Dizia o rapaz, enquando olhava para a maldita arma.

- Sei que não fará isso, você é mais forte do que pensa. Não importa o lugar que estivermos ou a situação, o que sentimos um pelo outro nunca mudara. Agora devo ir.

Ela desapareceu entre as folhas secas das árvores, e ele largou a arma. 

Eles foram Christopher e Selene, foram melhores amigos e se amaram verdadeiramente. Não é possível ter o  controle de tudo que acontece em nossas vidas, não é possível controlar totalmente os nossos sentimentos. Ele tinha medo e rancor e ela tinha pressa para viver.
Christopher viveu sua vida, tentou. Sempre que ia dormir pensava nela, tentava lembrar do cheiro dela, mas com o passar do tempo foi se esquecendo. Todas as cartas dela, ele guardou num pequeno baú, antes ele lia e reli a as cartas todas as noites, com o tempo foi perdendo o costume. As vezes ele ouvia a voz dela e sempre que a via, sabia que estava no caminho certo.

Mas o final deles não precisa ser esse, vamos para o próximo capitulo.

Uma breve história de nósWo Geschichten leben. Entdecke jetzt