Capítulo 3

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Por que será que as famílias gostam tanto de comemorar o Natal? É uma data que nos fizeram acreditar ser o nascimento de Jesus, mas, todo mundo sabe que Ele nem nasceu nesse dia. E, depois de décadas sendo uma data comemorativa cristã, eles simplesmente tiraram o aniversariante de cena e colocaram o tal do Bom Velhinho. Eu odeio o Natal. Todas essas lojas lotadas, parece até o fim do mundo, onde todos querem comprar tudo o que não compraram a vida toda.

Como sou mãe de três crianças, não tenho muito tempo livre para gastar em lojas, por isso, aqui estou eu, em pleno dia 22 de dezembro, tentando me aventurar nesse aglomerado de gente, em busca dos presentes para a família.


Enquanto olho as prateleiras lotadas de brinquedos extremamente caros, me deparo com algo totalmente inusitado. Se você conhece bem o universo infantil, especialmente os Legos, sabe que eles não são baratos e, encontrar o Lego City no valor de R$99,00, é milagre demais. Vou levar, meus filhos amam montar esses brinquedos e é o único momento que tenho livre.

Pronto! Presente de Natal do Caio e do Felipe, resolvido. Só falta a Lorena. Até que não foi tão difícil encontrar algo bom para os meninos, espero ter a mesma sorte com o presente dela.

Dou mais uma vasculhada nas pilhas que estão na promoção e encontro um bebê reborn inteiro. Sim, porque os outros já perderam as pernas e os braços. Bom, não é exatamente um reborn, mas a Lorena nem vai notar a diferença, essas crianças têm que parar de exigir e se contentar com o que ganham. Decido dar mais uma volta antes de ir para o caixa.


Olho atentamente um grupo de pessoas debatendo diante de uma caixa enorme. Com certeza, a mina do tesouro está ali. Saio apressada para ver se ainda encontro algum e quase caio com o empurra-empurra das pessoas. Que vida é essa, a minha? Quando adolescente, sonhava em ser apresentadora de TV ou qualquer coisa que me desse fama e dinheiro. E olhem para mim agora, me contorcendo no meio desse povo suado, fedido, brigando para encontrar um brinquedo com preço justo para alegrar meus filhos no Natal!

Dez minutos depois, encontro um carrinho de controle remoto. Pelo valor, é um ótimo presente, fico na dúvida entre o carrinho e o Lego, mas, antes que pudesse decidir, alguém puxa o carrinho da minha mão.

- Ei! Esse carrinho estava comigo!

Minha voz parece a de uma gralha. Um pirralho, de sete anos mais ou menos, foi quem o puxou. A mãe dele me olha com um olhar de deboche, como se eu fosse a criança. Ela fala em um tom de deboche, quase rindo, para o garoto me devolver. É lógico que ele nega e, então, peço mais uma vez, sentindo as minhas veias saltarem.

- Por gentileza, você pode falar para o seu filho devolver o carrinho?

- Você já tem um na sua mão, ele não pode ficar com o outro?

- Até eu decidir, não. Eu tenho dois filhos, por isso, dois carrinhos.


Tentei manter o sorriso nos lábios, mas, estava com tanta raiva que queria esfregar a cara daquela mulher na parede.

- Devolve logo para essa mulher, menino! Os filhos dela devem precisar mais desse carrinho do que você!


Meu sorriso desapareceu. O seu filho sem educação tira o carrinho da minha mão e ela acha que pode falar desse jeito comigo?

- Olha aqui, meu bem, se não sabe educar o seu filho, o problema é da senhora. Os meus filhos, com toda certeza, precisam mesmo desse carrinho, mais do que esse seu garotinho mal-educado!

Eu não vi mais nada, só senti a mão dela agarrar o meu cabelo e meu rosto beijar o chão. Puxei o dela de volta e então chamaram o gerente para nos separar. Se meu marido tivesse visto a cena, morreria de vergonha, acho que pediria o divórcio, com o apoio da minha sogra e tudo. Mas, eu não podia deixar barato, não mesmo!

Fomos nós duas para uma salinha no fundo da loja e o gerente nos passou um sermão que me fez voltar para a sala do diretor na minha época de escola. Minha vontade era de cavar um buraco e entrar dentro. Depois que abaixou a poeira e a adrenalina que corria em minhas veias, pedi desculpas para o gerente e entreguei os carrinhos para ela. Decidi levar o Lego. Não vi mais a cara daquela mulherzinha sem noção, muito menos do seu filho.

Me encaminhei para o caixa e entreguei as duas caixas de Lego e o bebê reborn. Uma moça simpática me atendeu.

- Bom dia! Conseguiu encontrar o que procurava?

Sou irônica:

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⏰ Last updated: Nov 28, 2021 ⏰

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Conto natalino: E se... coisa nenhuma! Where stories live. Discover now