A Teoria Da Prensa

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Quando viu Gracinha chegar cedo pra finalmente terminar sua tranças, Marcelly pressentiu algo errado.

É que Marola pilotava a XRE de placa levantada da qual ela desceu toda animada com o pijama de unicórnio que Victória tanto pediu nos últimos tempos e de longe se notava a tensão pouco positiva dele.

Ouviu dizer que mais cedo uma senhora "distinta e elegante" bateu no portão dele pra reclamar de alguma coisa e podia apostava ser dona Dita e que tudo isso ele fazia de propósito. Desde quando ele bancava o motorista dos outros dentro do morro? Certeza que ele soube que Michelle foi pra casa de Krystiellen chegando pra fazer a unha da velha e investigar a fofoca na fonte e trouxe Maria da Graça pra manter a cabeleireira ocupada o bastante pra poder ir atrás da Maldita sem ninguém atrapalhar. Riu de nervoso quando o sentido do aceno dele estava mais para um "entra pra casa" que para desejo de bom dia.

Engoliu seco uma prece à Santa gravada no pingente de seu cordão torcendo pra não dar ruim quando ele acelerou no que jurou ser a direção do galpão de Ellinha, a única que ainda não sabia do barraco.

Feliz da vida com a negociação rápida, Krystiellen recebeu as chaves do galpão por qual se apaixonou a primeira vista, encostando o portão menor pra verificar o resto do espaço e listar os reparos necessários. Um único banheiro daria conta pro início tímido ou era bom construir outro? A área administrativa pequena demais deixaria de ser um problema assim que trocasse as podres paredes de madeirit que dividiam o cômodo improvisado e os armários velhos ainda davam pro gasto. Quintal verde e ela já imaginava as crianças aprendendo a manter uma hortinha orgânica, coisa linda. Uma sala vazia e trancada perfeita pra guardar os materiais com segurança apesar das promessas de segurança por parte da Tropa. 

Sabe como é quando não se pode confiar em ninguém.

O piso da antiga quadra de futsal precisava de uma polida, mas nada gritante que impactasse a conquista cujo as novidades seus seguidores aguardavam ansiosos nos stories e ela gravou um giro empolgado.

— Não, gente, fala sério. Vai dizer que vocês não imaginam algo grande aqui? – optou pelo português pela necessidade de se aproximar da realidade Nacional.

Claro, não pode esquecer da tradução para o inglês por conta dos gringo que prometeu atrair ao dono do morro a quem, por sorte, flagrou no segundo e descartado vídeo instantâneo. Não pegava bem sair com traficante em foto com uma carreira como a dela, bastando ser marcada em publicações de alguns poucos playboys ostentando os sacos de cristal estampados com seu rosto e nome por aí.

A intenção era tirar satisfação assim que sentiu o vapor do balão no cangote, mas se deparou com um olhar avermelhado na mistura de onda com ódio. Em vez de se sentir intimidada, sentiu tesão. Caralho, Krystiellen, tu num muda, né? Tá certo, ele não precisava saber.

— Qual o caô?

— Qual o caô? Tua vó que bateu no meu portão oito hora da manhã pra encher meu saco.

— Mãe Dita fez o que!?

— Tá surda?

— Vem cá, Marcílio. – estranhou o tom. – Tu acha que tu tá falando com quem, hein?

— Com a mina que vai deixar a vovó quietinha em casa antes que eu perca minha paciência.

— Isso é outra ameaça?

— Isso é uma ordem! Bota no nosso acordo aí: a próxima vez que a dona Dita vir cheia de marra pra cima de mim, vai você, ela e essa merda de projeto pra puta que te pariu e num me olha torto não, mina. Se num fosse a consideração que eu tenho por tu, tinha expulsado ele logo cedo, já.

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