Capítulo 1

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— Alice, Alice, acorde, chega de sonhar acordada. — chama minha irmã mais velha me dando um chacoalhão. — Menina, você é muito distraída. Estávamos no meio de uma aula de bons modos, e você me ignorando.

— Isto é entediante. — reclamo apoiando a cabeça nas mãos.

— Daqui a dois dias uma família muito importante em nossa cidade virá te avaliar, é melhor que esteja pronta para passar no teste de esposa.

— Me avaliar, até aprece que sou apenas mais uma posse da família.

— E é, uma posse que logo arranjará um noivo, se casará e honrará o nome de nossa família, assim como eu fiz.

— Papai, não apoiaria isso.

— Nosso pai não está mais aqui, você está sobre minha tutela Alice, e eu apenas estou fazendo o melhor para você. — conclui me dando as costas.

   Respiro fundo tentando controlar minha irritação, gostaria tanto de poder sair dessa prisão que minha vida está se tornando, ser livre, como papai me ensinou a ser.

   Começo a andar pelo jardim procurando um lugar para poder me afastar de todos por um tempo. Após alguns minutos de caminhada vejo uma linda lebre branca. Começo a segui-la, e a medida que ela aumenta a velocidade eu começo a correr até que vejo ela desaparecer dentro de um buraco, tento parar, mas acabo escorregando na grama e quando vejo estou cercada por uma escuridão imensa que parece não ter fim. Fecho os olhos e fico esperando chegar ao fundo e bater no chão, mas isso não acontece. Abro-os novamente até começar a me acostumar com a falta de luz, olho para os lados e percebo que continuo caindo, esfrego os olhos e me belisco, deve ser mais um daqueles sonhos em que pensamos estar caindo. Solto um longo suspiro, esta ação não havia adiantando, pois eu continuava a ser puxada para baixo sem nunca tocar o chão. A lebre parece perceber minha presença, pois olha para mim e aponta.

— O que faz aqui, garota? — solto um grito de susto, devo ter batido a cabeça com o tombo, ou talvez esteja sonhando, porque animais não falam. — Eu gostaria de curtir minha viagem sem muito barulho. — reclama ela.

— V-você fala...? — gaguejo confusa, suponho que bati a cabeça com muita força, pois não deveria estar respondendo a lebre.

— Mas é claro que falo, você é surda? — não imaginava que um animal tão fofo pudesse ser tão insensível. — Prepare-se para alcançar a superfície. — avisa segundos antes de eu me estatelar no chão.

— Ai, não poderia ter avisado antes? — reclamo tentando me levantar, mas não consigo.

— Foi um tombo feio, hein?! — ouço uma risada rouca acima de mim, levanto os olhos e vejo um belo rapaz com a mão estendida, aceito sua mão e me levanto.

— Obrigada.

— Não tem de quê. — ele me analisa rapidamente. — Como chegou aqui?

— Eu simplesmente caí em um buraco quando estava seguindo aquela lebre. — explico apontando para a mesma.

— Gisle, você permitiu que ela entrasse na passagem com você? — indaga passando a mão nos cabelos.

— Passagem? — pergunto confusa, agora está explicado, estou num daqueles sonhos estranhos que vai me deixar confusa ao acordar, talvez se eu me beliscar... deixo a ideia de lado apenas para observar até onde irei chegar com esta fantasia.

— Teremos que levá-la para o conselho, para constatar o que eles farão com a garota. — a lebre sugere olhando para o homem a sua frente, ele então balança a cabeça e olha em minha direção.

— Senhorita, gostaria de me acompanhar por gentileza até o castelo? — indaga o rapaz tentando ser educado, mas acredito que não tenho escolha.

  Balanço a cabeça em concordância e então começamos a caminhar.

— Eu poderia saber pelo menos onde estou?

— Você está na Terra dos Sonhos, ou País dos Sonhos, ambos os nomes são válidos. — responde abrindo os braços para mostrar o lugar. Olho impressionada para tudo ao meu redor, é uma paisagem realmente muito impressionante, incrível como nosso cérebro pode criar fantasias tão deslumbrantes.

— Isso é realmente maravilhoso.

— Você ainda não viu nada. — ele me lança um sorriso estranho, e se vira para frente, faço o mesmo a tempo de ver os portões do castelo se abrirem, revelando o jardim mais espetacular que eu já vira em toda a minha vida. Ao longe podia ver roseiras com flores vermelhas que iam muito além da minha visão, elas formavam um labirinto que de onde eu observava, parecia não ter um fim. Havia guardas dispostos dos dois lados da passarela de tijolos escarlate onde estávamos andando, eles usavam armaduras de metal nas cores vermelhas e brancas, que resplandeciam ao entrarem em contato com a luz do sol.

— Isto aqui é magnifico, nunca havia visto nada igual. — comento ainda deslumbrada com a beleza deste sonho, gostaria de não precisar acordar mais, aqui é tão diferente da realidade... lugar onde, em breve, terei que viver presa a um casamento arranjado, e provavelmente infeliz. — Existe a possibilidade de eu viver nesse sonho para sempre? — indago olhando para o rapaz que me guia no meio das árvores de folhagem vermelha com formato de coração.

— Não estamos num sonho, senhorita. — afirma com uma expressão séria em seu rosto, olho para ele do mesmo jeito, porém não consigo sustentar essa expressão por muito tempo e começo a rir.

— Por um momento quase acreditei que fosse verdade. — digo irônica. — Basta um beliscão e quando abrir os olhos poderei afirmar que não vou mais estar aqui.

— Vá em frente. — propõe dando de ombros. Ainda olhando para ele, belisco meu braço, e fecho os olhos. Quando os abro novamente, vejo que continuo no mesmo lugar, fecho-os de novo e começo a beliscar meu braço várias vezes, mas nada acontece, continuo no mesmo lugar. — Se não for muito incômodo, a senhorita gostaria de me acompanhar até o castelo? O conselho certamente já está reunido e a nosso aguardo.  

   Suspiro e o acompanho, a única coisa que posso fazer neste momento, é esperar este sonho estranho chegar ao fim por conta própria. Assim que entramos no castelo, as fileiras de guardas vão se curvando para o rapaz a minha frente, imagino que ele deva ocupar um cargo muito importante por aqui; observo tudo ao meu redor, quanto mais adentro esse lugar, chego próxima à conclusão de que este sonho é simplesmente perfeito! Paramos em frente a uma enorme porta de madeira escura com ramos de uma grande árvore entalhados nela, lentamente a porta se abre nos revelando um salão imenso com uma mesa ao meio, e várias pessoas ao redor dela usando roupas de cores exageradas e de modelos um tanto ultrapassados.

— O conselho está oficialmente aberto. — declara uma voz de mulher, que não consigo identificar de onde vem. — A acusada pode vir até aqui. — manda a voz, olho para os lados procurando quem é, todos estão olhando em uma só direção, a minha, e então entendo tardiamente. A acusada sou eu. O homem ao meu lado, que eu ainda não sabia o nome, me guia até o trono onde está sentada uma mulher baixinha, com maquiagem exagerada e um cabelo vermelho bem preso em um coque.

— Do que estou sendo acusada? — pergunto para o rapaz.

— Acusada de não pertencer a este lugar. — responde a mulher no trono.

— Vocês não aceitam estrangeiros? — indago confusa.

— Também não aceitamos que os acusados falem sem permissão. — cita me olhando com desdém.

— E quando poderei falar? — pergunto recebendo mais olhares reprovadores.

— Se for uma acusada, em momento algum. — responde ela, me deixando totalmente confusa e irritada.

— Como posso me defender, então?

— Quem disse que você poderá se defender?! — responde dando uma risada alta.

— Vocês são loucos. — concluo dando as costas para a mulher, sairei deste lugar antes que eu decida agredir alguém ou comece a ficar maluca.

— Cortem-lhe a cabeça! — exclama a mulherzinha se levantando de seu trono.

Alice no País dos Sonhos (DEGUSTAÇÃO)حيث تعيش القصص. اكتشف الآن