— Você… beijou três caras? Em uma só noite? 

Ela abre um sorrisinho. 

— Esses são os que me lembro. 

Trocamos um olhar e depois rimos. Agnes é meio maluquinha, extrema, mas eu gosto muito dela. 

— Você sumiu ontem em algum momento — diz ela. — Achei que estivesse se pegando com alguém no escuro. 

Enrubesço. 

— Eu não estava com ninguém. — Minto. 

Por mais que eu tente, Ryan volta a importunar a minha cabeça. O lugar em que seu dedo tocou — bochecha, boca — ainda parece queimar, e aquele olhar intenso e sombrio, como se quisesse me devorar naquele beco escuro, ainda me persegue nos meus sonhos. Ainda me lembro do jeito que o meu corpo ficou em chamas sem ele sequer ter encostado o corpo em mim, e bastou um simples toque para me incendiar por completo. Era sobre essas sensações mundanas que as Irmãs me alertavam todos os dias para manter distância? Elas falavam sobre o caminho da perdição, e eu tenho certeza que Ryan está do outro lado me esperando. 

— Ah, que pena — Agnes parece realmente desapontada. — Mas eu entendo. Vamos começar com o básico, não é mesmo? 

Forço um sorriso. 

— Sim, claro. 

A rotina de trabalho continua a mesma. Agnes tem razão: a lanchonete fica cheia de alunos da faculdade. Acho que todo mundo tem uma quedinha pela decoração retrô do lugar. 

O movimento é intenso, e me vejo desejando, muitas vezes, que o expediente acabe logo para que eu possa ir para casa e dormir um pouco. Mas não é só o cansaço que me incomoda: toda vez que o sininho indica que alguém entrou na lanchonete, meu coração acelera e eu olho em direção à porta, pensando ser ele. Sou invadida por uma onda de decepção toda vez. Agnes disse que ele vem muito aqui, mas só o vi duas vezes. 

Será que eu pareci muito oferecida na noite passada? Será que, por isso, ele está evitando vir aqui, por que não quer me ver? Essas dúvidas me deixam um pouco amarga. 

No fim do expediente, finalmente posso ir embora. Agnes tem um compromisso, por isso não pode me dar uma carona até em casa, então me contento em caminhar até o ponto de ônibus. Mas não sem antes lançar um olhar na direção da oficina a poucos metros da lanchonete. Está tudo escuro e as portas estão fechadas. Ele não está lá. 

Não espero no ponto de ônibus por muito tempo. Acomodo-me em uma cadeira ao lado da janela e pego na mochila o livro que Ivy me deu enquanto a cidade passa ao meu lado. Abro no capítulo em que eu parei e me surpreendo ao perceber que a história está caminhando para uma cena de sexo. Eu fico tensa na hora, e olho para os lados para me certificar de que ninguém está espiando o conteúdo do livro. Fecho-o. Depois o abro. Eu vou ler. Eu vou, sim. Dane-se. 

Está calor. Por isso estou usando um short jeans e camiseta. É a primeira vez que uso um short jeans, dá para acreditar? Quando eu vim para cá, Ivy me levou para fazer compras, já que as roupas que eu tinha não eram bem adequadas para uma cidade da Califórnia. E eu as odiava com todas as minhas forças. Mas acho que gosto desta sensação; de ver as minhas pernas expostas e sentir a brisa da manhã se chocar contra elas. 

Eu não tenho pernas longas, afinal, tenho apenas 1,60 de altura. Mas elas são grossas. E a pele cor de chocolate que as moldam é brilhante e visualmente macia. Até que são bonitinhas. 

Estou sentada debaixo de uma árvore na hora do almoço. Agnes não quis vir comigo para aproveitar um pouco de ar fresco, então estou sozinha aqui. Mas isso não é ruim: pelo menos posso aproveitar para ler um pouco e até mesmo escrever no meu diário — quando não tiver ninguém por perto, claro. E acontece que agora não tem ninguém, e sinto a necessidade de colocar sobre as páginas o que aconteceu no meu dia. 

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