III

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                Eram seis da tarde. A vinda para casa fora solitária, já que Abigail decidira ir às compras. Talvez tivesse aceitado noutra sexta-feira qualquer, apesar de não ser o meu hobbie preferido. Contudo, podem ver que esta não decorreu como uma sexta-feira normal. Jonathan. A minha cabeça teima em não deixar escapar cada letra desse nome. Um nome que tanta alegria me trouxe, hoje atormenta-me. Se calhar vocês pensam que estou a fazer uma tempestade num copo de água, mas eu tenho as minhas razões ! Quando ele voltar, ele não vai encontrar a mesma Evelyn. Pode nem me reconhecer, e, se assim for, ainda decidi se hei de me re-apresentar. Talvez as coisas sejam para ficar no passado. E se eu for uma desilusão? Não seria o primeiro a pensar tal coisa, tenho certeza disso. E se ele preferir a Rosemary? Tantos 'e ses' a assombrarem os meus pensamentos. O poder que um nome tem. Mudou a minha querida sexta-feira.

            O meu telemóvel guinchou, afastando os meus pensamentos. Quando olhei tinha uma mensagem nova da Abigail. Comprou um vestido novo azul escuro, e quer usa-lo na festa de hoje à noite, e vem buscar-me às nove horas desta noite. Arregalei os olhos, para ter a certeza que tinha lido bem. Nós não falamos de nenhuma festa ! Marquei rapidamente o seu número no meu visor.

        - Abigail, que raio? Festa? - A minha voz estava num tom indignado e confuso. Não gosto nada de coisas feitas à última da hora, eu tenho sempre tudo controlado e devidamente agendado. As surpresas não fazem parte do meu dia-a-dia e podem ver no que 'receber' surpresas (com nome Jonathan) dá.

        - Humm... O Isaac vai dar uma festa na casa dele... Mandou-me uma mensagem para aparecer e levar pessoas. Tu és a minha 'pessoas'. - Falava com palavras pensadas porque já sabia como eu era. 

        - Abi, a minha mãe não está em casa ! Já é dificil sair quando está, imagina quando ela não está ! - Era verdade. A minha mãe é controladora (provavelmente é daí que vem o meu desejo por controlar tudo o que acontece e que me envolva), mas a minha mãe controla em demasia a minha vida. Tenho dezassete anos agora, e quase preciso de rezar o terço para poder sair. 

        - Então não pedes para sair, simplesmente sais. Como é que eu tenho ideias tão brilhantes? - Quase era possivel ver o seu sorriso através da chamada. 

        - A minha mãe liga todas as noites quando está fora da cidade. Hoje não é exceção. Se eu não atendo é o fim do mundo. - Também era verdade que não estava com vontade de sair, mas até agora ainda não tinha inventado desculpas. Esta era uma desculpa legítima. 

        - Então ligas tu antes de sairmos, assim ela já não tem necessidade de ligar de novo. Aceita que vais sair, passo aí às oito e quarenta e cinco. 

                Com isto desligou a chamada. Ainda fiquei com o telemóvel colado à cara por mais uns dez segundos, mentalizando-me do que ia fazer. Ia ser uma adolescente rebelde esta noite. O que é que aquele nome me tinha feito à cabeça?

                Precisava de me organizar no meio de tanta confusão. Ia escolher a roupa, tomar banho, vestir-me, comer alguma coisa rápida, ver a matéria do dia, telefonar à minha mãe e ir para a festa. Posso dizer que não foi assim que a minha tarde se sucedeu. Fiquei meia hora a olhar para a roupa que tinha. Como já tinha usado muito tempo, fui tomar banho. Vesti um fato de treino e fui comer. Com tanta confusão já eram sete e meia. Voltei para o meu quarto para escolher a roupa definitivamente. A televisão estava ligada... Por isso não escolhi nada, até que eram oito e vinte. Comecei a hiperventilar, a roupa começou a saltar de um lado para o outro, e no final acabei por escolher uma camisola com manga de três quartos fininha e umas calças de ganga. Calcei umas sapatilhas, fui à casa-de-banho para arranjar o cabelo e pus um bocadinho de rimel nos olhos. 

                Quando olhei para as horas, vi que faltavam cinco minutos para a hora prevista para Abigail me vir buscar. Peguei no telefone fixo, e marquei o número da minha mãe. Ao final do segundo toque, atendeu.

        - Querida? O que se passa? - A minha mãe mostrava-se preocupada.

        - Mãe? Nada, porquê? 

        - Estás a ligar-me ! Nunca ligas, sou sempre eu ! Já estava a ficar preocupada... 

        - Não se passa nada, - disse, interrompendo as lamentações da minha mãe - estou cansada e decidi ligar-te, tinha medo que já estivesse a dormir quando tu me ligasses. - Esta era a primeira vez que eu mentia à mãe.

        - Estás cansada? Porquê? Aconteceu alguma coisa? - Às vezes sinto que a minha mãe tem um pequeno ataque cardiaco com cada palavra que digo.

        - Não, nada. Deve ser da escola, foi um dia cansativo.

        - Humm... está bem... Gostava de poder continuar a conversa, mas ainda estou em reuniões. - A minha mãe promove os produtos de uma empresa de limpeza, anda sempre a viajar e em reuniões com pessoas que possam estar interessadas em vende-los - Amanhã de manhã eu ligo, filhinha. Vai dormir. - Eu sei que ela estava preocupada, mas admitam, está ali uma pitada de controlo.

        - Sim mãe, até amanhã ! 

                Fiquei a ouvir aquele biiiiiip sem fim, depois da mãe ter desligado a chamada. Até que o som da buzida do carro de Abigail interrompeu aquela bela sinfonia. 

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Olá :) Sei que ainda tenho poucas leituras, mas peço que a quem lê me diga alguma coisa, e se vale a pena continuar. Esta parte ainda é um bocado parada, mas a partir do próximo cap as coisas melhoram. Aceito comentários construtivos, nem que seja colocar uma estrelinha, só para mostrarem o que pensam sobre isto.

Obrigada ! xx

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