As famílias Nogueira e Arantes tem um longo passado juntas, brigas irreconciliáveis e inúmeros confrontos desde a decadência do café, na pequena cidade de Dois Rios. Anos mais tarde, com o retorno dos irmãos Arantes a fazenda falida do pai, o passad...
Hoje se inicia mais uma história! SEJAM BEM-VINDAS!
Teaser aqui em cima, deguste :)
Essa semana teremos o capítulo 2 hoje e amanha o capítulo 3. Na semana que vem começaremos com os dias certos: Terças e Sextas ok? sempre por volta das 18:00.
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O advogado detalha, com explicações minuciosas, cada linha do testamento, usando leis para embasar as alternativas cabíveis para nossa situação delicada e de merda.
Obviamente, Guto, vestido formalmente de terno e gravata, barba feita e cabelos penteados, sentado de frente para Daniel o contador, é o único a realmente escutar e absorver suas palavras, como se tudo aquilo fosse vida ou morte. Meu irmão é assim, sempre vai ser, e se o mundo fosse seu quintal, seu lado protetor transformaria a humanidade em seu rebanho. O típico homem mais velho do lar.
Já Gilvan por outro lado, de pé próximo a janela aberta, fuma aparentemente tranquilo, como se nada daquilo tivesse a ver com ele. Por dentro fervia de raiva, claro, assim como eu. Ele estava fora do testamento, e nem em seus últimos minutos, Galdino o reconheceu como filho. Nosso pai nem na morte deixa de ser uma caixinha de surpresas, e nunca nenhuma delas é boa. Nunca.
O advogado e o contador seguem com as explicações, e já no limite das aparências, assim que é mencionado novamente os termos que Galdino impôs, Gilvan sai da sala.
Respiro fundo, concentrado na caneta que tenho nas mãos, largado na poltrona de couro, a virando de um lado para o outro entre os dedos evitando falar, pensar e até olhar para a papelada inquestionável. A venda dos nossos apartamentos e carros cobriria apenas metade da dívida ativa com a Receita Federal, e uma conta no vermelho como herança, não era bem o que esperávamos.
Aquele verme maldito do nosso pai acabará de ferrar com as nossas vidas, e cada hora que se passa na fazenda sentindo cheiro de esterco, só faz aumentar o rancor que sinto no peito agora.
— A venda do gado ajudaria? – Sugere Guto enquanto analisa a soma total da dívida estampada no visor da calculadora financeira.
— Mais é obvio que não! – Fico de pé e soco a caneta na mesa ao lado de sua mão. Foda-se, não aguento mais assistir. — Que a alma dele vá direto para o inferno! – Rosno.
— Agora não Gael. — Interfere esfregando o rosto com as mãos, exausto. Trocamos olhares, e fica claro que ambos estávamos esgotados das últimas semanas. Guto permanece sério frisando que suas palavras são uma ordem.
