15 - Peça em falta

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    — Então, se eu entendi bem, você se sente culpada por ter ido embora de repente e sem falar com ele? — indagou Dra. James, fazendo uma rápida anotação no seu bloquinho.

    — É, praticamente s... — a fuzileira interrompeu-se, pensativa. — Quer dizer, eu enviei uma mensagem minutos antes de entrar no carro e sair da cidade. Mas, no fim das contas, acho que dá no mesmo.

Com um suspiro pesado, deixou que suas costas chocassem contra o encosto da cadeira em que se encontrava acomodada.

Era uma linda manhã de sexta-feira e lá estava ela, no gabinete de Dra. James — no segundo piso da sede do ITISS —, despejando seus dilemas sobre ela, mesmo sem ter marcado hora. Se não estivesse tão confusa sobre si mesma e precisasse urgentemente de ajuda, talvez nem ali estaria, ou se sentiria desconfortável por ter praticamente invadido a sala, alegando que precisava urgentemente conversar.

    — Você nunca tentou entrar em contacto, ou pensou em fazer isso?

    — Pensava nisso todos os dias. — confessou. — Eu cheguei a escrever algumas cartas para Chris e mamãe, mas nunca tive coragem de enviar. Sabe, nenhuma delas parecia ter palavras ou expressões suficientes para justificar o que eu fiz com eles.

    — Entendo. — a psicóloga mantinha o olhar perdido em um ponto qualquer atrás da agente, refletindo sobre o que ela acabara de revelar.

    — Como você se sentia escrevendo essas cartas? — questionou, após alguns segundos de silêncio.

    — Era uma espécie de alívio, porque eu conseguia colocar pra fora tudo que eu estava sentindo, todas as palavras que eu desejava dizer para eles, mesmo que não fosse chegar até eles de fato.

Dra. James assentiu lentamente, fazendo outra anotação breve.

    — Bem, eu gostaria de te fazer uma pergunta, mas você não deve se sentir obrigada a me dar uma resposta logo, certo? Se não quiser responder também, não tem problema. — comprimiu os lábios e entrelaçou os dedos, à espera de um sinal dela para avançar. Quando veio, prosseguiu: — Você por acaso se arrepende de ter ido embora?

Andrea refletiu na pergunta, primeiramente analisando os motivos da sua partida repentina e, em segundo lugar, os posíveis impactos daquilo na vida da mãe e do ex-noivo.

    — Não, eu não me arrependo. — respondeu, firme. — Eu não me arrependo de ter saído de Summerfalls, porque eu tinha um objetivo claro e consegui cumpri-lo. O que me arrependo, Maxine, é de ter sido egoísta e partido de uma hora para a outra, sem antes falar com o Chris e com a mamãe. É isso que me fustiga: saber o quanto machuquei e fiz sofrer as duas pessoas que mais amo.

Dra. James assentiu lentamente.

    — Eu gostaria que falássemos um pouco mais sobre o Chris, mas antes, me conte como sua mãe reagiu com a sua volta.

A fuzileira sorriu, lembrando-se da maneira radiante e calorosa como dona Eulália lhe recebera, e como andava a relação delas depois daquilo, como se o tempo não tivesse passado. Não estava errado quem dizia que o amor de mãe é maior do que tudo.

    — Bem. — respondeu, alargando o sorriso. — Muito melhor do que eu esperava, pra falar a verdade. — contou, girando o anel de prata no dedo médio. — Foi como se nada tivesse mudado, sabe?

Maxine esboçou um sorriso.

    — E isso é bom, não?

    — Às vezes penso que sim, outras que não.

    — Por que?

    — Em um momento eu me sinto mal por ter ido embora sem conversar com ela e demorado tanto para voltar, enquanto em outro estou apenas feliz por estar com ela novamente, que evito ao máximo pensar em outras coisas que ameaçem essa paz.

Cartas para Summerfalls (Até 30/05)Where stories live. Discover now