É Natal... (mini conto)

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***PLÁGIO É CRIME***

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É natal...

Não havia outra época do ano em que todas as emoções estivessem tão afloradas.

Lembro-me de sempre sentir aquela excitação e curiosidade, de nunca saber ao certo o que esperar, o que pensar ou o que fazer. Lembro-me da inocência da infância, da irritação da juventude, e da resignação da idade adulta.

Há tanta coisa a se lembrar... Tanta coisa vivida...

Acordo pela manhã bem cedinho, como acordei nas últimas décadas, suspirando com as dores no corpo e com a velhice que me alcança. Logo o café está pronto e os filhos ao redor da mesa junto ao pai, comendo o pão e a manteiga. Visualizo a cena apenas por um instante e suspiro mais uma vez, vendo os pequenos e os grandes se misturarem, uma fusão de vozes e corpos e formas que conheço há tantos anos. Deixo-me ficar calada por alguns instantes, enquanto o peso daquele dia me alcança, como sempre alcançou.

É incrível como cada ano, como cada final de ano, me apresenta algo – me ensina algo... Não há nada de extraordinário, e sempre há magia. Não há nada de novo, e sempre há surpresas.

Todos se ocupam no seu dia-a-dia, ajudando a arrumar a casa e a preparar o almoço e eu apenas coordeno as ações, dou ordens e me irrito às vezes, é normal. Sem muita demora e depois de alguns bate bocas e reviradas de olhos, almoçamos e há silêncio mais uma vez. E há espera e ansiedade e algo mais no ar. Deixo a sensação de inquietação me dominar enquanto a louça é limpa e todos novamente seguem seu curso, seguem as ordens ditas por mim.

Fecho os olhos, apenas o suficiente para que pensem que estou apenas descansando – que não há nada demais passando pela minha mente, quando na verdade tudo me rodeia e envolve.

– * – 

Tenho sete anos. A cidade é Corupá. Morávamos em uma casa antiga, feita de madeira, digna de histórias de terror e de mistério. Nossos quartos ficavam no sótão, com janelas diferentes e formas confusas e perfeitas para que irmãos se divertissem e levassem bronca quase o tempo todo.

É noite de Natal.

Não lembro exatamente o que fizemos o dia inteiro – como poderia, afinal, são tantos anos, tantas memórias, tanta saudade... Lembro-me apenas da noite, da tão esperada noite de Natal, dos presentes, do velhinho que entraria em nossa casa e traria presentes, deixando as crianças, alegres e elétricas por natureza, felizes por várias semanas.

Eram oito horas da noite. Pai e mãe mandaram dormir, senão o Papai Noel não chega hein?! Todos os meus irmãos correm escadas acima para os quartos, de pijamas, ansiosos, se encarando com aquela nuvem de inocência e crença. O Papai Noel vai chegar! Vamos, vamos! Mas ninguém exatamente dorme aquela noite não – não na noite em que saberíamos que aquele ser místico chegaria. Mesmo os olhos caindo de sono, mesmo o estômago torcendo de excitação, não dormimos, não podemos.

Pé ante pé, eu e meus três irmãos descemos as escadas que levam até a sala, que levam até onde há barulho e movimentação. Nossos pijamas roçam na madeira, fazendo soar um farfalhar de euforia enquanto tudo range aos nossos pés...  

– * –  

Eu rio, lembrando-me da cena. Paro de amarrar o cabelo da pequena e de dizer para a mais velha pegar o brinco em cima da mesa, e deixo o sorriso esticar-se em meus lábios.

Ah, o som da madeira rangendo! Como Papai Noel não ouviria? Éramos crianças levadas, crianças que podiam levar bronca, mas que sempre corriam atrás do que desejavam, que eram corajosas, unidas e, principalmente, curiosas demais.

É Natal...Onde as histórias ganham vida. Descobre agora