Conto 1 - Amigo Secreto - Tony Ferr

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Amigo Secreto

Tony Ferr

Não sei há quanto tempo sinto isso, apenas que nos últimos meses se intensificou de tal forma, que todas as vezes que a vejo, sinto um desejo imenso de beijá-la e de tê-la ao meu lado. É difícil controlar.

Na última semana a vi diversas vezes na empresa, distribuindo sorrisos para todo mundo. Como sempre, uma pessoa simpática e maravilhosa.

Abotoei o botão da manga da camisa e vesti o blazer cinza. Olhei-me no espelho e me vi pensando se realmente valia a pena fazer isso que venho planejando há semanas. Sei que é totalmente arriscado, não que eu esteja correndo risco de morte, não é nada desse tipo. Quando digo arriscado é pelo fato de minha amizade e minha posição na empresa como diretor ser afetada de forma drástica.

Estou apaixonado pela filha do presidente da empresa. E algo que ficou bem claro no contrato que assinei, foi de que era proibida qualquer relação amorosa entre funcionários. Mesmo eu sendo de um cargo tão alto, estava incluído nesse miserável contrato. Outro motivo era que minha confiança também estava em jogo.

Passei a mão no rosto tentando aliviar a tensão e virei as costas pegando sobre a cama o embrulho vermelho.

Hoje é véspera de Natal, e todo ano são realizadas duas ceias na empresa. Uma com todos os funcionários em um grande salão, e outra apenas para os amigos mais próximos do dono. Não ultrapassa vinte pessoas. Como sempre, não podia ficar de fora o amigo secreto. E tive a sorte, ou não, de pegar o bilhete com o seu nome.

Tatiane Bulhões.

Era o nome que estava escrito.

Juro que suei quando li. A primeira coisa que fiz foi meter a mão dentro do terno e sumir do local. Mas, mesmo sabendo que era um erro, minutos depois me peguei sorrindo sozinho por ter conseguido essa dádiva em pleno fim de ano.

Saí apressado em direção ao estacionamento do apartamento. Entrei no carro e fui em direção ao local do evento, que por sinal ficava à beira-mar.

As ruas estavam todas enfeitadas com pisca-piscas de várias cores. Estrelas brilhando no topo dos prédios, árvores enfeitadas nos halls de restaurantes e hotéis. Passei em frente à praça principal da cidade, onde avistei um lindo enfeite com renas, trenós e muitas luzes. Várias crianças juntamente de um grupo de senhoras tentavam enfeitar a árvore da praça.

Estacionei o veículo em frente ao hotel, entreguei a chave ao manobrista e fui em direção ao hall. Ajeitei o blazer e entreguei o embrulho ao responsável em guardar os presentes. Tudo tinha que ser como mandava o figurino. Ao entrar no hotel (que por sinal era também da empresa) encontrei um dos meus amigos conversando ao telefone. Estava acompanhado da esposa. Cumprimentei-os e fui em direção ao salão que ficava às margens da piscina.

Assim que entrei, vasculhei o local a sua procura, mas não a encontrei. Não cheguei a dar dez passos para ser surpreendido por seu pai.

– Ronaldo! Achei que você não vinha mais! – falou dando um caloroso abraço.

– Desculpe, acabei me atrasando por causa do trânsito.

Seu pai como muitos diziam, me admirava muito, porém algo dentro de mim dizia que ele não concordaria com minha ideia, mas procurei não pensar nesse detalhe agora, ou então eu acabaria desistindo de tudo que havia planejado.

Livrei-me dele assim que outro casal de convidados chegou. Pedi licença e fui em direção à piscina. A água brilhava como um mar de diamantes, a lua cheia no véu negro acima de mim parecia um refletor. A brisa que vinha do mar estava fria. Parei na beira da piscina e me apoiei nas grades abaixando a cabeça. Ela ainda não estava na festa. E se estava, meu rastreador parou de funcionar.

Eu, Você e o Natal - Contos inesquecíveisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora