Beth

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Quando eu tinha apenas 17 anos eu era o garoto mais isolado da escola onde eu estudava, um valentão da minha sala saia espalhando boatos sobre mim para outras pessoas e me zoando pela minha fala desorganizada, isso fazia todos se afastarem cada vez mais de mim, me tornei o garoto estranho que não havia amigo algum, com o tempo eu aprendi a lidar com isso, todo dia enquanto ele tentava me envergonhar na frente dos outros eu apenas ignorava, isso deixava ele totalmente sem graça, quando percebeu que aquilo não estava mais me afetando ele começou a me espancar depois do sinal de fim de aula, seus punhos eram como ferro amassando meu rosto feito nada, eu era muito fraco e não conseguia me defender, por sorte aquele era meu último ano na escola e iria me livrar desse povo, foi um longo ano e finalmente após vários dias voltando para casa com o rosto todo ensanguentado com minha mãe me olhando como se nada tivesse acontecido eu consegui terminar o ensino médio e estava prestes a entrar na faculdade, eu queria fazer sociologia e consegui passar na primeira tentativa, logo no primeiro dia uma menina linda sentou do meu lado, seu nome era Beth, eu já havia me apaixonado por seu nome que não era muito comum no Brasil, ela me disse que seu pai era fã da banda Kiss e quis fazer uma homenagem a música favorita dele, passamos a aula inteira conversando e rindo um do outro, a sala frequentemente olhava para nós como se fossemos dois esquisitões, eu deveria estar decepcionado pela minha má fama ter se repetido na faculdade mas dessa vez eu tinha Beth, que parecia não ligar para os outros assim como eu, ela era a menina mais bonita que eu já havia visto na minha vida, no final da aula eu pedi seu numero para ficar conversando mas ela me disse que não tem celular, eu estranhei mas apenas esperei pelo dia seguinte, não demorou muito para nos tornarmos melhores amigos, afinal, eramos praticamente iguais, o único problema é que eu não queria ser o melhor amigo dela, eu havia me apaixonado profundamente por ela e queria um dia poder me casar e ter filhos com Beth, demorei pra criar coragem mas durante a aula finalmente chamei ela para sair e comer um lanche algum dia, ela aceitou com o sorriso mais lindo que eu já havia visto, quando o dia chegou eu me arrumei como nunca havia feito antes, chegamos no restaurante e me encantei quando vi Beth entrando pela porta com seu vestido preto e seu cabelo preso, seus olhos brilhavam como mil estrelas não brilham e quando ela me viu aquele sorriso se repetiu, ela estava maravilhosa e até mesmo um pouco exagerada pra quem iria sair pra comer lanche, enquanto comíamos olhamos um para os olhos do outro e foi naquele momento que eu descobri que ela sentia o mesmo por mim e tomei coragem, disse a ela o quanto ela era especial para mim e o como eu amava ela desde o dia em que nos conhecemos, terminei pedindo ela em namoro e ela não pensou duas vezes antes de cortar o meu pedido e dizer que aceita mesmo eu não tendo terminado a frase, meus olhos se encheram de lágrimas e todos nas mesas ao lado estavam olhando para nós e alguns até filmando, não sabia o motivo daquilo mas eu estava contente de dizer que Beth era minha namorada, três anos se passaram e nós fomos o casal mais lindo que havia no mundo e sempre que saíamos nós ficávamos rindo um da cara do outro como dois bobos apaixonados, o que me incomodava era que todos ao redor da gente sempre ficava nos olhando e nos filmando, em particular havia um homem de terno e oculos escuro que sempre estava me vigiando, não importava onde eu ia, isso estava ficando fora de controle e eu estava preocupado com a segurança de Beth, isso invadia muito nossa privacidade e resolvi levar o caso até a polícia, chegando na delegacia enquanto eu conversava com o delegado eu consegui ver novamente o mesmo homem de terno e oculos escuros na porta esperando eu sair, eu disse para o policial sobre o homem e ele olhou rapidamente e com um olhar confuso me disse que não havia ninguém ali, eu olhei para a porta e lá estava ele me observando, o delegado achou que eu era apenas um garoto querendo passar um trote e me mandou ir embora, enquanto eu saia pela porta o homem me seguia e resolvi sair correndo antes que ele fizesse algo comigo, quando finalmente cheguei em casa eu resolvi marcar para ir no hospital pois talvez eu estivesse alucinando, passei na casa de Beth e fomos até o hospital itatiaia, chegamos e preenchi uns papéis com minhas informações para ser atendido, me surpreendi que não demorou nem 5 minutos e já fui atendido pelo Dr. Harris, quando entrei em sua sala me deparei com o homem de terno no canto da sala, por sorte o Harris havia lido meu prontuário e me acalmou afirmando que ele não estava ali de verdade, ele me diagnosticou com esquizofrenia e afirma ter começado bem cedo com minha fala desorganizada mas as alucinações haviam começado apenas esse ano, aquilo foi um choque pra mim e me senti destruído por dentro, foi então que Harris perguntou sobre alguém para poder cuidar de mim quando eu saísse e para observar se há algum gatilho causando as alucinações, eu falei que Beth, minha namorada poderia cuidar de mim, ele me perguntou onde ela estava e eu com um olhar confuso disse que ela estava a minha direita enquanto apontava com o dedo, suas expressões faciais se foram quando eu disse isso, Harris disse que provavelmente a minha primeira alucinação havia sido ela, não havia mulher nenhuma ali, Beth não existia. Naquele momento todos os meus momentos felizes juntos a ela passaram na minha cabeça como um flashback, as pessoas olhando para nós e rindo pois para eles eu estava fazendo tudo sozinho, meus beijos e minhas risadas foram destinadas ao vento e eu não fazia a menor ideia, eu saí do controle e enlouqueci, não querendo aceitar a realidade eu pulei em cima de Harris e o derrubei, comecei a soca-lo pois eu achava que ele estava mentindo para mim. Isso durou uns dois minutos até eu perceber que estava socando o chão, Dr. Harris também era uma alucinação minha e eu estava sozinho em um hospital abandonado a anos, naquele momento eu questionei todos os momentos da minha vida se realmente foram de verdade ou apenas uma alucinação, eu sempre me senti sozinho e Beth era a única pessoa que eu tinha, mas no final ela nao era de verdade e eu estava sozinho, afinal, talvez estejamos todos sozinhos.

BethWhere stories live. Discover now