Capítulo 3

15 1 0
                                    


LYUNEE

- O que você queria? Nunca vi um humano antes. Todos estamos assustados, você não pode negar. - Resmungou uma voz rouca.

- Acalmai-vos, a humana aparentemente não apresenta risco. Descobriremos por qual passagem ela veio e mandaremos de volta. - Respondeu uma voz calma e idosa. - Procurem por Rhainav nas colinas douradas, precisaremos dela para abrir o portal.

As vozes discutindo sobre o que fazer comigo me ajudaram a acordar. Abri meus olhos com muito esforço e logo percebi que estava acorrentada em uma cama de madeira, em um quarto minúsculo com tons vermelhos e marrons, havia um criado mudo ao lado da minha cama com alguns mublus pequenos, cristais e uma taça de água. A criaturinha que estava cochilando na poltrona cor-de-vinho de frente pra minha cama acordou quando me ouviu tentar soltar as mãos das correntes e saiu correndo. Logo em seguida, entrou uma figura pequena, de cabelo grisalho, barba grande e chifres que faziam curvas. Vestia uma túnica cinza e portava um cajado com uma pedra azul no meio, que logo prendeu minha atenção.

- Você demorou a acordar. Por onde entrou aqui? - Falou o homem seriamente, deixando explícito que almejava uma conversa direta e rápida.

- Eu não sei senhor. Sou de NorthVillage e vim parar aqui através de uma floresta ao sul da cidade. Mas não sei como aconteceu. - Minha boca estava seca e minha cabeça pesada, como se eu estive prestes a ter uma enxaqueca. Eu sentia que havia dormido por dias, mas que precisava dormir ainda mais.

- Chamaremos uma maga para abrir o portal e te levar de volta pra casa, no processo, você também esquecerá de tudo o que viu. 

Ao terminar a frase, o homem bateu seu cajado no chão duas vezes, como se estivesse decretando algo, e eu senti que estava. Então, minha cabeça começou a pesar três vezes o meu próprio peso e tudo começou a rodar, eu estava enjoando mais do que podia aguentar. Ele estava retirando-se do aposento quando eu exclamei:

- Senhor o que vocês me deram? Eu sinto meu corpo e mente estranhos, minha boca está seca e eu sinto muita vontade de chorar e gritar desde que acordei. Posso, ao menos, tomar água?

O homem rapidamente aproximou-se, desacorrentou-me e me ofereceu a taça ao lado. Seus movimentos eram rápidos mas graciosos, como se fossem uma linha tênue entre a gentileza e a fatalidade. Ele abriu um armário perto da porta e misturou várias ervas que haviam em minúsculos potes em uma casca de coco, amassou e pediu para que eu ingerisse a mistura. Eu obedeci, engoli a mistura amarga na esperança de cessar o mau estar. Tudo estava girando e eu estava prestes a desmaiar antes de eu, gradualmente, melhorar.

- Querida, meu nome é Atheuli. Você alguma vez já viu a morte?

- Meu nome é Lyunee, senhor. E não. Quer dizer, eu já vi a morte beijar pessoas á minha frente. Mas nunca á mim. 

O homem acenou com a cabeça, como se fosse exatamente a resposta que esperava, e sentou-se na poltrona.

- Querida Lyunee, eu tinha algumas suspeitas sobre você, agora confirmadas. Quando você desmaiou na floresta, alguns de nós te trouxeram até a mim. Você bebeu um poção líquida do cogumelo azul, para que não acordasse até amanhã. O cogumelo azul, para os humanos, é uma espécie de sonífero, mas para magos, pode causar a morte. O tempo para fatalidade depende de cada pessoa, ou cada mago. Basicamente, para aqueles que não possuem magia ou possuem em pouca quantidade, ele apenas adormece. Mas, quanto maior a quantidade de magia que corre em suas veias, mais letal ele é. É claro que, conseguimos anular seu efeito para podermos usar em algumas receitas por aqui, ao fervê-lo em água, ele perde suas propriedades nos beneficiando com sua cor em bolos e tortas. Por isso, o temos em grande quantidade. - Atheuli levantou-se da poltrona e caminhou até a porta, abrindo a cortina e deixando o sol irradiar o cômodo. - Por mais que tenhamos medo e receio de humanos, não podemos negar Turkaysien a ninguém que tenha o coração bondoso de tal forma que conseguiu encontrar magia no mundo lá fora. Venha, vai gostar de ver algumas coisas.

TURKAYSIENWhere stories live. Discover now