A DAMA E O CONQUISTADOR III

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**capítulo dedicado a minha leitora @MariaoliveiraS2  que está fazendo aniversário hoje**


Outono. Ano 6 da Era de Abril.

Conquistador.

Nos próximos dez dias Leona não fez nada além de esperar.

Zoé, Fernando e os outros reis enviaram um mensageiro para solicitar um encontro com ela e Corso, para tentarem chegar a um acordo, mas o mensageiro nunca mais retornou. E aquilo foi a resposta mais clara que eles poderiam ter.

Fora a morte do mensageiro e a flecha que não acertou Joana, Leona não fez mais nenhum ataque, nenhuma investida contra o castelo. Era quase como se ela e seus homens não estivessem ali para nos matar, como se eles estivessem apenas acampando como um bando nômades, em busca de um novo espaço para viver. A única coisa me fazia voltar para a realidade era quando eu espiava por uma das janelas do salão principal, e via os homens afiando suas espadas, lançando machadinhas para passarem o tempo, praticando uns com os outros, com seus bastões cheios de fincos nas pontas.

Para me distrair eu brincava com os meninos de Joana e Pedro e fazia penteados trançados nos cabelos ruivos da pequena Flora. Aqueles eram os poucos monentos em que eu me esquecia de onde estava e do que estava acontecendo lá fora. Mas eu sabia, tão bem quanto um cordeiro que vai para o abate, que algo de terrível estava para acontecer. Que a cada dia o nosso fim estava mais próximo.

***

Uma noite, quando eu não conseguia dormir, fiquei vagando pelos corredores escuros do castelo que eu já conhecia tão bem. 

Sabia que aquilo era arriscado, mas eu precisava respirar um pouco do ar puro, sentir o cheiro do mar. Então fui até a torre mais baixa, onde eu sabia que a escuridão da noite me protegeria e ninguém do exército de Leona poderia me ver.

Não fiquei muito surpresa quando encontrei Hércules ali. Aquela torre sempre havia sido seu refúgio para ver o mar e sonhar com um mundo onde ele não era herdeiro de coisa nenhuma. Talvez no fundo, parte de mim soubesse que ele estaria ali. Parte de mim queria encontrá-lo.

Ele estava sentado no chão e eu me sentei ao seu lado. Assim não podíamos ver o mar, mas ficávamos mais escondidos e conseguiamos enxergar as estrelas.

– Não consegue dormir? – ele sussurrou.

– Não acho que ninguém consiga. Devem estar todos rolando em suas camas, pedindo a Eudo que a morte seja rápida e sem dor.

– Imagino se Zoé está rolando para cima de Fernando, se esfregando contra ele, enquanto ele finge estar dormindo.

Tive que colocar a mão sobre a boca para não rir.

– Ouvi dizer que eles nem estão dividindo o mesmo quarto – falei, baixinho.

– Foi uma escolha de casamento bem infeliz. Mas suponho que seus pais não tinham como saber que Zoé iria crescer para se tornar insuportável e Fernando ainda mais intolerável que ela. Esse é o problema dos casamentos arranjados no berço.

– E você? Seu padrasto não estava arranjado seu casamento com ninguém?

Pensar em Hércules casando com outra não me doía porque agora eu sabia que aquilo nunca iria acontecer, mas quando eu era apenas uma menina de dezessete anos, completamente apaixonada, eu não conseguia nem pensar no dia em que Hércules seria obrigado a ter uma rainha ao seu lado. E que aquela rainha jamais poderia ser eu.

– Você quer mesmo saber?

Fiquei imaginando se sua resposta iria me magoar. Se houvera planos frustrados de um casamento planejado entre ele e Aurélia ou Irene. Mas mesmo assim concordei com a cabeça.

Herdeiros Malditos [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now