Capítulo 3 - Laura

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            Eu tamborilava meus dedos sobre a mesa sem querer. Estava nervosa. Refazendo mentalmente os planos de quantos meses eu poderia ficar tranquila com minha poupança depois que Hans me dispensasse. Decidi que não tornaria as coisas mais difíceis pra ele e me adiantei.

- Hans, eu sei que é difícil para você. Sei que confiou em meu trabalho e eu o desapontei, então, tudo bem. Eu entendo. Eu até acho que você tem seu ponto.

            Hans fitou meus olhos por um tempo, estudando meu comportamento. Eu fiquei ali, pensando em como um dia bom podia ter se transformado em um dia péssimo em menos de três horas – praga do cara de terno! Só podia ser.

- Exatamente que ponto você acha que eu tenho Laura? – ele me perguntou.

        Engoli em seco – ele realmente queria que eu pedisse demissão? Ajeitei uma mecha insistente em meu coque recém-refeito.

- Em me dispensar – soltei de uma vez – você está certo. Não é como se eu pudesse esperar na geladeira até que as coisas se acalmem. Você tem clientes importantes. Eu entendo.

        Tentei levantar para começar a ajeitar minhas coisas, mas Hans fez sinal para que eu me sentasse novamente.

- Porque acha que eu pretendo dispensá-la?

        Agora eu estava irritada! Maldito holandês do inferno! Eu não sei oras! Talvez porque o ricaço metódico e chato não me queria perto dos seus negócios? – Não respondi por alguns segundos, pensando no que falar.

- Pelo que eu entendi da conversa – comecei – Alexander Persen não me quer perto do caso dele.

        Soltei o ar sentindo meus pulmões doerem. Era a verdade, mas era uma verdade dolorosa. Eu, com minha experiência sexual irrisória, carregaria o estigma de prostituta de luxo para sempre.

- Alexander Persen me impôs apenas uma condição – Hans começou – a de que você tomasse conta do caso dele pessoalmente.

        Engasguei. E tossi. E senti como se minha glote se fechasse em um instante, fazendo todo o ar faltar.

- Oi? – perguntei.

- Ele acabou de me ligar e dizer que, dado os problemas que teve hoje pela manhã, espera que você possa encontra-lo ao final da tarde no Waldorf para uma xícara de chá. Ele quer discutir o caso com você e ver se a interessa.

        Minha boca parecia colada ás orelhas, impedindo-me de fechar o sorriso, mas o medo era um fantasma rondando minha felicidade.

- E você acha que eu não deveria – conclui.

- Ao contrário, acho que nada poderia ser melhor para sua carreira. Persen veio com indicação do Juiz Reign. É um homem influente. Eu fiz uma varredura sobre ele. Descobri que é um advogado importante, braço direito de um grande empresário holandês. Se ele a escolheu tão especificamente foi por seus méritos como profissional – Hans parou por um instante, descansando a mão sobre as minhas, cruzadas sobre a mesa – só não queria que fosse sozinha. Eu preferia estar ao seu lado e garantir que tudo sairia bem, mas ele foi muito especifico quanto á isso. Disse que quer você no caso. Exigiu confidencialidade.

        Acariciei a mão de Hans sobre as minhas. Então era isso, preocupação comigo. Eu quis beijá-lo, mas os europeus não são como os brasileiros e eu aprendi nesses anos que contato físico aqui é meio limitado.

- Obrigado – eu disse.

        Hans sorriu e então eu continuei.

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