5 - Pretty Woman

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Que garota nunca assistiu O Diário da princesa e sonhou passar por uma transformação como a de Mia Thermopolis? Essa é uma das cenas mais icônicas dos filmes teens. Mudanças de visuais são bastante comuns nas comédias românticas, desde o clássico Uma linda mulher até a pouco reconhecida A verdade nua e crua. E esse plot não é um privilégio das mulheres. Quem não lembra quando Patrick Dempsey deixou de ser o menino nerd para se tornar o cara gato mais popular da escola em Namorada de aluguel?

Vovó não é uma rainha de um pequeno país europeu e nenhum CEO milionário quer pagar um dia de compras para mim, mas tenho uma chefe que me adora o suficiente para me arrastar a um salão de beleza e me proporcionar uma mudança radical de visual. O salão para o qual Maria Luisa me trouxe é simples, mas muito charmoso. A fachada pink já denuncia que esse é um espaço para mulheres. A decoração interior é um show a parte: há fotografias de ícones femininos de todas as décadas espalhadas por todo o lugar e um pequeno hall com puffs rosas felpudos. 

As conversas no ambiente se misturam com o som dos secadores e das vozes de grupo de apresentadores de algum programa de televisão. "Três reais?" escuto uma das apresentadoras dizer chocada. "Apenas três reais?". Esse lugar poderia ser facilmente a versão feminina do cantinho do macho, mas com diferenças cruciais. Em vez de uma grande motocicleta de enfeite, aqui tem uma cadeira de massagem que está chamando pelo meu nome desde que entrei. Prioridades. De todo modo, talvez no fundo não somos tão diferentes assim, todos queremos nossos espaços para fofocar, xingar ou simplesmente ter um tempo longe do sexo oposto.

Malu me apresenta à dona do salão, Natália Pontes, uma senhora com tantas plásticas que tenho quase certeza de que se esforçou para uma versão brasileira da Kris Jenner. Tagarela, ela não poupa detalhes de como preferiu nunca se casar e adotou para si os filhos da senhora Conti, sua melhor amiga de infância, e a obrigou a nomeá-la madrinha dos gêmeos antes mesmo de serem gerados. Ela era uma figura tão constante na família que se tornou a tia Nat, aquela que estraga as crianças com doces e presentes fora de época.

— Esse era o meu segredo para acalmar os três pestinhas. Deus me criou para ser a tia que estraga as crianças, e não para ser mãe — ela diz sem se importar em deixar Malu um pouco sem graça. — Eles tinham o dom de pintar todas as paredes da casa, só a santa Aline para não perder a paciência. 

— Eles uma vírgula! —  A certinha Maria Luisa protesta como se fosse muito importante ressaltar que aprontou uma travessura quando era criança.— Alain que era o capeta da casa, uma vez ele fez uma pequena montanha com os travesseiros porque queria desenhar uma árvore no tamanho real... Mas ficou parecida mais com uma vassoura de cabeça para baixo. 

— Então ele sempre foi um artista.

— Diz isso para as paredes lá de casa, papai precisava pintar a cada seis meses... Alain era atentado, mas era só a tia Nat chegar que virava um anjo de candura. — Malu diz cutucando a tia que abre um grande sorriso convencido. Os dentes da mulher são tão brancos que poderiam competir com os do jogador Firmino no quesito sorriso colgate. 

— O garoto tinha uma paixonite por mim. Hoje posso dizer que já ganhei uma declaração de amor daquele homão... Ai se eu fosse uns vinte anos mais nova — ela completa com um suspiro de pesar, e fico em dúvida se está brincando ou não. Como assim o pequeno Alain se declarou para a madrinha? Quando foi isso? Será que ele ainda tem uma queda por mulheres mais velhas?

— Me conta mais! —  Digo me virando na grande cadeira, para encarar as duas cara a cara. Conversar olhando para o reflexo delas no espelho estava ficando estranho demais. Esse é o tipo de informação que preciso para usar quando for extremamente necessário. Necessito de armamento pesado para usar contra Alain. — O que ele disse? Como foi?  

Amor à segunda vistaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora