Capítulo 3

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— Saitama-san...

Silêncio.

— Saitama-san!

— Humm...

— Saitama-san!!

— O quê? — o homem empurrou os lençóis, aborrecido.

— Preciso pôr o futon no sol.

— Faça isso outro dia. — gemeu.

— Você disse a mesma coisa ontem... e anteontem... e na semana passada...

O ex-herói resmungou um protesto vago, saiu da cama e se acomodou diante da mesinha no centro do quarto; esticou as pernas, se debruçou sobre o tampo de madeira e em poucos minutos caiu no sono usando os braços como travesseiro.

Genos suspirou.

Fazia duas semanas que se mudara para o apartamento e lentamente conseguira impor alguma ordem no caos. Os cupons foram usados dentro do prazo, os armários e geladeira estavam devidamente abastecidos com alimentos saudáveis e com baixo teor de sódio e o ambiente se tornou arejado e agradável — embora os problemas com o aquecimento persistissem.

Tudo estava bem.

Ou quase.

O ritmo de Saitama continuava o mesmo. Ainda se enrodilhava na cama, dormia o dia inteiro e mal fazia o necessário para suprir as necessidades do próprio corpo.

Segundo os consultores da Associação o comportamento recluso e apatia eram normais, como um tipo de crise existencial aguda já que a função de "herói" caíra em desuso; para o Dr. Kuseno — que não era especialista em comportamento humano, mas que vivera o bastante para entender uma ou duas coisas sobre o assunto —, a questão soava bem mais delicada.

Certa vez, enquanto o cientista atualizava seus sistemas de reconhecimento facial Genos compartilhou suas pequenas descobertas e todas as pequenas coisas que conseguira aprender naqueles poucos dias de convívio. O velho pesquisador não se mostrou nada feliz com as observações.

— Não quero ser alarmista — Kuseno dissera. —, porém seu amigo parece ter alguns sintomas típicos da depressão. Claro, sabemos pouco sobre ele e posso estar me precipitando... a avaliação do scanner me fornece número, não respostas... Mesmo assim, experimente tirá-lo da rotina, veja o que acontece. — então o olhara muito seriamente. — Mas seja cuidadoso... e paciente.

E Genos aceitou essa ideia como sua nova missão pessoal.

Ele pretendia iniciar sua campanha de guerra quebrando pequenos hábitos, coisas banais e fáceis de serem mudadas — melhorar a alimentação e fazer o homem sair da cama eram um bom ponto de partida. Também o instigou a tomar banho e comer em horários regulares, embora fosse difícil fazê-lo mastigar mais do que uns poucos bocados por vez.

O mais complicado era simplesmente convencê-lo a levantar e ficar acordado.

Então, quando avistou o sol cintilando em um límpido céu azul, ele encontrou a oportunidade perfeita para quebrar itinerário do colega — afinal, aquele poderia ser um dos últimos dias ensolarados antes de o inverno chegar e a única chance que teriam de ventilar o maldito colchão.

Cantarolando um estribilho alegre o cyborg estendeu o futon na pequena sacada, aplicou uma fina camada de bicarbonato e pôs os cobertores usados para lavar. Mais tarde bateria a camada de pó e poeira. Por ora seu plano era deixar tudo ao sol o máximo de tempo possível.

Voltou para a sala, deixando a porta da varanda entreaberta, e observou o sono do ex-herói por alguns minutos, atendo ao menor sinal de desconforto com a posição incomum. Ajoelhou-se, considerando seriamente o rosto emaciado, e tocou a ruguinha que ameaçava surgir entre as sobrancelhas finas.

O mais forte de nósWhere stories live. Discover now