Capítulo 2

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— Eu criei um sonho e alimentei aquele mundo com a esperança de que ele despertaria... mas nunca aconteceu. E o sonho se tornou pesadelo. — o vento soprou, das montanhas distantes, um uivo longo e lastimoso. No rosto de porcelana uma miríade de emoções distintas surgia, difíceis de encarar, impossíveis de ignorar. — Me tornei grande demais para este mundo. Ninguém podia me parar. Então esperei. Esperei que alguém igual a mim, e ao mesmo tempo diferente, surgisse.

As mãos dela encontraram o rosto do herói. Os dedos frios eram macios, carinhosos, ao traçar a dobra do maxilar, a curva das bochechas, os ângulos das sobrancelhas finas.

— Tirei muito de você, mas você só poderá ter o que perdeu de volta quando eu me for. Foi o único jeito que encontrei de obrigá-lo a vir e fazer o que deve ser feito.

Um único punho se ergueu.

A luva vermelha, rangendo sob a tensão dos tendões rígidos, esticou sobre os dedos como uma segunda pele.

Saitama desejou, com todas as forças — como nunca desejara antes em sua vida —, não ser quem era, não ter o poder que tinha, não ser o homem que mancharia a floresta com sangue.

Não matar aquela mulher.

— Eu sinto muito...

— Eu também.


— Saitama... Saitama... hum... Oh, achei!

A secretária no balcão de atendimento clicou no link do perfil e aguardou a resposta dos servidores da Associação. Ela usava um colete azul-marinho sobre a camisa branca e um lencinho ao redor do pescoço, exibindo o timbre da Associação de Heróis. Os lábios dela, delineados por um batom rosa-pêssego, pareciam suaves e faziam um par agradável com o narizinho arrebitado e os longos cabelos escuros.

O computador anunciou a liberação dos arquivos e a mulher leu os dados rapidamente.

— Herói Classe B... envolvido em vários incidentes de nível Tigre, Demônio e Deus. Nossa! Esse Saitama esteve bem ocupado e subiu rapidinho no nosso sistema de ranking. — levantou o lápis e mordeu a borracha em formato de morango no topo. — Tem algumas observações especiais aqui. Parece que o supervisor anterior estava ficando bem interessado nesse cara... Ah! — exclamou e sorriu para Genos. — Ele era o herói que faltava se apresentar. O pessoal da administração estava começando a se perguntar se deveriam classificá-lo como "Morto em Combate".

Ela pediu que esperasse um pouco enquanto preparava os papéis e entrou na salinha atrás do balcão. Genos teve a impressão de ter ouvido seis ou sete pessoas suspirando e tossindo para disfarçar o interesse na garota — fãs e admiradores, possivelmente.

A secretária retornou e entregou o cartão dourado que a Associação distribuíra para todos os heróis registrados e "aposentados" por ordem do governo.

— Onde você disse que o encontrou?

— Na Zona Morta de Z-City. — informou mecanicamente. Guardou o cartão e assinou os papéis de recebimento.

A secretária torceu os lábios num sorriso divertido e piscou um olho.

— Confere com o último endereço registrado em nossos arquivos. Por que ele não veio antes? — agora ela parecia realmente interessada, não apenas tentando cavar uma armadilha para enredá-lo.

— Z-City passou o início do verão inteiro sem luz. Ele provavelmente não viu os anúncios e ninguém pensou em ir até lá. — Genos explicou.

O mais forte de nósWhere stories live. Discover now