A Máscara

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Demiti-la foi uma das coisas mais difíceis que já fiz em toda minha vida, não dizer nada e ir embora, não ligar quando a saudade bater, esperar um abraço quando estiver chateado, um beijo de bom dia, a voz dela ao me acordar pela manhã.

Tudo isso era muito difícil de segurar dentro de mim, mas foi o que eu fiz, foi o que me motivava, e era isso que me fazia esperar todos os dias.

E só faz isso quem realmente ama alguém, quem quer ver o bem da outra pessoa mesmo estando longe.

Resolver aquele problema me tirou o foco desse último álbum, não sabia de onde aquela mulher tinha tirado todas aquelas coisas de namoro e tudo mais. A raiva foi tanta que passei a ser meu próprio chefe e cuidar diretamente de tudo aqui, com o escritório na coreia me supervisionando.

Então resolvi falar abertamente sobre o caso e dizer que apenas estava curtindo a vista com uma pessoa próxima e que no momento não estava namorando ninguém. Essa foi a declaração que eu fiz questão de dizer na frente das câmeras, em todas as entrevistas era o mesmo texto. Já estava tudo programado. Já não saia nada de diferente da minha boca quando me era questionado sobre o meu antigo relacionamento (inexistente) com a famosa cantora coreana.

Estava tudo indo fácil de mais, e eu estava até estranhando, até ver as fotos da Haneul com o Jung dias atrás. Isso mexeu comigo e resolvi iniciar de uma vez por todas os planos para reconquistá-la.

A primeira coisa foi combater o inimigo de frente. Nesse caso o meu se chama: Min Jung Ho.

- Bin Bin, daqui três dias vamos para a Coreia! E de lá iremos para o norte da China fazer divulgação do filme, certo. Preciso que você resolva tudo nesses dias enquanto eu estiver por lá, digamos que esses dias serão como férias, alguns dias de folga antes de voltar para a divulgação. Tudo bem para você?

- Sim, sem problemas chefinho. Ele acena com a cabeça e sai levando minha mala.

Ele chama o elevador e partimos.

Duas horas e meia depois e já estávamos na coreia, fiquei durante todo esse tempo pensando se tudo iria dar certo, e tudo o que mais queria, era vê-la novamente mesmo se estiver distante, eu preciso vê-la, não importa o que aconteça eu tenho que tentar. Desembarquei e fui diretamente ao prédio da SM e como sempre várias pessoas me fotografavam e gravaram, então não pude sair do prédio sozinho, pedi para que algum funcionário comprasse algumas bebidas porque passaria muito tempo no estúdio, depois colocaria meu plano em andamento.

Quando as bebidas chegaram eu peguei uma delas e notei algo familiar, todos os copos tem algo escrito caracterizando o sabor de cada bebida, mas o que me chamou atenção mesmo foi na verdade, ver que todos tinham um coração desenhado, sempre do mesmo lado e com aquele jeito torto. Eu sei quem desenhou esse coração tão mal feito, e também sei que ela o fazia enquanto sorria. 

Meus olhos ficaram vidrados. Não conseguia me mexer, dei um sorriso e continuei olhando, peguei delicadamente o copo e passei o dedo por sobre o desenho que quase foi apagado. Era como se sentisse suas mãos naquele momento. Levantei. Eu tinha que vê-la. No mesmo instante perguntei onde ficava a loja onde tinham comprado as bebidas vi quão perto ela ficava dali. Fiquei alucinado. Foi esse o sentimento que me tomou. Algo me sufocava, peguei o casaco, a máscara e saí.

Assim que apertei o botão do elevador ele chegou. Sorte, quem sabe. Enquanto as portas se fechavam eu pude ver os meninos que estavam comigo no estúdio correrem até ali sem entender nada, eu sabia que estava me arriscando e muito a partir do momento que saísse por aquelas portas, mas eu tinha que fazer. Mostrar para ela que ainda sou o mesmo e os meus sentimentos também.

Imaginei que não poderia sair pela porta da frente então fui até o estacionamento no subsolo e tentei o máximo me esconder dos fotógrafos e fãs. Me esquivei o quanto pude até chegar à loja, aparentava ser bem confortável, com uma decoração bem fina e elegante, as paredes e divisões eram espelhadas e por isso consegui avistá-la. Ela estava de uniforme, os cabelos presos e uma boina os cobriam. Adormeci ali, as coisas não se moviam mais, tudo estava como um flash rápido e desfocado. Um borrado de pessoas e coisas, e apenas ela se movia com belos e formidáveis gestos, nunca tinha visto um café ser tão bem preparado em toda minha vida. Dei um sorriso.

Após mais algum tempo ali parado, fui descoberto. Ela virou-se para mim, como se eu tivesse chamado pelo seu nome. Arregalei os olhos, puxei a máscara um pouco mais para cima e cobri os olhos com o capuz do casaco. Dei as costas para ela e andei um pouco para o lado como se estivesse apenas de passagem. Voltei os olhos novamente e ela ainda estava me olhando, um nó se formava na garganta, o empurrei. Resolvi então entrar e continuamos nos olhando, dei mais dois passos em direção a porta e empurrei. Desviei os olhos um pouco, mas tinha certeza de que ela me reconheceu, assim que me pus em frente ao balcão uma voz forte e alta diz seu nome.

''Haneul, seu expediente terminou? Te espero lá fora!'' - Eu sei muito bem de quem era aquela voz. Cerrei os dentes e fechei os olhos por um segundo.

Ela desvia-se e sai do balcão, fala algo com uma outra jovem, essa agora toma o seu lugar e me pergunta se eu gostaria de ajuda para escolher.

Ela desvia-se e sai do balcão, fala algo com uma outra jovem, essa agora toma o seu lugar e me pergunta se eu gostaria de ajuda para escolher

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Então ela pressionou algumas teclas no painel e diz o valor do café.

- R$12,00 Senhor!

- Ah, sim. Tome aqui o cartão. - A jovem sorria meio desconfiada. Pensei: Ela me reconheceu?

Ela me entrega a notinha, agradece e me pede para esperar um pouco. Aguardei por um tempinho quando, o numero do meu pedido é chamado, retorno ao balcão, me entrega a bebida e mais uma vez se despede.

Andei todo o percurso novamente, entrei no estacionamento e voltei ao elevador, assim que as portas fecham lembrei do desenho de coração. Procurei no copo, não tinha nada. Dei um gole no café e para minha surpresa era o meu sabor preferido.

"Caramelo Macchiato! Doce e amargo, no ponto certo." -  Lembrei da voz da Haneul me dizendo isso. Era o sabor que ela sempre me trazia.

Arqueei as sobrancelhas. - 

As portas se abrem e o estalo me traz a memória o momento em que a Haneul falava com a moça que me atendeu. 

''Só pode ter sido isso!'' - O sorriso se arreganha em meus lábios.

 "Eu sabia, sabia que ela me reconheceria."

Peguei o telefone e fui no Kakao, verifiquei se ela já tinha visualizado a mensagem. Ainda não, mas acho que ganhei alguns pontos por hoje. 

Fique Ao Meu LadoWhere stories live. Discover now