8° capítulo

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UM BURACO SE ABRIU NO chão revolvendo os escombros na sala e arremessando Lucius para longe. Um odor sulfúreo saiu do seu interior e a sala foi tomada por um calor insuportável. Iratus freou desesperadamente com os pés e, percebendo que não pararia antes de cair no buraco, cravou a sua espada no chão, mas esse gesto acabou por impulsioná-lo para mais perto do precipício. Quando ele se ergueu e tentou descravar a espada, uma imensa sombra surgiu à sua frente.

OS OLHOS AMENDOADOS, O rosto redondo, o nariz pequeno e afilado, os lábios grossos e úmidos, a pele sedosa, os cabelos volumosos e cacheados, o pescoço longo, os ombros largos, Hesediel, na forma humana, os soube ao tocá-los com as mãos, no entanto, antes que o desejo o levasse a querer saber mais do que pudesse, ele recolheu as suas mãos e mentalizou a forma angelical.  Ao se transmutar em anjo, ele ouviu Ariadna dizer que a cor dos olhos estava entre o azul céu e o verde mar. Hesediel levou as asas aos olhos como se desejasse ter a visão, e antes que outros desejos tomassem conta de sua mente, ele aguilhoou ao cumprimento da sua missão guardando a espada Divus na bainha e o recipiente Lux no coldre, colando o corpo de Ariadna ao seu, amarrando a cinta de proteção em volta dos seus corpos, abrindo as asas e alçando voo.

  O vestido de algodão branco de Ariadna bailava no ar de acordo com o sentido do vento, ora deixando as suas coxas sem pelos à mostra, ora não. Hesediel, mesmo não enxergando, sentia o contato da pele de Ariadna revelar em sua mente a fotografia do seu corpo nu. Por mais que ele se concentrasse na sua missão, a atração que sentia por ela o desarrazoava. Os suores e os tremores pelo seu corpo, o aceleramento das batidas do seu coração eram provas de que ela o atingia. Havia algo nela que abalava os imortais, ele não quis saber o que era. Acelerou as batidas das asas, pegou uma corrente de ar e embicou rumo a terra, antes que o peso do corpo aumentasse devido a sua concentração ser desviada para o desejo ou os tremores o desnorteassem.

FURIOSUS ANTEVIU ESSA CENA, POIS sabia que o Senhor das Trevas não deixaria Iratus assassinar o seu filho, afinal, muito mais do que pela herança sanguínea, os seus ensinamentos, Lucius aprenderia pela convivência. Os seus gritos de não atacar foram em vão, se perderam no vazio. Iratus selou o seu destino e diante do buraco, próximo a sua queda, ele viu a sombra se transmutar e descravar a sua espada Daemo do chão e cravá-la no seu coração. Ele sabia que assim não morreria; se o Senhor das Trevas quisesse eliminá-lo, bastaria ter cortado as suas asas, se não o fez era porque queria fazê-lo sofrer.

O Senhor das Trevas cravou mais ainda a espada em Iratus varando as suas costas, quando a tirou girando, Iratus sentiu a raiva do seu senhor. Vociferando e com o ódio espremido entre os dentes, o Senhor das Trevas o agarrou pela gola, olhou dentro dos seus olhos na tentativa de encontrar o medo, e como não achou, selou o seu fim com um beijo na boca. O Senhor das Trevas esperava que Iratus pedisse clemência, como nenhuma palavra saiu da sua boca, ele o arremessou para cima, desejando que a sua queda fosse dolorida e lenta. Iratus varou o telhado e lembrou que Furiosus havia lhe dito, assim que eles começaram a treinar com os Guerreiros Shaitans, que a morte é bela.

Ele não voava como um anjo Shaitan, mas impulsionado pela força impregnada pelo Senhor das Trevas, não sabia se iria encontrar com a morte na ascendência ou descendência. Quando ele a viu, ela tinha os olhos amendoados, não sabia se eram azuis céu ou verdes mar, os cabelos cacheados pareciam fios de ouro, a pele alva sem um fio de cabelo ressaltava a sua beleza. Iratus encontrou a morte e ele não estava nem na ascendência, nem na descendência, pois estava parado, transformado em uma estátua de sal.

Quando Ariadna se recuperou do susto, nunca imaginou tanta feiura em um anjo. Iratus caiu vertiginosamente sem se esfacelar com o atrito. Hesediel, sem poder enxergar, pediu a Ariadna que descrevesse o que estava vendo. Ela lhe contou da queda do anjo negro e da destruição do plano terreno. Sabendo que o anjo negro só poderia ser Furiosus ou Iratus, Hesediel pousou para preparar o ataque, ou mais apropriado dizer, a defesa.

Iratus caiu em pé próximo ao precipício na sala e se esfacelou transformando-se em uma nuvem negra que adentrou a escuridão do buraco. O sentimento de dor pela perda não havia entre os anjos Shaitans, pois a ausência de luz os impedia de sentir. Furiosus não esperou a ordem de ataque do Senhor das Trevas, o seu olhar já dizia o que tinha que fazer. Ele deu a volta em torno do precipício na sala e saiu voando pelo buraco no telhado aberto, quando Iratus foi arremessado.

Lucius despertou tendo diante dos seus olhos o seu pai, Petrus. Deu-lhe um abraço efusivo, e chorou compulsivamente, pedindo-lhe perdão pelo que havia feito.

AO POUSAR PRÓXIMO À casa branca com portas amarelas, Hesediel desatou a cinta de proteção, desprendendo Ariadna do seu corpo e sentiu o odor sulfúreo. Sabendo que anjos  Shaitans estavam próximo devido ao cheiro, Hesediel a puxou de volta para perto de si e sacou da sua espada Divus. O que Hesediel não via era que os anjos Shaitans não foram atraídos por ele, mas pela beleza de Ariadna, e assim que eles a olhavam nos olhos, transformavam-se em estátua de sal, para logo em seguida se esfacelarem em pó. Aos poucos, todos se vergaram à sua beleza em uma espécie de êxtase coletivo. Furiosus, longe dos olhos de todos e sobrevoando sob o céu iluminado, sem mais o manto negro a cobri-lo, pois todos os anjos Shaitans havia virado pó, observava Hesediel e Ariadna. Agora, entendendo o porquê de Iratus ter virado estátua de sal, ele colocou uma venda em seus olhos, voou rente ao chão, desviou da espada de Hesediel, jogada a esmo, e com as garras dos pés capturou Ariadna, pousando-a em um gancho de um dos prédios mais altos.

Sua respiração ofegante desejava vingança, contudo, ao cheirá-la, os seus desejos já eram  outros. Não obstante, ele sabia que o Senhor das Trevas a queria também. Furiosus retirou a venda e a colocou em Ariadna atando fortemente. O vento desnudava Ariadna, a sua pele alva refletida pelo sol causava fascínio em Furiosus. Ele se aproximou de Ariadna e sentiu o calor do seu corpo transpassando pelos seus poros como gotículas de água que ao estourarem, deixavam no ar um aroma refrescante e suave. Arrebatado pela concupiscência, Furiosus, com as garras dos seus pés sobre o corpo de Ariadna arrancou as suas peças íntimas. Apesar de não ter conhecimento sobre geometria, desenho artístico, poesia e mais precisamente de como o artista se inspira para no barro moldar o sentido de perfeição, Furiosus ficou tão bestificado diante de tanta beleza que, descontrolado, passou a língua entre os dois seios de Ariadna, sugando os seus mamilos em seguida. Depois desceu a língua até o vórtice do seu sexo preparando para consumar os seus desejos. Ariadna confundia-se entre a repugnância e o prazer, sem saber se pedia para parar ou continuar. Ele parou, mas não porque ela pediu. Furiosus afastou-se, perturbado, olhou as curvas de Ariadna e sobre o efeito delas não percebeu Hesediel aproximando-se com a espada em punhos. Quando ele ia retirá-la do gancho para mentalizar a forma humana e no chão consumar os seus desejos, sentiu o golpe de espada nas costas.

 

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