Prólogo

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A MONOTONIA DE TODOS OS DIAS, a rotina diuturna de admirar o que já fora belo, e, hoje, destruído pela soberba humana, o mundo, aos poucos, cansava os olhos dos deuses. A raça humana, além de não causar mais admiração, estava encerrando o seu ciclo, próxima do seu fim, não tinha mais fé nos deuses, muito menos em si. Por sua vez, entristecidos por não serem mais admirados e, também, pelo fato dos humanos não recorrem a eles para solucionar as suas aflições, os deuses resolveram criar uma Nova Geração que lhes fosse obediente. A Atual Geração seria abandonada à própria sorte, ou seja, legada ao Senhor das Trevas. A Nova Geração deveria ter sangue puro, humano, contudo, devido à impossibilidade de encontrar esse sangue, pois o mesmo foi derramado pela última vez sobre uma cruz na era Romana, não impediria a sua criação mesmo que a parte humana sobrepujasse o que lhe haveria de divino.

Caberia à Nova Geração o seu processo de evolução independente da vontade divina, porém, havia uma esperança que essa Nova Geração seguisse ao pé da letra os ensinamentos cristãos. Os deuses mandaram o anjo Hesediel à terra para capturar um espécime que mais próximo chegasse da pureza. O processo iria começar novamente, uma nova chance seria dada. O barro dos deuses esperava esse sangue.

ANSIOSO, PETRUS FOI ATÉ O jardim para fumar, deixou seus olhos se perderem no meio do nevoeiro enquanto tragava um cigarro atrás do outro. Perguntas lhe perturbavam: "Por que os deuses estavam abandonando a raça humana?”, “O que seria de seu filho Lucius que estava para nascer, seria mesmo o Senhor das Trevas que estava destruindo o mundo ou caberia somente aos homens a culpa?". Antes que as perguntas irrespondíveis lhe envolvessem, Petrus orou pedindo proteção ao seu lar e por um momento teve a sensação de ter visto um ser alado cruzar o céu símile a um anjo. O que ele não sabia era que esses seres alados não haviam vindo pela sua oração, mas pela cria que iria nascer. Não eram apenas os deuses que tinham planos para a Nova Geração, o Senhor das Trevas também.

ENQUANTO O ANJO HESEDIEL SE preparava para procurar o sangue humano que se aproximasse da pureza desejada para a feitura de Ariadna, a "eva" da Nova Geração, os deuses confabulavam se ela deveria ser bela somente intrinsecamente ou, também, extrinsecamente. O céu tremia devido às discussões, porém, só depois dos ânimos estarem acalmados, eles chegaram a um consenso. Ariadna deveria ser totalmente bela e o seu contato carnal com o outro espécime deveria ser com aquele que lhe daria o sangue para a sua criação, assim a Nova Geração estaria protegida das impurezas que tanto assolam a Atual Geração e a estão levando ao seu fim. Se por acaso ela tivesse algum contato com um espécime de sangue impuro, beijando-o, a sua beleza se esfumaria a envelhecendo aceleradamente e se houvesse algum contato carnal, a sua vida esvairia para que a Nova Geração não fosse contaminada pela impureza do sangue do Senhor das Trevas. O vaticínio do fim da raça humano poderia se concretizar.

Levando a sua espada Divus, o recipiente Lux para captura dos espíritos dos anjos Shaitans e após ter ouvido a explanação detalhada de todos os deuses, Hesediel, o anjo destemido da morte, foi para a sua mais difícil missão no reino terreno. Atravessou a região Esperanthus, onde os espíritos que não foram capturados pelos anjos Shaitans, ou os que foram purificados pelo recipiente Lux recebiam ensinamentos dos Servos dos deuses para um novo reencarne, e entrou na região terrena. Observou uma nuvem negra cobrindo todo o céu terreno. O Senhor das Trevas havia içado as suas armas, a batalha iria começar. Hesediel, passando os dedos no gume da sua espada Divus, ajeitou-a na bainha, apertou a fivela do coldre onde estava guardado o recipiente Lux, abriu as asas e subiu alguns metros, embicou no sentido descendente, fechou as asas e atravessou as nuvens negras. A casa do Senhor das Trevas não é o inferno, mas onde se encontram aqueles que praticam os seus ensinamentos, entre eles, a maldade. Hesediel estava na terra, a batalha ia começar.

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