Modices

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Então lá se veio rapidamente outra segunda-feira após outras. E outras. E mais algumas.
Já tínhamos tido uma segunda aula sobre "comunicação", com mais quatro dias teríamos a terceira.

Pelo que eu tinha entendido aqueles quarenta minutos de felicidade em forma de aula era resultado de alguns tristes casos de bullying no colégio.

Parece que estudando os casos, teria sido tudo mais simples se as "vítimas" - odeio quando usam esse termo - soubessem se defender melhor.

Talvez tivesse faltado confiança em si e em quem estivesse em volta. Talvez tivesse faltado senso de humor. Bom humor, mais amor!

É como se todo mundo estivesse revestido de casco e não de pele. Sabe, aquela velha história sobre estar sempre na defensiva? Acho que era isso.

O ponta pé era estar irritado ou com raiva e quando não quisesse parar para pensar, o insulto pulava pela sua garganta a fora. Um ciclo vicioso do mal.

Mas voltando ao assunto principal: a coordenação acreditava que se os outros alunos envolvidos, soubessem se comunicar melhor para pedir ajuda ou para denunciar, talvez as coisas não seriam tão tristes ou trágicas.

Meio que eu concordo. Não que tenha faltado ajuda ou apoio da minha família. Isso eu tive de sobra - obrigada senhor!

Mas e eu? Eu olhava no espelho e não via peitos. Eu via ossos. Eu via os insultos como sendo verdade.

Eu fui a primeira a acreditar naquelas bobagens. E se eu tivesse rido na cara deles? E se eu tivesse desejado um "bom dia, passar bem" e seguido em frente? E se?

Eu sei, não da pra voltar atrás. Mas sabe, fico feliz de que os próximos alunos vão ter a chance de fazer diferente se quiserem.
É tudo uma questão de escolha.

O professor Marcos era como um dos homens que pegam o elevador com uma pasta e seu terno bonito em uma dessas cenas de filme. Como se fosse subir até o último andar do prédio e encontrar sua mesa de escritório cheia de recados deixados por sua secretária vestida de saia justa e blusa social branca, passada e engomada. Mas sua fala passava uma impressão de simplicidade.

Bem à nossa frente, tentando nos ensinar como se relacionar, principalmente no mundo real.
Olho no olho, aperto de mão. Quando essas coisas deixaram de ser importantes?

Hoje em dia, em vez de marcarmos um encontro na sorveteria com amigos, marcamos a hora em que vamos nos encontrar numa sala de bate-papo ou num jogo. Isso é estranho ou só novo? Isso é moda ou veio para ficar? É prejudicial?  Sempre vai surgir uma moda diferente. Mas e se a moda matar?

Todas essas conjecturas foram feitas em classe.
E eu pensava no que meus colegas pensavam daquilo.

Marcos se apoiou em sua mesa, virando para os alunos e com o olhar perdido na parede de grafites suspirou, tirou os óculos de grau do resto e começou a dizer:

- Talvez estejam se perguntando o porquê disso tudo. Como que a ideia de um blog pode ter a ver com uma conversa dessas? Na verdade é bem simples: será que sabem mesmo usar a internet? Sabem quais são seus limites online e quando que você já começou a invadir o do seu amigo? - Passando o olhar no olhar de seus alunos ele continuou:

- Tudo bem que você está usando o "seu espaço". Mas será que você pode postar lá o que der na telha? O que acham?

Alessandra tinha a resposta na ponta da língua, - literalmente falando - já que nem esperou o professor chamá-la:

- Mesmo tendo o direito de liberdade de expressão, é preciso ter cuidado! Coisas como insultos à instituições ou postar a foto de alguém sem autorização. Isso pode criar o maior barraco online e até mesmo levar alguém para um tribunal.

- Exatamente Alessandra! - Disse o professor com um ar animado. E continuou:

- Tendo isso em mente, a ideia do projeto é dar a vocês a liberdade da escrita. A pauta pode ser infinita! Haverá grupos, onde cada membro cumprirá com sua responsabilidade. Alguém tem que sair pesquisando e analisando sobre o que o público gosta de ler. Outro, precisa ver um layout que atraia seguidores e leitores. Um terceiro precisa corrigir e ficar responsável com os temas e comentários, analisando se eles são invasivos ou maldosos. Esse será o moderador.

A sala pela primeira vez começou a criar um zumbido entre as carteiras. Isso eram os ânimos dos alunos. Agora todos pareciam curiosos. Sentiam-se talvez como futuros YouTube's? Ou como um futuro âncora de um jornal famoso?

Caminhando entre as carteiras com passos largos, Marcos gesticulava com o indicador da mão direita para o teto, como se fosse fazer um grande anúncio:

- E claro, não menos importante: teremos os escritores! Um principal e mais dois, que servirão como colaboradores.
E então, o que acham? - Ele colocou um grande sorriso no rosto ao explicar tudo isso, estava todo animado... E eu não posso negar, também fiquei!

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⏰ Última atualização: Jul 09, 2018 ⏰

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