As coisas mais legais do mundo

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Eu esperava mais. Sei lá, talvez eu quisesse que algo magico acontecesse. Queria que elas contasse como tinha sido o primeiro dia de aula, e talvez de alguma forma, eu me sentisse parte daquilo. Como se eu também pudesse ser uma das personagens, apesar de ser apenas uma ouvinte.

 Elas tinham um milhão de novidades felizes para contar; enquanto eu, bem... Eu tinha a mesma história deprê, sobre a garota que voltou para um ninho de cobra e que estava longe das suas amigas. E isso não parecia nada interessante perto das novidades do colégio Visconde General. 

Madá tinha milagrosamente esquecido o Luca, mas isso só aconteceu devido a chegada do Victor, o novo surfistinha da classe. A Nanah, já tinha dado uma de justiceira como sempre: havia tido uma palestra sobre exploração sexual (e sobre como podemos fazer denuncias). O tal palestrante contou um caso onde um amigo dele tinha um chefe que criava esquemas de exploração, mas que por medo de perder o emprego, ficou de boca fechada. A Geovanah disse que na mesma hora esticou o braço pra fazer uma pergunta, e o cara que falava diante de uma classe inteira, inocentemente lhe deu a vez:

" Senhor, já que seu corajoso amigo não teve tanta coragem de fazer uma denuncia, que todos sabem que pode ser feita de modo ANÔNIMO, eu acredito que você mesmo a fez, não?  Até porque, como um cara do seu naipe, iria ter a audácia de subir nesse palco e de tomar o nosso intervalo, incentivando a conscientização de quais medidas tomar sobre a exploração sexual no pais, se você mesmo não faz uma denuncia? "

Com uma pergunta dessas a reação do publico foi de silêncio. Quem ousaria responder sem argumentos que fossem bons o suficiente? Quem ousaria enfrentar aquela menina? Pode até ser que exista alguém disposto a isso, mas com certeza não foi aquele palestrante de trinta e poucos anos, que segundo a minha amiga, deixou o queixo cair e a voz falhar na frente de uns quinhentos alunos.

Na verdade até fiquei com pena dele. Não por causa do mico que ele pagou, mas por causa da farsa que ele vivia. Aquele homem podia até se sentir forte, ou quase mudando o mundo ao sair por aí falando sobre uma questão grave que só vem aumentando. Mas a única coisa sólida por trás daquela cortina, era um cara, só um cara. E pior, um cara covarde que não bancava fazer nem mesmo o que pregava em seus discursos. Que desperdício! Taí uma prova de que só o Superman e o Batman podem mudar o mundo. - Ou a Nanah, pelo visto... rsrsrs.

Jogar conversa fora com elas foi uma delicia. Na verdade não joguei nada fora; nem a conversa, nem o tempo. Saudade definitivamente é a palavra da vez. Ter amigos é realmente uma das coisas mais legais do mundo.

Mas sabe, fiquei pensando: o que sobra pra mim? A Madalena é super extrovertida, divertida, comunicativa, e muito, muito boa com os garotos. A Geovanah sonha em mudar o mundo, e coragem é o que não falta no caso dela. Ela briga por uma nota errada, por um aluno injustiçado, pelo preço do suco na cantina. Bem, elas parecem perfeitas... Se tivessem um livro sobre a vida delas, meu deus, eles iriam ficar esgotados na mesma hora em todas as livrarias. 

Mas e eu, poxa? Não sou boa com números, nem com garotos, sempre sou a amiga dos caras (isso graças ao meu amor eterno por quadrinhos de super-heróis). Não sou nem um pouco extraordinária, não sou boa em falar em público, não tenho a melhor postura, Nem o cabelo mais bonito. Sou tão comum que enjoa.

 Quem por acaso teria algum interesse por mim? Qual o garoto que  me notaria? Com certeza não são os "Luca" da vida, e provavelmente nem os "victor" que talvez conheçamos por aí. Mesmo assim não faz diferença: não me sinto pronta para nada. E acho que quando eu chegar aos 22, ainda não irei me sentir.

Mas de repente, no meio de todo esse devaneio, a Geovanah perguntou:

- Ei moça, que cara é essa? Acho que eu a Madá conversamos tanto que nem perguntamos como foi o seu dia. E aí? 

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