Capítulo 3

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                                                                     25 de setembro de 1993

Se está se perguntando se ainda estou indo ao parque todos os dias, eu respondo essa pergunta: Não.
Depois que percebi que não havia mais flores para caírem no ano passado, não voltei mais aqui. Pelo menos até o dia 20 desse mês.
Precisava de um lugar para sentar e pensar.
Meu avô se foi a um ano e decidi me sentar nesse mesmo banco para me lembrar dele. Estou fazendo isso a dias. Em meu horário de almoço, pego minha bicicleta e corro para cá.
E se está se fazendo outras perguntas, eu as responderei, talvez não todas, mas boa parte delas.
Atualmente trabalho no mercado. Embalo compras. Nada de mais. Um trabalho em meio período. Nada pretensioso.
Escrevo nas horas vagas.
E não vi mais aquela garota.
Eu queria vê-lá novamente, admito. E talvez esse fator tenha contribuído para que eu almoce vendo as flores amarelas dançando ao vento.
Dou uma mordida no sanduíche de frango que trouxe e começo a me lembrar de quando era criança e meu avó me dava chocolate antes do almoço. Minha mãe ficava terrivelmente nervosa.
- Belo sanduíche.
A voz calma e alegre da garota me desperta de meus pensamentos.
- Ah, olá. - Digo após o choque inicial ter passado.
- Então nos encontramos de novo. - Ela diz se sentando.
Um ano se passou, mas ela parecia a mesma. Seus cabelos negros estavam ainda compridos e soltos. Seu rosto parecia exatamente como eu me lembrava. Nariz pequeno e delicado. Seus lábios rosados e cheios. As maças do rosto altas. Um sorriso com dentes quase perfeitos surge em seus lábios.
- Parece que sim. - Digo e mordo em mais um pedaço de meu almoço.
- Então, vejo que mudou seu guarda roupas. - Ela aponta para meu uniforme de trabalho.
- Ah sim, o terno não seria bom no momento de embalar as compras.
- Aposto que sim. - Ela diz e tira um livro da mesma bolsa que usava no ano passado.
- Gosta de ler, pelo que vejo.
- Sim. - Ela diz e abre o livro. - E você?
- Sim, sim. Claro. Para escrever é preciso ler.
Vejo ela fechar o livro e olhar para mim. Seus olhos castanhos brilham ao Sol.
- Você escreve?
- Sim, eu tento ao menos.
- Uau, um escritor. Isso é atraente.
Sorrio sem jeito.
- Obrigado. - Digo. - Tenho que ir. - Emendo antes que o vermelho de minhas bochechas ficasse roxo.
- Ah, mas já? - Ela sorri.
Guardo meu almoço pela metade em minha mochila.
- Meu horário de almoço é mais curto do que parece. - Dou de ombros.
- Estou percebendo.
Me levanto e olho para ela que abriu o livro, mas ainda está olhando para mim.
- Então, tchau. -Digo meio inseguro.
- Nós vemos por ai. - Ela diz.
- Quando as flores caem. - Dizemos juntos.
Ela sorri e se volta para seu livro.
Exito por um momento, mas ela já está imersa na história que está lendo e eu saio sem que ela note.
Queria mais que apenas "nos vemos quando as flores caem.", mas pelo visto era tudo que aquela garota ia me dar. E estava inclinada a aceitar, não sabia exatamente o porque. Mas as vezes as perguntas não tem uma resposta óbvia, certo?  

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⏰ Last updated: Feb 07, 2018 ⏰

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Quando as flores caem.Where stories live. Discover now