Capítulo 65

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  A missa de sétimo dia do Barão e Baronesa foi extremamente triste, talvez até mais que o próprio velório onde Pietra passou mal e não se dignou a comparecer ao enterro.
  Saindo da Capela, não pude deixar de notar que Virgínia estava muito pálida, magra e com imensas olheiras. É certo que ela é a que mais está sofrendo, mas Dorian e Ian estão igualmente abalados.
- vamos para casa!-sussurrou Ian.
- ainda bem que acabou, não estou me sentindo muito bem!-reclamou Pietra.
- você poderia ser menos egoísta Pietra! -falei.
- egoísta? Estou passando mau Helena. Você poderia respeitar.- retrucou ela.
- você é quem deveria respeitar a dor da família. Não vê que estão todos muito abalados?
  Pietra ficou em silêncio, em seguida agarrou o braço de Dorian e saiu para receber a atenção dos solidários que vieram nos consolar.
- ainda bem que acabou! -resmungou o Senhor Seymour.
  Ian revirou os olhos e se limitou a responder.
  Ian estava rodeado de pessoas, todas querendo o consolar, todas o confortando e apoiando. Mas eu senti que Ian não se importava com nada daquilo. Ele estava distante, quieto e com o semblante sofrido. Essa tragédia afetou tanto Ian quanto Virgínia com a mesma proporcionalidade, arrisco em dizer que talvez Ian ainda tenha saído mais machucado que a própria mãe.
  A notícia de que o Barão e a Baronesa morreram foi tao chocante quanto o modo ao qual pereceram. A carruagem deles era praticamente nova, mas uma pedra na estrada fez com com a roda se soltasse e assim fazendo o cocheiro perder o controle e tombar a carruagem que foi encontrada muito distante da estrada.
  Maria foi comunicada da morte de seus pais, mas não veio para a última despedida, ficará no Colégio até as férias, quando virá para a mansão Seymour.
  O Senhor Seymour não ficou nem um pouco satisfeito com essa história, lembro-me de ter ouvido ele dizer que a casa dele não era um lar para crianças órfãs e que não pretendia sustentar a garota. Suspeito que Virgínia ousou discordar de Ferdinando o que causou a ela um hematoma no rosto e um pulso machucado. Ela disse que se machucou ao cair da escada, mas tenho certeza que não foi isso, ela teria percebido isso antes e não cinco dias depois.
  Me aproximei de Ian e toquei suas costas suavemente.
  Ian se virou e seus olhos encontraram os meus em meio a tantos rostos que o rodeavam, era como se existisse uma ligação, uma comunicação silenciosa que nos aproximava.
  Ian pediu licença e caminhou até mim.
- Oi!-disse ele sem emoção.
- Oi! -respondi igualmente sem emoção.
  As palavras pareciam não surgir, eu não sabia o que lhe dizer e sei que ele também não conseguia pensar em nada para me dizer, mas eu sentia a necessidade dele de se expressar, eram tantas coisas que eu enxergava em seu olhar, tanta mágoa, sofrimento, tristeza, arrependimento e solidão... Eu enxerguei sua alma nesse momento, uma alma muito machucada. Senti o impulso de consolar ele, e não me detive. Eu abracei Ian com toda força que eu pude extrair de mim, eu queria lhe passar segurança e conforto. Foi isso que eu fiz, mesmo contra tudo que eu tinha pensado, contra meus princípios e decisões tomadas eu o perdoei. Perdoei pela sua traição. Mesmo que eu me machuque e esteja enganada, Ian não iria me fazer mal.
  Por mais que meu subconsciente esteja gritando para que eu não faça isso, que eu vou me arrepender depois, eu preciso perdoar Ian, preciso dizer pra ele que o amo. Essa tristeza toda me fez refletir sobre a vida e a morte, refletir sobre o que eu sinto. Eu não suportaria ver Ian em um caixão como seus avós. Eu não saberia viver sem Ian, mesmo que ele não me ame. Não suportaria viver em um mundo que ele não existisse.
  Ian me segurou em seus braços. Seu abraço era apertado e dizia muito mais do que qualquer palavra que pudesse sair de sua boca naquele momento.
- me perdoa! -sussurrou ele em meu ouvido.
- eu já perdoei!-falei com um longo suspiro.
  Ian me deu um beijo na testa e me ofereceu o seu braço, nos guiando de volta pra casa.
  Em casa, todos nos sentamos em silêncio na sala enquanto uma empregada nos servia de chá.
  Meus pensamentos se voltaram para Celine. Ela viajou já faz algum tempo e até hoje não me escreveu. Será que está tudo bem? Será que a tia dela melhou? Quando será seu retorno? Estou sentindo falta de minha amiga.
  Falando em amiga, está na hora de escrever para Blair. Não faz nem tanto tempo que ela se foi e já aconteceram tantas coisas...
  Eu estava tão envolvida com meus pensamentos que notei quase tarde de mais a confusão que havia se formado na sala.
- aqueles velhos já foram tarde!-disse o Senhor Seymour.
- não fale assim deles. Eram meus pais! -respondeu Virgínia irritada.
- aqueles dois não passavam de velhos insuportáveis!
-respeite os mortos Ferdinando! -disse Virgínia alterada.
  Foi tão rápido que mau pude notar.
  O Senhor Seymour proferiu algum insulto religioso, e toda a família era extremamente Católica, isso fez a fúria de Virgínia aumentar ainda mais, o que levou ela a dar um tapa na cara do Senhor Seymour.
  O Senhor Seymour ficou paralisado, mas seu rosto começou a mudar de cor, se tornando um rubro violento.
- não deveria ter feito isso! -disse ele furioso.
  Virgínia parecia chocada com sua atitude e Ian e Dorian se colocaram na frente da mãe, já prevendo a atitude de seu pai.
- Vai se arrepender disso!-disse o Senhor Seymour.
- não, ela não vai. Não ouse tocar em minha mãe, ou vai se arrepender!-disse Dorian.
- Saia da frente seu bêbado inútil! -disse o Senhor Seymour furioso.
- é melhor o Senhor meu pai se retirar. Não vou admitir que faça ameaças a minha mãe e muito menos ofenda àqueles que não estão aqui para se defender! - disse Ian.
- Vai se arrepender disso seu fedelho!
- gente, por favor! -disse Pietra.
  Ninguém deu atenção a ela, e a confusão prosseguiu na mesma intensidade que começou.
- ela é minha esposa! Eu mando nela, e vocês deveriam aprender como se faz!-disse o Senhor Seymour.
- não ouse se aproximar dela!-disse Dorian dando um passo a frente.
- o senhor nunca amais irá tocar uma mulher dessa casa. Não enquanto eu tiver aqui!-disse Ian.
- Gente! -disse Pietra.
- Cala a boca Pietra! -disseram Ian e Dorian juntos.
  Segundos depois Pietra caiu no chão desmaiando aos nossos pés.

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