Outro ataque.

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Natan Kerby

Depois de semanas fugindo dos nazistas, Jonas chegou. As vezes amigável, as vezes nem tanto. Eu? Estava a dias sem comer direito. Mal consegui caminhar, quem dirá acompanhar os passos rápidos do homem tatuado a minha frente. Quando ele partiu para cima da mulher fiquei sem ação. Apenas olhei. Olhei o que fazia. Olhei a força. Olhei a maneira de caçada. Ele é aterrorizante. É doente. Louco. Psicopata.  Assassino. Chutou a porta até quebrar. Enfiou meu rosto contra uma poça de sangue na barriga da mulher. Não sabia o que ele seria capaz de fazer. Estava irritado por minha força em tentar levantar e tirar minha cabeça dali. Irritado e forçava ainda mais. Tive medo. Medo de ter o mesmo fim da mulher. Tive medo e acabei concordando.

Aceitei. Aceitei e fiquei quieto enquanto ele perdia os sentidos deliciando-se de uma pessoa. Uma mulher. Uma mulher de roupa cinza. Roupa cinza e ariana. Uma ariana... Talvez ela seja uma nazista. Isso!! Uma nazista!! 

Jonas foi mandado para afastar os nazistas de mim. Foi mandado pelo ministro. Pelo rei. Pelo presidente. Foi mandado sim. Bateu minha boca contra a costela da mulher. "MORDE!" Ele mandava. Bateu minha boca contra o lugar. Mordi. Mordi para não o deixar com raiva. Mordi a nazista, fiquei um pouco e logo me afastei. Ele perdido na morte. Perdido na morte dela. Tomando seu sangue. Sujando-se dele! Não tive medo. Não tive medo dele, nem quando tentou me morder de novo. Ele foi mandado para me proteger. 

Ouvi um barulho na porta. Jonas também ouviu. Ouviu e olhou. Um médico. Um médico e Jonas sorriu. Sorriu e foi na direção dele. Foi com força e acertou o cara. Bateu seu corpo no dele e o jogou no chão. Acertou uma, duas, tres, quatro...

 Jonas, para!! – Me olhou e ignorou. O cara tá no chão. O rosto machucado. Sangue misturado. Sangue do médico, sangue da mulher. Bateu mais. Bateu e chutou até o cara perder os sentidos. Outro nazista?! Ele foi mandado pelos nazistas! Ariano! 

Jonas está imundo e larga o médico no chão com a cara arrebentada. Largou e me puxou pelo braço. Quase caí. Ele corre rápido demais! Me puxa. Me puxa e eu vou. Estamos longe. Ele considera longe. Parou de correr e riu. Começou a rir muito. Não entendo. Por que está rindo?! 

Quebrei a cara dele. Agora vai ficar com o nariz mais torto que do Erick. – Não entendi. Não entendi, por isso não ri. Ele arqueou a sobrancelha e inclinou o rosto para mim. – É amiguinho do Jatene, por acaso?!

– Quem? – Jatene, sequer sei quem é esse mas ele se irritou. Se irritou de novo! De uma só vez colocou a mão no meu pescoço. 

Seu rosto está imundo de sangue, sua boca com pedaços da carne da mulher. Colocou-me contra a parede. 

 Você bebeu. Bebeu o sangue. Sangue doce de mulher. Cheiro de ferro. Gosto de ferro. – Sorrindo colocou a ponta da língua para fora. Colocou para fora e mordeu a própria língua. Mordeu para sair sangue!! Isso é doentio! Seu olhar está aterrorizante. Lá dentro tem insanidade. Loucura. Uma piscina de escuridão que ele consegue mergulhar e sair vivo.

O gosto do sangue dela ainda estava em mim também. Realmente tem gosto de ferro. Não é doce, mas é instigante. Instigante a forma com que ele me olha. Apavorante. Sorriu com os dentes vermelhos do próprio sangue.  

 Eu posso te fazer gostar. – Coloca a língua ensanguentada para fora e passa sobre meus lábios. Congelei. Congelei completamente ao sentir sua língua depositando sangue em meus lábios. Sangue dele. Senti o gosto. Senti o gosto da sua loucura. Realmente é doce. É doce e quente. Uma loucura doce, quente e com gosto de ferro. Delicioso. Não! Não é delicioso. É sangue. Sangue humano! Não pode ser delicioso. Não pode! Não é?

Ele me solta e volta a me puxar pelo braço. Entramos em uma portinhola. Era pequena. Parecia um tubo de ventilação. Me puxou e nos trancou lá dentro.

– Agora cale a boca. Fique quieto e ele não vai te achar. – Ele. Hitler! O nazista. Não vai me achar. Não vai me tocar. Não vão me levar para Auschwitz. 

 Hitler?! Ele não vai me achar?! – Ele põe a mão na minha boca, apertando com força. Merda! Não consigo respirar! 

– Eu. Mandei. Calar. A. Porra. Da. Boca. – Impõe a centímetros do meu rosto. Impõe e eu fico quieto. Sou solto. Ele me solta e dá as costas, tirando a camisa do hospital. Seu corpo tem muitas marcas. Talvez ele já tenha ido para Auschwitz. Talvez ele tenha ido e fugiu. Pode me ajudar a fugir. Fugir dos malditos nazistas. Ele não é ariano, arianos não marcam o corpo. Seu corpo é muito marcado. 

Island AsylumWhere stories live. Discover now