CAPÍTULO 09 - WAR

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DIA 01

  Já era noite do primeiro dia sem Písidon. As coisas haviam ido bem e tudo estava relativamente calmo do lado de fora. As pessoas entendiam que sem o líder não havia ordem e se aquietaram. Os ciclopes estavam reclusos nas montanhas, ditavam os boatos que haviam corrido para lá pois sem Písidon, todos estavam vulneráveis.
  Lóthus sabia que era medo do que Marcus podia fazer.
  O centauro não demonstrava compaixão por ninguém, às vezes nem mesmo pela ninfa e pelo tritão, seu melhor amigo. Era, muitas vezes, quase incapaz de sentir. Tomava decisões a partir de sua razão, nunca de seu coração.
  Os ciclopes sabiam que com ele no comando por 5 dias poderia ser o fim. O fim deles.
  Adentrando o quarto de Písidon - após passar por centauros que quase tinham de ficar de cabeça baixa para não bater no teto - Lóthus logo sentiu o cheiro forte da maresia que fez seus olhos marejarem. Lentamente, se direcionou à "piscina natural" que ficava no cômodo ao lado e encontrou o futuro casco de Písidon flutuando na água. O casco não tinha nada em seu interior e por esse motivo não parecia nada com Písidon. Ainda.
  Quando a lua chegasse ao seu extremo no céu, as fadas começariam todo o ritual. Colocariam a alma de Písidon ali dentro e começariam o processo da hibernação marinha.
  A costura das pernas era a pior parte da hibernação das sereias e tritões, na opinião da ninfa. Parecia cruel, e lembrara de uma conversa que tivera com Písidon - o mesmo lhe disse que a partir desse momento, eles já podiam sentir tudo.
  Eles sentiam seu casco ser costurado.
  Devia ser a pior sensação do mundo.
  Ao se aproximar de Písidon, lembrou-se dos últimos dias. Do beijo, do carinho, da confidência... Do sexo. A única Ninfa Vermelha sendo apagada pelo Rei dos Mares. É, eles não eram pouca coisa.
  Ao se aproximar do casco, sentiu muito pelo homem que ali ainda estava. Sem a alma de Písidon, era apenas um rapaz. Um rapaz branco dos cabelos tão negros quanto os olhos de sua irmã Lírius, a ninfa negra. Era, de fato, muito forte e bonito. O suficiente para comportar, Písidon, assim esperavam.
  Ao se virar para sair, Lóthus enfiou a cara em um peito um tanto quanto musculoso e cheiroso.
- Deuses! - a ninfa se assustou - Marcus, o que está fazendo aqui?
- Lhe pergunto o mesmo, querida.
  A ninfa olhou para o corpo boiando.
- Vim... Ver quem vai comportar Písidon.
  O suspiro do centauro podia ser ouvido de outros cômodos.
- Pois é. Eu também. Na verdade, estava na esperança de que a alma dele já estivesse ali. Estou perdido sem ele, Lóthus. Lá fora não está a perfeição que parece.
  O longos cabelos vermelhos da ninfa rasparam o peito do centauro na virada de cabeça que a mesma fez para encarar o amigo.
- Como assim?
- Os ciclopes não recuaram por medo. Eles estão na montanha formando um exército. Você tem noção disso? Seu líder acabou de perder a filha, o casco da mesma não aguentou um dia a mais e ela queimou junto a ele. O casco estava fraco e não houve tempo para que a mesma se retirasse dele. Ela... apagou.
- Deuses, eles virão atrás de nós em vingança.
- Oh, isto é um fato. A pergunta que vale nossas almas é: quando?


+


  A lua estava quase em seu ponto mais alto quando Scarlett desistiu de esperar por Zara. A sereia tinha tantas coisas com que se preocupar... Seu líder estava entrando na tal hibernação, afinal. O lado bom era que a mesma durava apenas 2 dias.
  Dois dias sem Zara. Scarlett achava que podia sobreviver.
  Nesse tempo, quem trazia os mantimentos eram as próprias fadas, que chegavam um pouco cansadas da viagem.
  Ao fundo, pôde ouvir Demétrius se aproximando. O agora amigo sentou-se ao seu lado e soltou um longo suspiro.
- O murmúrio das fadas está ficando difícil de ignorar.
- Mas elas não podiam falar... Ou podiam?
- Com o tal Pesídon na tal hibernação, todas estão com medo do que um tal de Marcus irá fazer e se nós dois iremos transar.
- Primeiramente que é Písidon. E segundo que... Marcus é um centauro, se me lembro bem. O segundo no comando. Com o tritão fora de cena, ele é quem comanda. Reza a lenda que ele não se importa com ninguém e toma atitudes drásticas. Elas têm razão em ter medo.
- Olha só, o tempo que você passa acordada com aquela sereia têm lhe feito bem.
   O rosto de Scarlett, já pálido, perdeu a cor completamente.
- O que?
- Ah Scar, me poupe. Não achou que poderia esconder qualquer coisa aqui, não é? As fadas viram e consequentemente eu vi também. É... Zara, não é? A verdade é que estou feliz que você tenha mais alguém. Eu tenho as tinker bell fajutas e você tem a Ariel. Nada mais justo.
  O humor do amigo era algo refrescante para Scarlett, que encostou a cabeça no ombro dele e suspirou.
- Nós não vamos transar, não é mesmo?
- Olha, se você quiser a gente até faz, mas eu não tô afim de ser pai não.
- Ai Demétrius, não! A questão é que nós vamos morrer... Antes ou depois deles. Até por  eles. Nós somos a última esperança, podem nos achar e nos matarem de raiva. Ou sei lá o que.
- Só relaxa. - Demétrius depositou um beijo leve na testa da amiga e se levantou - Não há nada com que se preocupar.
  Scarlett viu o amigo se afastar e entrar na cabana ao horizonte.
  Levantou-se também e começou a andar pela ilha, como fazia sempre. Havia trocado o dia pela noite.
  Não dormiria tão cedo.

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