Capítulo 2 - Murilo

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Os gritos ecoavam na minha cabeça, o nervosismo dava lugar para a animação. O frio na barriga só aumentava, e eu sentia como se tivesse tomado uma injeção de adrenalina. Assim que os holofotes se acenderam, comecei a tocar na guitarra a introdução de Boulevard of Broken Dreams, de uma das nossas bandas favoritas: Green Day.

O calor e a energia do público que pulava e cantava junto comigo era contagiante. Olhei para o lado e vi que Diego sentia o mesmo que eu enquanto tocava o baixo.

As luzes piscavam em diversas cores, seguindo o ritmo da música, e o telão atrás de nós brilhava mostrando animações que completavam a atmosfera do show.

Continuamos tocando e cantando as músicas do nosso repertório até que chegamos na última, Come As You Are, outra das nossas favoritas, do Nirvana. Quando estávamos no meio da música, todos na plateia começaram a gritar Neverland, nome da banda que fazia referência a Peter Pan, já que nenhum de nós queria crescer e ser obrigado a parar de fazer o que gostávamos para seguir alguma outra carreira.

Eu mal podia acreditar que estava ali, em cima de um palco, cantando e tocando guitarra, realizando o sonho que eu tinha desde que me entendia por gente.

Estava tão animado que decidi pular na plateia, para ser carregado como sempre vi em filmes e vídeos famosos. Assim que respirei fundo e pulei senti uma dor lancinante nas costas. Quando abri os olhos vi o teto do meu quarto e percebi que eu estava no chão.

Não queria acreditar que tudo aquilo havia sido apenas um sonho. Mas havia sido mais um sonho para a minha coleção de sonhos que terminavam no chão. Tudo tinha sido tão real, tão palpável. Eu ainda conseguia sentir a pressão da palheta entre os meus dedos enquanto tocava a guitarra. Mas como tudo que é bom acaba, e acaba rápido, lá estava eu, deitado com as costas nuas no chão gelado do meu quarto.

Tentando não me mexer muito, estiquei o braço e alcancei o meu celular em cima da cama. Assim que acendi a tela vi que eu estava atrasado. De novo.

"Merda. Eu não acredito que não ouvi o despertador de novo. " Pensei, dando um pulo do chão e me arrependendo. A dor subiu minha coluna até o pescoço e me fez querer morrer. Respirei fundo porque não tinha mais tempo para perder e corri para o banheiro.

Tomei o banho mais rápido da minha vida e quando parei em frente do espelho vi a minhas olheiras de estimação que me acompanhavam desde o começo do ensino médio. Ter a pele negra deixava elas mais evidentes. Mas eu realmente não tinha tempo para me preocupar com minha aparência. Eu precisava correr para tentar chegar a tempo de fazer o simulado no cursinho. Se eu perdesse o simulado mais uma vez eu não sei o que meus pais fariam.

Algumas pessoas poderiam dizer que ser filho de um advogado e de uma médica tinha suas vantagens, e tinha mesmo, quer dizer, nunca passei necessidade e sempre pude ter tudo o que quisesse. Não quer dizer que sempre tive o que quis. Meu pais sempre me educaram com o necessário, somente o necessário, o extraordinário era demais. Porque diziam que só assim eu daria valor quando conquistasse as coisas. E nesse ponto eles tinham razão. Nunca fui do tipo de esbanjar tudo. Sempre fui muito humilde e estudioso para merecer o que eu queria.

 ¹Meus pais sempre foram viciados em filmes da Disney e eu cresci assistindo com eles.  

Escovei os dentes, terminei de me arrumar, e corri para sair de casa quando, fui parado pela minha mãe.

– Atrasado de novo Murilo?

– Eu não ouvi o celular despertar.

– Eu ouvi.

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⏰ Last updated: Aug 04, 2017 ⏰

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