Capitulo 2

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“Porque eu soube que você era problema quando apareceu. Que vergonha pra mim agora.”- I Knew you were trouble - Taylor Swift 

O relógio marcava exatamente 9:00 horas quando eu atingi o despertador com um tapa. Droga, eu precisava tentar parar de trocar a noite pelo dia, mas seria mais fácil se meus momentos de inspiração pra escrever viessem um pouquinho antes da madrugada, só pra variar um pouco.

Já tinha se passado uma semana exata desde o incidente tenebroso naquele maldito programa de tv do Jota e eu ainda não tinha conseguido esquecer o verdadeiro vexame que passei naquela noite. Por sorte, nada muito pior do que minha vergonha tinha acontecido, já que a emissora, pelo menos aparentemente, não tinha tomado nenhuma providência com relação a minha saída antes da hora combinada. 

O resultado geral de tudo aquilo com as pessoas é que tinha sido o grande problema. Vou falar uma coisa, eu achava de verdade que não era muita gente que passava a madrugada de sexta para sábado assistindo tv (tá, vamos levar em consideração que eu passava, mas achava que era minoria o meu ‘clube das pessoas sem programa para sexta à noite’). As ligações de alguns sites de fofocas e os muitos comentários que ouvi em minhas raras saídas me mostraram que, pra minha infelicidade, esse “Jota no ar” era mesmo bem visto e eu estava um pouquinho mais encrencada do que gostaria.

Depois de tomar um longo banho gelado pra espantar de vez a preguiça, coloquei o primeiro jeans surrado e camisa xadrez que encontrei, já me preparando para minha rotineira descida até a cafeteria que ficava perto de onde morava, na intenção de alimentar o geniozinho escritor dentro de mim com muita cafeína. Era isso ou passar o resto do dia me lamentando pelo insuportável bloqueio que me fazia ter vontade de bater minha cabeça na parede pra tentar ter alguma ideia brilhante na marra.

Enquanto me arrumava, percebi que o apartamento estava vazio. Fazia quase dois anos que eu morava com Nathália - minha melhor amiga - em um apartamento minúsculo em Laranjeiras, no Rio. Era uma coisinha pequena, que mal cabiam nós duas mais nossas coisas, mas que já era um avanço no fator ‘independência’ e ‘se virar sem os pais’. Nathália e eu sempre fomos o extremo oposto uma da outra, mas tínhamos uma coisinha em comum: o amor pela arte. Ela sempre sonhou em ser atriz e vivia procurando testes para papéis pequenos em comerciais e tv, enquanto eu criava as histórias mais malucas. Acho que foi exatamente isso que nos uniu tanto e fez com que nos déssemos tão bem quando nos conhecemos há muito tempo atrás, ainda na época da escola. Nós adorávamos rir juntas da cara que as professoras faziam quando ouviam nossa reposta para a famosa pergunta “O que você quer ser quando crescer?”. 

Quando eu terminava meus rápidos preparativos para sair com um desajeitado coque no cabelo, preso com uma caneta, meu celular tocou. Uma breve olhada na tela me fez concluir rápido que era ela: Nathália.

- Madrugou hoje? Deixa eu adivinhar... Algum teste? - eu dizia com naturalidade depois de atender a ligação.

- Um sensacional dessa vez. Acho até que compensa essa fila gigante que já estou enfrentando há mais de três horas.

- Tenho certeza que vai conseguir. - disse.

- Você tem sempre certeza e eu nunca consigo, suco de cenoura. - ela falou sem um pingo de desânimo na voz. - Não foi por isso que te liguei.

Sim, ‘suco de cenoura’ era meu terrível apelido, criado pela minha querida amiga.

- E posso saber pra quê foi, senhorita?

- Pra te comunicar que hoje à noite nós vamos sair dessa toca pra comemorar.

- Comemorar? - franzi o cenho.

O Agente e EuWhere stories live. Discover now