Capítulo 01: O retorno

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          A madrugada era tranquila e silenciosa, apesar de um pouco frio, o clima estava agradável o bastante para se ter uma boa noite de sono, a única coisa que não estava de acordo era o humor de Dylan. Com uma simples luminária fazendo a precária iluminação da cabine individual do trem onde estava, Dylan fitava a janela como se algo estivesse errado.
          Sua mente estava inquieta demais, imaginava como seria a reação das pessoas ao vê-lo, tantas perguntas se formavam em sua cabeça que era difícil processar todas elas de uma vez. Será que se lembrariam dele? O que deveria dizer quando reencontrasse seus tios? E seus amigos, será que sentiam sua falta ou já haviam se esquecido dele? De qualquer forma, todas as perguntas que fazia pareciam não ter uma resposta, e isso o incomodava de uma maneira inexplicável.
          "O que há comigo? Desde quando eu faço o tipo sentimental?", pensou. Por um breve momento chegou a se convencer de que pensar nessas coisas não era tão ruim quanto imaginava, que era algo natural, devido as circunstâncias em que se encontrava. Mas logo em seguida desistiu da ideia, repetindo sempre a mesma coisa em sua cabeça. "Isso é ridículo".
          Sabia que não mudaria nada permanecer acordado, pensando o quão horrível era a ideia de retornar para a sua cidade natal depois de doze anos fora, mas reclamar e praguejar parecia lhe fazer esquecer um pouco, amenizar a situação, o sentimento de ansiedade que se formava dentro dele. Já era tarde, em breve o trem chegaria na estação e ele teria que desembarcar.
          Apesar de ter reencontrado seu melhor amigo de infância em uma rede social, Dylan estava nervoso por ter que o rever na manhã seguinte. Um pouco antes de embarcar, seu tio havia lhe enviado uma mensagem dizendo que pediu para que Tyler — o inseparável amigo de Dylan — buscá-lo na estação de trem quando ele chegasse.
          Após um longo bocejo e o distante som dos braços estalando ao se espreguiçar, Dylan armou a pequena cama que estava presa à parede da cabine. Se deitou da maneira mais confortável que conseguiu encontrar e jogou uma manta sobre o corpo, fechou os olhos e esperou que o sono viesse. Não demorou muito para vir, mas junto com o sono, também vieram os sonhos.


          Dylan tinha por volta de cinco anos de idade, estava sozinho em um bosque. As árvores enchiam o lugar de vida, algumas pequenas flores estavam espalhadas pelo solo de terra, e a grama baixa e verde dava um tom vivo para o ambiente. Os raios de sol que conseguiam ultrapassar os galhos das árvores faziam uma iluminação no mínimo perfeita para as folhas em tons variados entre rosa e vermelho que caíam de seus galhos.
          O garoto olhava de um lado para o outro, como se procurasse alguma coisa. Parecia impaciente, andava pelos arredores, se sentava no chão, levantava e andava mais uma vez. A única coisa que não conseguia fazer era ficar parado. O som da brisa balançando as árvores era tudo o que se podia ouvir, até que o quase silêncio foi rompido pelo som de um graveto se quebrando:
          — T-Tyler? É você? — Perguntou o pequeno Dylan, com a voz trêmula e uma repentina quietude.
          — Dylaaaan, eu sou o fantasma da floresta! — Uma voz com um tom mais grave visivelmente forçado ecoava entre as árvores. — Vim buscar você!
          — Pare de graça, Tyler! Eu sei que é você — Dylan exclamou, mantendo a voz o mais firme que pôde.
          — Não é o Tyler que está na árvore — a voz fez uma pequena pausa —, quer dizer, o Tyler nem está aqui, eu sou o fantasma e vou te levar.
          — Já mandei você parar com isso, você está começando a me assustar.
          Rompendo o clima tenso que dominava o lugar, uma alta risada esganiçada emergiu de trás de uma das árvores. Dylan teve naquele momento a confirmação de que era Tyler quem estava ali, principalmente depois de o garoto aparecer com as mãos em sua barriga, tentando conter o riso — sem êxito.
          — Você precisava ver a sua cara, Dyl! Pensei que você fosse chorar.
          — Eu sabia que era você, fantasmas não aparecem de dia, seu bobo! — Tentando virar o jogo para si, Dylan respondeu com um tom de deboche.
          — É verdade! — Tyler bufou de frustração. — Mas da próxima vez eu pego você, pode esperar.
          — Esqueça essa bobagem. Você trouxe aquilo?
          — É claro que trouxe, vamos enterrar antes que alguém apareça.


Doce IlusãoWhere stories live. Discover now