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Sinto como se minha pele estivesse queimando quando entro em contato com os raios solares. Ponho o braço direito sobre meus olhos semicerrados.

Sigo-a até uma mesa de concreto sob um pergolado. A vegetação o cobria quase por inteiro e apenas alguns fios de luzes passavam por entre a densa vegetação. Sentada sobre a mesa, ela me observa enquanto a alcanço.

- O que você tava fazendo? – pergunto com o tom da voz elevada antes mesmo de chegar próximo a ela.

- Eu só queria ajudar – ela diz.

- O quê?! – pergunto.

- Ei, calma. – ela diz levantando as mãos com as palmas viradas pra mim. – Sou de boa com isso, cara. Relaxa, sou bi.

- O quê?­ Eu não sou veado!

- Então o que ele é seu?

- É só um... – gaguejo – Só um amigo. E isso não e dá sua conta.

- Desculpa! Ok? Eu só queria ajudar. E nem sei por que esse drama todo já que ele é só seu amigo, e ainda por cima nem te viu!

O silêncio nos visitou por um tempo. Coisas ficaram presas na minha garganta. Queria poder falar que não sou gay, que não estava observando-o, mas sei que justificativa demais ia acabar me denunciando. Em minha cabeça eu procuro formular alguma desculpa convincente, mas não sai nada.

- Então... Porque você tava observando ele? Vocês brigaram? – Ela pergunta, com um tom doce de voz, quebrando o silêncio. 

- Ele era meu melhor amigo... E não quero falar sobre isso.

Quando eu disse "melhor amigo", várias lembranças explodiram instantaneamente na minha cabeça. Lembranças dos nossos poucos minutos de conversa na praça, nossos passeios pelas ruas dos bairros vizinhos ao nosso, as poucas oportunidades que tivemos a sós.... Nós não a usávamos somente para transar. Também jogávamos, ouvíamos músicas e conversávamos, conversávamos bastante. De fato, ele era meu melhor amigo. Apesar do pouco tempo, ele era a única pessoa que realmente me conhecia.

- Que pena.... Mas se vocês se gostam mesmo, – a encaro instintivamente – como amigos – ela corrige, – vocês irão fazer as pazes. E não se preocupa, não irei contar pra ninguém.

- Não tô preocupado – digo com desdém. Minto. - Olha, eu tenho que ir – digo encerrando a conversa e, antes de qualquer reação dela, viro-me e ando para distante dali.

Enquanto me afasto, a porta de vidro se abre e ele sai de cabeça baixa com as mãos nos bolsos da calça jeans. Paro onde estou. Conto seus passos e espero. Três passos depois ele me ver, me encara por dois segundos e caminha em direção oposta à minha. Grito seu nome fazendo-o parar e dou passos largos para alcança-lo. Posso ouvir sua respiração pesada, ele está nervoso. Mexo minhas mãos para toca-lo no ombro e é nesse momento que ele se vira e me encara. Engulo em seco.

- Oi – consigo dizer.

- O que você faz aqui? – Ele questiona.

Não posso contar que tinha ido vê-lo, não quero assusta-lo. Olho para os lados com intenção de fugir do contato visual e vejo a garota, pela minha visão periférica, sentada no mesmo lugar que a deixei segundos antes.

- Vim ver uma amiga – digo apontando com o polegar  e olhando para ela. Ao longe ela acena e ele sorrir com o canto da boca.

- Você nunca falou sobre ela, não sabia que você tinha uma amiga.

- É, eu tenho – digo, e só depois percebo a rispidez em minha voz. 

Merda.

- Que bom. Fico feliz por você.

Silêncio.

- Eai, como você tá? – Pergunto.

- Tudo ótimo e com você?

"Não, sinto sua falta", quero responder, mas sai:

- Tudo ótimo também

- Que bom – ele diz balançando a cabeça. – Preciso ir. Só parei por quinze minutos para um lanche.

Concordo com um aceno de cabeça e o vejo virar para seguir até o quiosque. Num impulso de coragem, pergunto:

- E nós? Estamos bem?

Silêncio.

- Você que escolheu isso – ele responde. Por um instante fico feliz por ele responder sem olhar no meu rosto porque sei que tem uma lagrima escorrendo pela minha bochecha. Ele volta a andar, e em todo o seu trajeto ele não olha para trás nem por um segundo.

Caminho para longe dali. Não me despeço da garota porque eu sei que ela perguntaria se eu estava bem e aquilo me faria chorar, e chorar na frente de estranhos é tudo que eu não quero agora, principalmente depois da sua abordagem, ficaria obvio qual era o motivo.

Quando já estou distante dali, lagrimas escorrem incontrolavelmente pelo o meu rosto. Desejo profundamente que chovesse para que as gotas da chuva encobrissem minhas lagrimas. Sinto o olhar das pessoas na minha nuca quando elas passam por mim. Forço-me a parar, enxugo com o pulso meu rosto molhado, assuo o nariz e continuo andando. De todas as coisas ditas de veado, a única que não me restringi foi chorar.

Não ligo para minha mãe ir me buscar. Decido ir caminhando para casa para poder chegar exausto e dormir. Com sucesso. Assim que entro em casa, desejo "boa noite" e caminho direto para meu quarto.

Sem acender a luz caio em minha cama com a mesma roupa que estava na rua. Sinto o tecido grudado em meu corpo devido ao suor. Não troco de roupa, não tiro os sapatos. Adormeço.

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⏰ Last updated: Jan 16, 2017 ⏰

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Por Dentro do Armário (Romance Gay)Where stories live. Discover now