O ALEMÃOZINHO BARBUDO DO SEXSHOP (Autor Fabrício Viana)

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A Fernanda era uma menina muito talentosa. Ela estava com a gente havia sete ou oito anos, não me lembro. Sua função? Receber textos originais de autores, analisar do ponto de vista literário e, se fossem bons para vender, ela os selecionava para a reunião do conselho. Sim, porque não é qualquer coisa que publicamos. Muitas pessoas acham que uma editora é uma fábrica de desejos e fantasias. Mas eu, que estou nesse ramo há 20 anos, sei que não é. Temos que pagar aluguel do andar, funcionários, contas de água, luz, telefone e internet, fornecedores, gráfica, parceiros comerciais e várias outras coisas. Se um livro não for bom o suficiente para vender muitas cópias, não podemos arriscar. Algumas obras a gente até publica, por sermos uma editora evangélica. Às vezes a fé não escolhe qualidade ou conteúdo, e as pessoas acabam comprando o livro usando apenas o coração. E até para isso a Fernanda tem feeling: para perceber o que pode ser usado e o que deve ser ignorado. E acredite, muita coisa é ignorada. Principalmente aqueles textos de pessoas que vivem dizendo "minha vida daria um livro", só porque passaram por muitas dificuldades e situações complicadas na vida. Não discordo delas. A vida delas daria um livro sim, até uma enciclopédia com infinitos volumes, mas seria algo tão desinteressante no mercado que ninguém compraria. Não é algo que vende, pois a vida de todo mundo é difícil e complicada, e também daria um livro.

O fato é que a Fernanda entrou na empresa bem jovem. Ela foi recomendada por minha esposa quando se conheceram na faculdade de Jornalismo da USP. Porém, eu nunca entendi porque as duas eram tão diferentes. Minha esposa, por exemplo, sempre foi quieta, séria e um pouco tímida. A Fernanda não. Ela é uma pessoa extremamente sociável, tem seu perfil nas redes sociais com muitos contatos e, por ser solteira, sempre fez o maior sucesso com os rapazes. Mas isso não vem ao caso. O que aconteceu naquele mês foi que a Fernanda, muito querida por todos aqui na empresa, fazia aniversário e, para sacaneá-la, decidiram fazer uma "vaquinha" e dar um presente comprado em um sex shop. Um chocolate ou algo assim. Nada muito vulgar. Claro que eu torci o nariz. Ligar sexo à empresa pode gerar processos trabalhistas. Mas a turma que eu mesmo contratei ao longo dos anos era tão descontraída, unida e talentosa, que acabei aceitando. A Tânia, que trabalhava na recepção e ficou responsável pela organização da festa surpresa, colocou em um pote o nome de todos os envolvidos e fez o sorteio para ver quem iria até o sex shop comprar o tal presente. Para felicidade ou infelicidade, eu fui o escolhido!

Visitar um sex shop? Eu? Dono de uma editora evangélica? E se alguém me visse entrando lá? Como ficaria minha reputação? E minha esposa? O que pensaria? Meus dois filhos? Meus vizinhos? Situação bem complicada. E pior, eu nem poderia ir escondido, comprar e sair. Afinal, depois de entregarmos o presente, todos diriam para a Fernanda que eu é que havia comprado, e ela automaticamente contaria para a minha esposa. Mas tudo bem. Aceitei o desafio. Eu tinha sido o "escolhido" e teria mesmo que ir lá. Só que não vou sozinho, pensei rapidamente. Vou chamar o Vagner, o Camilo ou a Claudete. Alguém tem que ir comigo! Sim, isso foi ingenuidade minha! Como a maioria das pessoas aqui na editora também é religiosa, ninguém aceitou. Pois é, a Tânia não fez o sorteio dos nomes por acaso. Talvez, se fosse outra empresa, a ida a um sex shop fosse algo bem mais tranquilo. Mais fácil. Mas aqui é mesmo complicado. E, pensando novamente em algum possível processo trabalhista, achei bom ir sozinho mesmo.

Era uma quinta-feira, e o aniversário da Fernanda seria no dia seguinte. Não dava mais para postergar. Esperei o expediente terminar, entrei no Google Maps pelo computador em minha mesa e digitei o endereço da rua onde eu estava, no centro de São Paulo. Assim que me localizei, pedi para o sistema me mostrar todos os sex shops da região, e anotei aquele que parecia ser o mais próximo do prédio onde eu estava: Rua Amaral Gurgel. Antes, como não gosto de surpresas e nem de me perder quando busco um endereço desconhecido, abri o Street View para ver como era a fachada da loja. A tecnologia é um aliado e tanto nos dias de hoje. E ainda tem gente que não sabe usar.

Ursos Perversos. Contos eróticos gays. (Literatura Erótica)Where stories live. Discover now