Futuro do pretérito

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- Se eu pudesse, salvaria o Brasil do abismo em que se enfiou.

- Você tá achando que é o messias, cara? Se liga, você é só um cara, tudo bem, tem super poderes, mas no fim das contas, conta como um, sacou? Nenhum cara sozinho conseguiu salvar o mundo até hoje, e não acho que você vai conseguir isso.

- O Rock tá certo, Coffeepal - anuiu Timeslip.

- Você tem que enxergar a coisa dum outro ângulo, escolher um outro objetivo. Algo mais fácil, talvez. Algo possível. - sugeriu Sonicstar.

Exceto por Timeslip em seu exoesqueleto, e Rock, pareciam só um grupo de caras normais conversando. Estavam na último andar da torre da Liga, um prédio em Toronto com uma bela vista panorâmica da cidade. Não era um bar, mas eles tinham pedido seis pizzas, mas quatro delas eram apenas para Rock. Ele era um cara enorme, em todos os sentidos. Tinha dois metros de altura, era tão musculoso quanto pançudo. Careca e todo tatuado. Era o herói com a maior força física da Liga. O tipo que conseguia derrubar um prédio.

- Por que você na faz como a Beth? - Sugeriu Sonicstar. Seu nome de heroína era Thudergirl, mas em suas horas vagas trabalhava como voluntária em projetos sociais. - Tem horas que eu acho que ela muda o mundo para melhor mais que todos nós juntos.

- Pois é Coffee - voltou Rock - Tá aí uma boa ideia, cara. Funda uma escola, rede de escolas, ou coisa do tipo lá na tua terra. Você vai detonar, você vai ver. Nós até podemos dar um pulo lá, de preferência na época do carnaval, para aproveitar um pouco e ajudar a arrecadar fundos.

- Ah, vocês podiam me ajudá indo lá e arregaçá com aqueles vagabundos!

Timeslip chacoalhou a cabeça - Coffeebud, você sabe que a LIS não pode se envolver com assuntos políticos das nações.

- É? E o que acabamos de fazer indo na Síria?

- Mas aquilo foi diferente... O genocídio...

- Porra nenhuma! Ontem tava vendo a merda de um jornal brasileiro com os seguintes dados: Morre mais gente por homicídios no Brasil que em países que estão em guerra civil.

- Olha, tem gente pior, Coffeeman - zombou Rock - Mas devo admitir que o pessoal da tua terra está bem fodido e mal pago. Pagam altos impostos, tem serviços públicos de merda, a segurança pública é uma bosta. Tudo por que são todos tão gananciosos que não conseguem parar um pouco para pensar no próximo.

- É, seu merda! - Café partiu para cima de Rock - Até parece que tem um monte de santo na porra do seu país.

- Calma aí, gente! - Sonicstar entrou no meio, mas Rock nem estava ligando para Café.

- Não, deixa quieto, Sony. Ele tá precisando desabafar, não é Coffeeman? Tá certo, no meu país não tem santo, mas pelo menos conseguimos consertar uma rua em um só dia de trabalho.

- Rock, você não está ajudando - acusou Timeslip.

O grandalhão deu com os ombros. - Bem, eu tentei, dei um bom conselho e uma ideia legal, mas a cabeça do Coffee é está fervendo. Hora de servir um café, né mesmo? - deu umas gargalhadas e antes de sair disse. - Boa noite, pessoal!

Café cruzou os braços e travou os dentes, irado.

- As coisas são o que são, Coffeman - disse Sonicstar. - Veja meu país, teve a revolução, decidiu ser comunista. Foi assim, durante anos a fio. Tenho certeza que para muitos, teve o seu lado bom, mas no fim das contas, curvou-se ao capitalismo. Se o seu país estiver querendo experimentar um pouco de comunismo, deixe estar. A história está aí para acontecer. Talvez, daqui uns anos se arrependam. Nenhum país explodiu e seu povo foi extinto por que decidiu ser comunista, certo?

- entendeu tudo errado, Sony. Não é comunismo. É ditadura por demagogia.

O russo deu com os ombros como se desse na mesma. - O problema de seu país não é problema de super-herói, Coffeman. Não adianta você pegar esses lordes do crime. Se a população continuar inconsciente, outros surgirão para ocupar o lugar deles. É um problema cultural, vai levar muito tempo, cara.

Timeslip concordou - Se você fosse um telepata poderoso, quem sabe? Eu já te falei antes, você está iludido.

- Não, estou desiludido. Mas obrigado pelo papo pessoal. Amanhã embarcarei para o Brasil.

- Sério? Vai oficialmente? Não quer uma carona?

- Valeu, Sony. Agora eu voltando de verdade. Num sei o que vou fazê, só sei que tenho que voltá e tentá. Num posso só ficar imaginando.

- Boa sorte, amigo. - disse Timeslip - E não vai morrer de novo, acho que não daria para te resgatar uma segunda vez.

O Homem-Café sorriu. Sentia-se parte daquela equipe, mas seu coração estava no Brasil. Ele tinha o dever de tentar melhorar as coisas para seu povo. Que eles pudessem um dia, talvez, saber como é viver num país civilizado e honesto. Bem, ao menos, a maior parte do tempo...



O Retorno do Homem-CaféOnde as histórias ganham vida. Descobre agora