Capítulo 15

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Capítulo 15

Françoah

-Peguem a capa amarela no meu quarto!

Eu ordenei para as minhas irmãs. Fabíola correu para o meu quarto e veio de volta com a capa amarela em suas mãos.

-Ela está aqui.

Ela disse estendendo a capa em minha direção. Eu segurei-a com muita dificuldade, eu consegui por o corpo de Mina dentro dela. Por último eu cobri a sua cabeça com o capuz. Mirna não tinha aberto os seus olhos em nenhum momento.

Eu ergui acima, carregando-a em meus braços e procurei o caminho que me levava o mais rápido para fora da casa.

-Para onde você está a levando?

A minha irmã Francisca perguntou-me, vindo atrás de nós, ao lado de Fabíola. Elas se abraçaram, pareciam desesperadas com a situação de Mirna.

Mirna poderia morrer.

- Para o alto das montanhas.

Respondi sem olhar para elas. Eu buscava somente chegar o mais rápido possível até o meu cavalo.

Ligeiramente eu coloquei Mirna sentada sobre as costas do meu cavalo e subi o meu animal mais que depressa. O tempo nesse momento não deveria ser desperdiçado.

-O curandeiro Mezek poderá curá-la.

Puxei as rédeas do meu cavalo e ele correu adiante, deixando para trás a minha casa e as minhas irmãs.

A escuridão pela floresta dificultava o meu trajeto em cima do meu cavalo, nós estávamos indo de floresta acima.

Havia várias árvores, vários animais selvagens cruzando o nosso caminho. Cobras peçonhentas, onças, micos, pássaros de várias espécies e muitos outros tipos de animais.

Plantas sarmentosas e trepadeiras impossibilitava a passagem do meu cavalo e eu tinha que cortar algumas delas com a minha faca amolada.

Quase amanhecendo, nós chegamos até uma cabana no alto da montanha. Alguns lobos cinza cercaram o meu cavalo e os seus bramidos alarmaram o dono da propriedade que logo veio fora da cabana, trazendo em mãos um lampião e um facão.

Ele era um velho careca, com as orelhas grandes. As suas roupas eram feitas com um tecido áspero.

-Françoah!

O velho exclamou e abaixou o seu facão.

-Senhor Mezek, eu preciso da sua ajuda.

O velho me guiou para dentro de sua cabana, enquanto eu carregava em meus braços o corpo de Mirna. No alto das montanhas estava muito frio. O velho colocou mais fogo em sua humilde lareira e ordenou que eu colocasse o corpo de Mirna em sua cama.

- O que aconteceu com ela?

Ele questionou examinando o rosto pálido de Mirna, quase escondido pela capa amarela.

Mezek removeu a capa do corpo de Mirna e a colocou pendurada em um prego na parede de madeira.

-As minhas irmãs disseram que ela foi picada por algum inseto.

Logo o curandeiro encontrou a picada no pescoço de Mirna. Ele franziu o seu semblante, achando a picada muito estranha e incomum.

-Ela foi picada por um besouro negro.

Encarou-me.

-Ela poderá não resistir à febre interna.

O velho arregalou os seus olhos quando eu segurei o tecido de sua roupa e o sacudi com desespero.

-Por favor, salve essa pobre jovem! Ela não pode morrer!

O curandeiro removeu as minhas mãos de seu traje humilde, ergueu acima e caminhou para o outro cômodo da casa, dizendo em voz alta.

-Nem tudo está ao meu alcance, meu jovem.

Ele retornou para o quarto, trazendo uma bacia de aço, com água e panos limpos.

-Mas farei o possível para mantê-la com vida.

Mezek molhou o pano dentro da macia com água e começou a esfregar pelo corpo de Mirna. Ela estava queimando em febre. O seu rosto estava vermelho como pimenta madura.

-Ela está pelando!

O velho murmurou e continuou esfregando o pano molhado no corpo da jovem, pelos braços, pescoço, mãos, testa, cabeça...

Durante isso, ele começou a rezar em línguas.

Eu franzi a dianteira, não entendendo nada que ele dizia, enquanto benzia o corpo de Mirna.

Após algumas horas. O galo cantou do lado de fora da casa e Mezek encerrou o seu ritual. Ele ergueu-se acima e pegou a bacia e os panos molhados.

-Devemos deixá-la descansar por algumas horas.

Os meus olhos brilharam com esperança e alívio.

-Ela está fora de perigo?

-Só saberemos quando ela abrir os olhos.

A sua voz estava dura.

-E se ela não abrir os olhos?

Perguntei com receio, caminhando atrás dele pela cabana.

-Ela estará morta.

Ouvindo isso, eu coloquei as mãos na minha cintura e caminhei para fora da cabana. Eu precisava respirar um pouco de ar livre. Eu precisava me desprender daquela imagem horrível, onde eu via somente Mirna adormecida, com uma febre interna cruel.

Eu percebi que ela não merecia morrer, não merecia terminar o seu ciclo de vida tão acelerado.

Ela era jovem e precisava descobrir mais sobre a vida, sobre a sua família, sobre o seu passado.

Sobre as suas paixões.

A sua memória lhe devia isso.

Esfreguei as minhas mãos em meus olhos e suspirei com receio. Eu nunca havia sentindo tanto temor na minha vida, como eu estava sentindo naquele momento.

Na espera de uma notícia agradável, a qual produzisse um fim no sofrimento de Mirna e também no meu.

O feitiço (Lágrima de Princesa,#1) Onde as histórias ganham vida. Descobre agora