Capítulo 7

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Começo a achar que minha decisão de não ter aparecido no apartamento do Cássio, vestida de médica e disponível para outra consulta, foi burrice.

Eu sabia que não era nada sério para ele. O Cássio em momento algum me enganou, mentiu ou iludiu. Eu deveria saber que se não estivesse disponível para os seus caprichos, ele não me procuraria, provavelmente, nem notou minha ausência.

Faz três semanas desde o nosso último encontro, desde a noite que ele falou que precisava de outra consulta médica para poder aceitar minha carona. Nosso único contato é quando estaciono em frente à academia, todos os dias, e o espero chegar. Apenas observo de longe. É o suficiente para o meu coração idiota ficar todo animado para um longo dia de trabalho.

Não é porque sei que um relacionamento entre nós não tem possibilidade de existir, que não continuaria o perseguindo e observando.

Nunca cheguei perto do Keanu Reeves, nem por isso deixo de amá-lo. Nunca tive o Rodrigo Santoro na minha cama, nem por isso deixo de planejar, nos mínimos detalhes, o nosso casamento. Nunca toquei na barriga do Adam Levine, nem por isso não sonho em passar minha língua nas tatuagens do seu abdômen.

— Quem é vivo sempre aparece. –— Meu batimento cardíaco acelera apenas ouvindo a voz dele. — Achei que não estava mais frequentando esse bar.

Depois de todas as segundas-feiras tentando esbarrar nele, ele escolhe, justamente o dia que eu estava quase me convencendo que nunca mais o veria, para aparecer.

— Posso sentar?

Respiro fundo e crio coragem para olhar para o meu lado.

Ele está mais lindo do que meus pensamentos lembravam. O sorriso perfeito ilumina todo o seu rosto, os olhos têm um brilho diferente e o cabelo parece mais bagunçado do que nunca.

Não falo que ele pode sentar, mesmo assim, ele beija minha testa e senta no banco ao meu lado no balcão do bar.

— Hoje vou te acompanhar, vou tomar apenas uma água. Passei para me distrair um pouco, a inauguração da academia está me matando. — Ele pede a água e continua falando como se nada tivesse acontecido e como se eu fosse uma amiga de longa data. — Então, o que tem feito nas últimas três semanas que andava sumida?

Me sinto um pouco menos idiota e patética, ele também está contando as semanas.

— Trabalhando.

— Então somos dois. A inauguração da academia é sábado, estou sem tempo até para respirar. — Fico torcendo para que a parte de estar sem tempo para respirar seja verdade e ele precise de uma respiração boca a boca. — Tenho um compromisso amanhã, preciso dormir cedo. Foi bom te ver.

Ele deixa um beijo na minha bochecha e vai embora.

Quantas palavras eu consegui dizer? Por que nunca consigo falar tudo o que fico imaginando por noites e noites a fio?

Minha vontade é bater minha cabeça na parede até sangrar. Uma pena que tenho o trabalho voluntário no banco de sangue amanhã, não posso desperdiçar sangue O negativo.

Volto para casa e os diálogos enormes, divertidos e carregados de malícia, que um dia pretendo ter com o Cássio, me acompanham até eu dormir.

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.

— Vamos, Becca, estamos atrasados.

Não sei o motivo de eu aceitar a carona do Vladimir até o banco de sangue. Pensando bem, sei sim. Aceitei almoçar com ele como forma de agradecimento por sua sempre fiel ajuda.

Amizade, Amor e Você - DegustaçãoWhere stories live. Discover now